quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

O Natal

Ano passado não consegui passar a data do Natal na casa dos meus pais, com minha família.
A chuva que castigou o Estado deixou muita gente sem moradia, sem como sair de casa, chegar em casa ou voltar pra ela. Eu fui uma delas. Abençoada por não ter sido atingida materialmente ou fisicamente, mas tive meu direito de ir e vir arruinado.
Foi o primeiro Natal que não estive com meus pais e meus irmãos.
A sensação que tive? Não era Natal. Era um feriado, uma data comemorativa menos importante, mas não era O Natal.
Fui acolhida pela família que a vida me deu, que são os amigos.
E por isso, jamais poderei reclamar. São mesmo bênçãos!
Foram muitos convites sinceros e um sentimento indescritível por eles.
É maravilhoso descobrir que se é amado!
Mas só que tem uma Família, que se ajuda o ano inteiro, que se lambe, se abraça, se estapeia e volta a se beijar minutos depois, sabe o valor de estar junto nesta data.
Na minha casa nunca fizemos Ceia.
O almoço do dia 25 que é o momento de reunião ao redor da mesa.
Mas, mais importante que repartir o alimento juntos é agradecer por ele.
Por isso, começamos na véspera, a entrar no clima: rezamos juntos e agradecemos a oportunidade de ter e ser família, que muitos não tem.
Porque Natal é isto: acolher o outro com amor.
Não importa a condição. O Dono da data nasceu pobre, num curral e dormiu num cocho ( sim, porque estrebaria e manjedoura, são respectivamente isso, enfeitados pelo eufemismo) mas acolhido pelos seus, com muito afeto!
Meu desejo de Natal é que todos pudessem ter a família que acolhe e ama, sem distinção, no muito, no pouco, no nada.
Hoje, quando vejo a casa cheia, as conversas e risos ecoando pelos quartos, a mesa completa e a felicidade no meio da gente, fico radiante!
Tem brinquedo espalhado, muita louça suja na pia, colchão pelo chão, mil escovas de dentes na pia do banheiro, malas pelos cantos da casa destoando por completo do senso de limpeza e arrumação que reina o ano todo. E todo mundo está alegre, feliz com a bagunça.
Porque a gente sabe que se um dia não for assim, não será Natal.
Se não houver a reza, a oração, o almoção e todo mundo se apertando no sofá para se presentear, não será Natal.
Pobre de quem não tem uma casa e uma família.
Pois mesmo na pobreza, o Dono da data teve: um lugar entre os seus, uma família e muito amor!
Feliz Nata a todos!
Que Jesus, Maria e José sejam o exemplo de família que devemos imitar: acolhimento contínuo, renúncia de si por um bem maior e aceitação plena do projeto de Deus.


terça-feira, 9 de dezembro de 2014

A mais, a menos.

Engordei 2,5 kg.
Ainda não descobri onde estão distribuídos.
As roupas não contaram o que a balança revelou.
Então, acho que não foi no corpo; foi na alma.
Engordei em paciência.
Menos estresse e mais paz.
Engordei nos pensamentos.
Muitos, tantos, quantos nem sei!
Tanta coisa pesando na cuca, que pudera!
Aumentei o peso das responsabilidades,
das escolhas, da idade.
Engordei toneladas de preguiça!
De sono, de ócio, de bócio!
Aumentei o peso das desculpas
que invento pra mim mesma.
Engordei no chocolate e na endorfina,
que melhora o humor e afina,
não a silhueta, mas a alegria.
Mais quilos e menos medo.
Mais peso e menos pena.
Nem todo ganho é culpa.
Nem todo peso pesa.
Pesou a indiferença e o esquecimento
pra quem já me esqueceu.
Aumentou o peso da angústias, das escolhas...
Como pesam!
Ganhei massa: cerebral.
Ganhei músculos: miocárdio.
A gente apanha mas aprende.
A mais, a menos, no fim das contas,
tanto faz.


sábado, 22 de novembro de 2014

Esmalte vermelho


Escolhi esmalte vermelho.
Foi a opção mais óbvia diante do sangue brotando no canto da unha.
Num momento de descuido, lá se foi um pedaço do dedo, 
pedidos de desculpas sem graça e um sangramento que custou a estancar.
Para não manchar, deixei tudo vermelho: o sangue, a unha e o pensamento.
Vários pedaços de mim são arrancados todos os dias.
Alguns sem intenção, outros premeditadamente.
Há ainda os que nem me dou conta de que foram retirados.
Por indelicadezas, mentiras, falta de bom senso, ousadias ilimitadas, sonhos castrados, 
por falta de afeto, de coragem ou de simpatia alheia, todo dia, um pedaço de mim se vai.
Nem sempre cicatriza fácil.
Nem sempre se estanca com o dedo.
Um comentário truncado, uma recusa, um decline.
Um sarcasmo desnecessário, uma ingratidão.
Tudo tira pedaço.
Nem sempre sangra, mas machuca.
Ultimamente, ando pintando de vermelho.
Para camuflar o estrago.
Enfeitado, brilhante e reluzente como esmalte novo.
Disfarçando todas as imperfeições.

domingo, 9 de novembro de 2014

O menino da varanda

Corre de um lado para outro.
Sacode na mão um brinquedo.
Movimento rápido e repetido.
Ouço seu grito, que se perde no eco da rua.
E alguém o chama, não sei se ouve ou se entende.
Entra rapidamente, e minutos após, de novo está na varanda.
Como um pássaro que voa longe.
Como uma borboleta que sacode ao vento.
Em seu mundo particular, ele mora.
Nem o barulho, nem as distrações são capazes
de trazê-lo ao nosso mundo.
E ele continua na varanda, sozinho,
gritando fininho, numa brincadeira solitária.
Sem alegria nem tristeza, 
sem mudanças significativas.
Ele cresce a olhos vistos.
Pela varando o vejo crescer.


terça-feira, 28 de outubro de 2014

Por favor, um favor?

Por favor, um favor?
Me empresta? Me entrega?
Me leva? Me busca?
Me salva? Me ajuda?
Uma dica? Um favorzinho?
Tô sozinho, me faz companhia?
Vem comigo? Me adianta um?
Dá uma olhadinha? Faz uma receitinha?
Posso levar aí? Tá tarde pra vir?
Me ensina? Faz pra mim?
Dá um desconto? Resume pra gente?
Passa no meu lugar? Escreve aí?
Deposita? Inscreve? Me indica? Me apresenta?
Me arruma? Me assuma?
Os interesses escondidos atrás dos pedidos.
Nada é por nada.
Nunca é por nada.
Não é favor. É barganha.
É a pobreza da troca, o escambo.
Tem sempre um desejo
que se transforma em fumaça.
Passa, assim que é atendido.
Morre depois do interesse perdido.
Pois eu, já não me engano.
Tudo é interesse, faz parte de um plano.
Não acredito mais em ingenuidades.
Depois, vem o esquecimento.
Apenas lamento meu lampejo de bondade.
Porque neste mundo já não creio,
não me convenço, não me despenteio
por simples favores por nada.



domingo, 26 de outubro de 2014

Listas de presentes

Sempre ouvi da minha mãe, desde criança, que era feio pedir presente.
Depois de crescidinha, troquei a palavra "feio" por indelicado, deselegante.
Aprendi que realmente, não se pode exigir qualquer brinde de um convidado,
porque não se sabe de verdade as reais condições financeiras de cada um,
ou até mesmo, se existe, genuinamente, a vontade de presentear alguém.
Então me pergunto: o que seriam estas listas de presentes de casamento virtuais?
Seriam sugestões de presentes?
Preciso seguir as sugestões, independente dos preços, que muitas vezes, estão acima dos valores encontrados em outras lojas, que não estão indicadas nas listas?
Questiono: se não quiser presentear com produtos listados, tenho o direito? Quebro o protocolo?
Quem inventou a moda de "cobrar" presente?
Posso dar o presente que eu quiser?
Quem achou que dar dinheiro é a mesma coisa de dar presente?
Estou aqui queimando os miolos para entender quem inventou essas sandices!
De verdade: quando se convida alguém para uma comemoração deste nível, onde o amor, deveria ser o brilho maior da festa, os presentes ficam (ou deveriam ficar) em segundo plano.
Sou até contra as listas.
Sou pela liberdade de escolhas!
Que cada um presenteie se quiser, com o que desejar.
E se não quiser presentear, será bem vindo à comemoração da mesma forma.
Porque o que vale é o motivo da reunião e não o que se angaria com ela.



FIM





Hoje eu votei.
Obrigatoriamente.
Não escolhi o que deduzi ser o melhor.
Escolhi, entre as opções que me deram, o que eu pensei ser o menos nocivo, o menos pior.
Não tenho esperança de solução milagrosa para o país.
Tampouco, levanto bandeira de partido ou qualquer candidato.
Não me associo a nenhum deles, pois não me representam.
Não creio que o desejo de governar pelo povo seja legítimo.
O que todos querem no fim das contas é o benefício próprio,
o enriquecimento ás custas do povo, o poder.
E quando vejo os eleitores rivalizando entre si por este motivo, de forma irracional,
me entristeço.
E concluo que o problema maior do país é sua população.
Intolerância, ignorância e falta de maturidade para entender as divergências de opinião, incapacidade de compreender a escolha alheia, sem levar para o lado pessoal, sem se ofender, sem agredir o outro.
Quando percebo que a guerra eleitoreira se assemelha á briga entre torcedores fanáticos de futebol (bem conhecidos, diga-se de passagem), que se espancam e se matam só por serem torcedores de lados opostos, percebo que não posso exigir dos governantes, porque o povo que o elege ainda é a tribo de índio que recebeu Cabral.
Não elegi o atual presidente, nem por isso concordei com as vaias que recebeu.
Fui ás ruas, pela minha classe e pelo que achei justo e digno.
Mas nem por isso cobrei dos outros o que acredito que precise partir de mim: educação e respeito.
Nessas eleições, descobri o que anda em falta na vida do brasileiro.
Mesmo que se mude o governo, se a mentalidade da população continuar igual, não vislumbro crescimento nem desenvolvimento para o país.
Infelizmente.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Proibido estacionar

Ontem tive meu carro guinchado.
Estacionei em lugar indevido e em poucos minutos- 5 minutos, na verdade- após o estacionamento o carro foi levado embora.
Não vou discutir aqui o óbvio: estacionar em local indevido é infração que recebe a punição devida, embora tenha sido displicência minha não ter reparado a placa de carga e descarga e não ter sido ação proposital parar em área proibida.
Enfim, descobri que existe sim um máquina de multas e um sistema que ri (gargalha) da cara da gente.
Sistema este feito para absorver do usuário o máximo de dinheiro que puder, em curto espaço de tempo. E não, não tem mesmo função educativa, para que o indivíduo não repita o erro.
Fica sim, um guarda de trânsito a postos, esperando que alguém ocupe a vaga proibida.
O tempo entre o estacionamento e a chamada do reboque é muito curto.
O guarda não tem a menor educação para informar o local do depósito para que o carro seja retirado e nem como isso pode ser feito de forma rápida. O que ele escreveu no papel da infração era ilegível, inteligível e as boas maneiras, se as tem, deixou em casa com certeza.
Começa então a saga para resgatar o automóvel.
Internet: informações falhas a respeito de como ter de volta seu veículo, endereços desatualizados.
Telefone: impossível ser atendido... Inúmeras ligações e nenhum sucesso. O povo é surdo e não escuta telefone ou está no modo mudo e não toca mesmo...
Ciretran: funciona, mas mesmo depois do carro ter sido levado e não estar cadastrado no sistema como veículo apreendido, eles não conseguem fazer a guia de liberação.
O dono do carro precisa ligar, isso mesmo, telefonar para o depósito de veículos (que funciona de 8h ás 20h- o que ninguém também sabe informar) e pedir- isso mesmo- que ele faça a gentileza de cadastrar o veículo no sistema para que o moço do Ciretran emita a liberação.
Quanto mais tempo o carro ficar no depósito, maior o valor da diária. Logo, se a demora em cadastrar o veículo como apreendido for grande, maior o tempo gasto em tentar recuperá-lo e maior o custo.
Depois de cadastrado no sistema, é necessário pagar um boleto com o valor da diária, do reboque (por km percorrido) e do guincho. Não é barato, tem que ser no banco do Estado para que o registro de pagamento seja efetuado na hora. Se for em outro banco, leva 1 hora...
Após pagamento, voltar ao Ciretran com 3 cópias da carteira de habilitação, dos documento do veículo.
A simpatia no atendimento merece comentários á parte... Não quer trabalhar no setor? Pede as contas e vai ser feliz! Distribuir amargura pro mundo não é bacana...
Vi muita gente voltando pra casa sem conseguir resolver seu problema porque faltava uma cópia, um papel, uma assinatura, enfim... burocracia desmedida.
E a forma como tratam as pessoas que tem menos esclarecimento é aviltante...
Senti mistura de vergonha pelo atendente e piedade pelo (mal) atendido.
O depósito fica num reino tão, tão distante, no rancho fundo, bem pra lá do fim do mundo.
Mais um lugar de atendimento ruim (pra variar), depois de longa viagem.
A intenção não é para que o usuário nunca mais cometa a infração.
É para que ele tenha vergonha de morar na cidade, Estado e País onde vive: sistema de informação e trânsito mal estruturado, ultrapassado, que condena quem dele se utiliza.
Se com informação a seu favor já é difícil, imagina então quando não se sabe onde obter as respostas para o passo a passo acima descrito.
Por isso o depósito é um verdadeiro cemitério de carros.
É fácil desistir do resgate, se o carro não valer muito a pena.


sábado, 11 de outubro de 2014

O Médico



O médico é um ser estranho: sempre correndo, dorme pouco, se alimenta quando consegue tempo, está sempre cansado (a maioria), emendando plantões e trabalhos.
Tem família, mas não consegue ficar muito tempo com ela e nem participar ativamente dos eventos que ela (a família) organiza e frequenta.
Mas a escolha foi dele, alguns dirão. Ninguém escolhe ficar longe dos seus, nè? Vamos combinar!
O médico tem amigos. Normalmente, trabalham com ele. Não sobra muito tempo para amizades fora do circuito hospitalar...
Tem sempre mais de um emprego e não é por ganância ou vontade absurda de enriquecer.
Geralmente, os empregos são para pagar as contas - várias- que todos têm e precisam ser quitadas.
A propósito, o médico paga contas. Logo, precisa de salário. Aluguel, condomínio, plano de saúde (sim, ele paga!), água, luz, telefone, prestações, escola de filhos, etc e etc. Contas e contas.
Não, a medicina não é sacerdócio ou doação ilimitada.
Para quem não sabe, o sacerdote (padre ou pastor) também recebe seus honorários.
Ninguém trabalha de graça. Professores, fisioterapeutas, manicures: todos trabalham pelo salário, por mais realização pessoal que a profissão desperte.
E por falar em sacerdócio, alguns pastores e algumas Igrejas detém verdadeiras fortunas. (Embora a Bíblia pregue a modéstia e a simplicidade... Mistério.) Todos recebem: bem ou mal.
O médico dorme. Tem sono como a maioria das pessoas, mas sempre dorme menos do que precisa.
O médico precisa das refeições diárias como o resto das pessoas que compõe a humanidade.
Porém, fazer todas as refeições nos horários determinados é quase loteria.
Algumas pessoas acham absurdo que o médico faça intervalo de almoço, lanche ou jantar durante o expediente. Rola até "barraco".
Mas o advogado, o gari, a faxineira e o porteiro também fazem os horários de intervalos do trabalho para a alimentação. Não compreendo o preconceito...
O médico vai ao banheiro. Números 1 e 2,  como qualquer ser mortal que recebe o chamado da natureza. Embora muita gente se irrite quando isso acontece. Não sei o porquê.
O médico passa a maior parte do tempo resolvendo os problemas de outras pessoas.
Os problemas próprios, não sei quem soluciona.
Até porque, não dá pra fazer as 2 coisas ao mesmo tempo...
O médico dá notícias boas e ruins. Algumas são tão más que estragam o dia de todo mundo - dele e dos pacientes... Dizer que ele foi treinado pra fazer isso só pode ser brincadeira!
Ninguém é treinado para achar a doença e a morte normal, quando se preza e se trata da vida.
O médico adoece. E muitas vezes vai trabalhar doente, porque não consegue alguém para substituí-lo a tempo.
Ás vezes, ele está de atestado. Algumas doenças precisam mesmo de afastamento, até para poupar quem com ele convive no momento da enfermidade...
O médico precisa descansar.
O descanso possibilita melhor concentração e melhor raciocínio.
O piloto de avião também precisa de descanso. E eu teria medo de voar, sabendo que o piloto tivesse passado a noite acordado, por qualquer motivo que fosse. Por analogia, o pensamento deveria ser o mesmo.
O médico sofre as pressões do sistema de saúde (falido), seja ele público e particular, da falta de vagas, de medicamentos e das condições precárias de trabalho. Ar condicionado, poltrona confortável e secretária levando cafezinho é uma realidade de novela.
Se o atendimento demora, se o plano está em carência, se não tem como agendar consulta, marcar o exame ou conseguir a autorização- juro- não é culpa dele.
Falando em novelas, o médico não pode falsificar prontuários, trocar bebês, receber suborno para emitir laudo falso de DNA ou exame de gravidez, nem assediar enfermeiros.
Além de um juramento, existe um Conselho que regulamenta a profissão e investiga e pune o que estiver fora dos propósitos éticos.
Mas como o médico é gente, tipo ser humano mesmo, ele erra.
Às vezes, erra tentando acertar. Outras vezes, erra de propósito.
Até porque, diz o ditado que é humano errar... E se médico é gente, logo...
Há médicos ótimos, de boa índole e caráter ilibado, profissionalmente gabaritado, competente e resolutivo e infelizmente, médicos que não são assim tão bons de caráter, limitados e de difícil trato. Mas até onde sei, há gente de má índole e não tão bem capacitados ocupando cargo na polícia, no senado, nas escolas, na quitanda da esquina, etc e tal. Normal também. Infelizmente não há só santos no mundo... Uma pena!
O médico chora, fica triste, perde a esperança, quer sair correndo e voltar pra casa quando o dia parece não dar muito certo. Ri, conta piada, ouve música, cantarola. Creio que qualquer um tenha assim uns rompantes de agonia, e alegria né?
O médico não deve atender por telefone, meios de comunicação em geral ou através de terceiros. É proibido pelo Conselho.
Sabe aquela "olhadinha"? Chama: atendimento, consulta. Demanda tempo, raciocínio, trabalho.
Do mesmo jeito que não dá pra degustar o cardápio do restaurante sem pagar o prato e não dá pra pedir carona pro taxista e sair do carro sem pagar o trajeto. Funciona da mesma forma.
O motivo do texto é simples, óbvio, ululante: chamar a atenção de muita gente que nunca pensou como a vida do outro funciona.
Com o dia do Médico se aproximando, cheguei á conclusão (triste) que não se tem grandes motivos para comemoração. O respeito para com a profissão e com o profissional andam escassos, falar mal de médico virou rotina e parece mesmo que o médico é o vilão da história.
Amo o que faço, mas confesso que ando descrente de melhora diante do cenário atual: intolerância e desrespeito fazendo a imagem da medicina ser pisoteada dia após dia.
Gostaria de que o pensamento fosse simples assim: empatia.
Haveria mais felicidade para todos se fosse assim.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Outubro Colorido

Começou outubro e decidi vestir rosa, todos os dias.
Mesmo que um detalhe apenas dessa cor, para lembrar da proposta de sensibilizar as pessoas na luta contra o câncer de mama.
Quem já viu de perto a doença ou conviveu com alguém que passou por ela sabe da importância de uma dica, de uma informação que , muitas vezes ajuda na prevenção e no diagnóstico precoce.
Além de fortalecer aqueles que ainda estão lutando pela  vida numa batalha árdua e feroz.
Pois bem. Relembrei mentalmente tudo o que havia de rosa no guarda roupa, pra que ficasse mais fácil na hora de usar: lenços, saias, vestidos, blusas, camisas, sapatos, cintos, brincos, bolsas e sim, descobri em mim uma pantera cor de rosa, uma verdadeira Hello Kitty, uma Barbie.
Mas o tempo virou, a chuva surgiu, o vento ventou.
E na pressa de sair pra trabalhar, na correria de votar, na intenção de fugir do frio e da chuva, o rosa se esvaiu...
Quando me dei conta, já estava de azul, segurando a saia na ventania; de vermelho, que não precisava do ferro de passar; de branco, porque o sapato que poupava os pés não ia "ornar" com outra cor mesmo; cinza com lenço colorido, amarelo, verde... enfim. 
Nenhum rosa rolou em homenagem á campanha de outubro.
E concluí que a vida é assim mesmo, intensa e colorida, cheia de mudanças: de tempo, de clima, de planos, de humor, de trajetórias, de vontades.
E por mais que queiramos tudo cor-de-rosa, não tem jeito... As intercorrências aparecem a trocam as cores: da vida, da alma e dos sentidos.
Restou-me apenas querer ser luz - a reunião de todas as cores- e num abraço colorido, mesmo que virtual, para desejar um outubro doce e rosa, cheio de vida para quem precisa dela e cheia de cores para quem precisa sair da escuridão.


sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Tentando entender

E eu continuo sem entender.
Agora, com menos angústia e sofrimento.
Mas não entendo ainda um tantão de pessoas e acontecimentos.
E ando descobrindo que não compreender sai mais barato.
Já que a conta não fecha mesmo, o menor prejuízo é o que vale.
Nem as escolhas alheias,
nem a falta de informação e de visualização de futuro.
Nem a falta de critério de governo,
nem a falta de vergonha,
nem a covardia das escolhas ou a falta delas.
Quero que a folga de entendimento permaneça ainda um bom tempo.
Não vejo futuro em decifrar tantas complicações...
Sem entender por que o errado é o certo,
por que o certo está sempre no erro,
por que a beleza espanta,
por que a inteligência atrapalha,
por que o caminho tortuoso é o escolhido,
por que a simplicidade é complicada,
por que a saudade dói,
por que minha lógica é ilógica.
Dormir para acordar, trabalhar para não viver.
E nas brechas disso tudo, vai se tentando entender.
Que o tempo, pouco amigo, tampouco ajuda.
Cria rugas, esconde a memória
e já não lembra e não se entende mais nada.


sábado, 13 de setembro de 2014

Fome

E saíram do carro separados.
Ele na frente, já procurando um lugar.
Ela, logo a seguir, arrumando um pouco a roupa amassada durante o trajeto.
Sentaram lado a lado, mas sem qualquer contato.
Não me recordo de sorrisos, conversas ou cumplicidade.
Era um casal de meia idade, aliança entregando a situação civil, que acredito ser de muito tempo.
Fizeram o pedido e comeram.
Sem assunto.
Só o matar da fome.
O resto da coca-cola foi levado embora depois da conta ser paga.
E eu, fiquei ali me questionando se toda convivência deve acabar assim em desgaste, sem um olhar em direção ao outro.
E concluí que tenho muitas outras fomes nesta vida.
Encher a barriga não me basta.
Preciso ter os olhos, ouvidos e todos os sentidos, plenos e

saciados.






Na boa




Na boa: nem tô fazendo questão.
Nem de companhia, nem de notícias, nem de novidades, se a vida vai bem, se simplesmente não vai.
Não quero saber se os negócios prosperam, se os projetos deram certo, se deram com os burros n'água, se faltou água, coragem ou grana... faço questão alguma.
De coração: não é por vingança, mágoa ou chateação.
É por desinteresse mesmo.
A ignorância , ás vezes, faz bem.
Não saber protege do pior.
E assim mesmo, sem ressentimentos, não quero ouvir conversas, tampouco aceitar convites ou fazê-los.
Não me preocupo se há saúde, tédio ou saudade.
Se ganhou peso, se fez dieta, se a pessoa está mais ou menos esbelta.
Faço questão nenhuma.
Na boa: tem gente que faz parte de um passado.
Longínquo, distante, pisado.
Não faz sentido permanecer no presente.
Tampouco embotar o futuro.
Se há no mundo algo que faça sentido é o tempo:
afasta, apaga, leva para o esquecimento.
Tudo aquilo que não sobrevive ao tempo, não merece sobreviver.
De boa, ando tranquila com todas essas distâncias.
Descobri que quando não faz falta, não tem importância.
E não se exige de alguém aquilo que não se pode oferecer.
Cada um dá o que tem de sobra.
E tem gente nessa vida que só tem as sobras para viver.

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Em tudo dai graças

"Em tudo dai graças".
Juro que tento, mas nem sempre consigo.
Ainda é difícil agradecer pela adversidade.
Reluto em aceitar a tragédia como caminho de purificação.
Não sei se consigo compreender os motivos dos desfechos ruins.
E muitas vezes me questiono se há justiça.
Na maioria das vezes, penso que não há.
Tento, na fé, superar o desânimo, esquecer a indignação.
Mas fraquejo.
E confesso que sinto um nó na garganta quando tento agradecer pelo desastre.
A voz não sai, a palavra não se solta...
Preciso aprender.
Ter mais fé, resignação e confiança.
Ver além, enxergar por outro prisma.
Ainda não sei.
E choro por não saber.
Mas espero que Deus, na sua infinita bondade tenha misericórdia de mim,
que não consigo entender seus desígnios, tampouco aceitar a dor.
Espero conseguir enxergar  luz na desgraça
e agradecer também pelo o que fizer sofrer.


domingo, 17 de agosto de 2014

Sobre meninos, tigres, aviões, guerras e outras tantas coisas mais.


Crio então mentalmente a cena:
Mamãe olhando para mim, com jeito de reprovação, cara de brava, semblante mais fechado que temporal se aproximando no céu.
Eu? Com muito mais medo dela do que do tigre, me afastaria, sem pestanejar da grade e voltaria para o meu lugar, sem sequer ousar abrir a boca para contestar.
E terminaria assim minha visita ao zoológico.
Minimamente, levaria uma bronca. Na pior hipótese, um beliscão escondido na costela, que só eu, Deus e ela saberíamos. E tudo se resolveria assim.
Espanta é saber que o controle de um filho com o olhar já não funcione mais.
Que a autoridade paterna ou materna seja apenas figurativa.
E que a culpa por uma sucessão de erros, que insistem em chamar de fatalidade, ainda seja distribuída entre o tigre e o zoológico.
O medo e o respeito que sempre tive pela minha mãe, por meu pai e por tantas outras pessoas e situações semelhantes com as quais me deparei, hoje sei, foram necessários para me manter viva.
E alerta. Não tem jeito: é a guerra pela sobrevivência e nem sempre a luta é a melhor estratégia.
E por falar em guerra, travamos uma pela vida: que vírus monstruoso é este que se espalha pela África trazendo pânico e terror? Ás vezes me pergunto se a pobreza extrema já não seria castigo suficiente...
Mas para piorar o que já é ruim, existe sim vírus mais macabro: aquele que transforma o homem em lobo de si mesmo. A matemática perde o sentido contabilizando quantos civis perdem a vida numa guerra insana ( toda ela é!) por um pedaço de chão, uma ideia de nação. Quem não valoriza seu povo, suas crianças, não pode nunca ser valorizado como nação... Foi mal Israel. A ética não permite a etiqueta. Que palestinos e israelenses encontrem na religião a paz que o mundo tanto precisa... Guerra já temos o suficiente.
E por fim, nunca assisti a tantas quedas e desastres aéreos com neste ano... Medo!
Avião que some, que é abatido (oi?), que despenca do nada do céu, que mata um, dois, dez, milhares.
Pensando cá com meus botões: quantos sonhos desfeitos, quantas famílias esfaceladas...
Fico imaginando se deu tempo de um último pensamento, de um oração derradeira ou um breve agradecimento. Ou se todos que se foram de repente, nem se deram conta de que partiram...
Só sei que o céu está cheio. Muitos sendo chamados para a habitação celestial. Alguns personagens ilustres terrenos, outros desconhecidos guerreiros...
E para quem fica neste plano sobram as reflexões.
Não sei se as pessoas se dão conta de que num segundo tudo muda: uma pessoa já não existe, um avião inteiro já não existe, um braço se foi, uma vida se vai.
Não sei se vale o esforço de tanto projeto,  de tanta luta e privação, se não sabemos se estremos vivos para saborear a colheita que guardamos com tanto apreço no celeiro.
Dá medo não saber sobre qual assunto será a nova notícia e de que forma ela afeta o caminho que a gente desenha.
Decidi então, ir mais devagar. Não quero não me dar conta do dia, da semana, do mês, do ano e descobrir, por engano, que tudo já passou, que não deu tempo de curtir como eu queria, que não consegui aproveitar como gostaria...
Não sei se ebola, avião, guerra ou tigre. Ninguém sabe onde a vida da gente muda de caminho.



quarta-feira, 23 de julho de 2014

Arrastão

E nos últimos dias o mundo ficou mais triste, menos poético e mais ignorante...
Não sei o motivo das perdas. 
Se o céu precisava de mais lirismo, de mais espontaneidade, de mais brilho...
Realmente, não sei.
Só sei que o povo aqui na terra ficou mais apagado.
Um breu só, sobrando ignorância e despreparo, 
excedendo em indelicadezas com a língua portuguesa.
Daí me questiono: com tanta maldade merecendo castigo, 
tanta gente má precisando de cartão vermelho, 
por que pessoas boas levadas assim, de arrastão?
Então, percebo que todos que se foram gozavam da serenidade da senilidade.
Tiveram o tempo necessário para espalhar muita mudança boa
pelos caminhos percorridos em tantos anos vividos.
Se somarmos as idades, mais de século de literatura e conhecimento.
Tiveram tempo para fazer valer todo o empenho de um vida inteira.
Resta então, para quem por aqui fica, a lembrança e o exemplo de tão nobres figuras:
João, Rubem e Suassuna.
O consolo de obras belas que poderão ser lidas e relidas.



domingo, 6 de julho de 2014

Despreocupações

Não estou preocupada se o piso foge ou se o chão se abre.
Nem ensaio rugas se a seleção ganha ou perde, 
se o craque joga ou escorrega, 
se fratura a vértebra ou meus ouvidos com tanta notícia má...
Não me interessa se é folga ou dia normal. 
Afinal, dias são dias.
Não são essas preocupações que me afligem.
Ainda obedeço alguns prazos, porque não posso me desvencilhar deles.
Mas não mais me castigo em cumprí-los honrosamente, com tanto afinco como antes.
Descobri que tudo continua igual, independente dos resultados conseguidos.
As contas continuam chegando, as cobranças, da mesma forma.
E a gente continua precisando do trabalho e do pão diário, faça chuva ou sol.
Não me intriga se hoje fico em casa tecendo fios ou se ponho a cara na janela para ver o mundo, porque, no fundo, ele continua girando para o mesmo lado e sentido, 
e ás vezes, não faz sentido algum correr atrás do vento...
Não sei se a obra começa, se permanece estagnada, se a hora adiantada me faz morrer de sono. 
Estou absorvendo, sem pressa, a onda do momento, que é deixar o curso da vida seguir,
Que os passarinhos cantem, que as manhãs recomecem, que os dias prossigam.
Que os planos sejam necessários, mas sejam só planos.
Que haja mais afeto e pronto.
Não me interessa se a cor não está boa, 
se a roupa destoa, 
se cabelo despenteia, 
se ando bonita ou feia, 
se sorrio mais ou menos, 
se penso em demasia 
ou se chego a conclusões vazias sobre estórias que eu inventei.
Não me importa a nota que me deram, se foi dez ou zero, se agradei ou não.
Estou vivendo e é o que conta.
Quero acertar o tom que a voz conseguir chegar. E só!
A preocupação de achar, de encontrar, de buscar respostas, hoje já não me incomoda.
Não se encontra o que não se perdeu.
E não se perde o que não se tem.





sábado, 28 de junho de 2014

Pernas pro ar

O mundo anda de pernas para o ar.
E eu, procuro me segurar em algum lugar.
Porque penso que em algum momento todas as convicções se perdem,
todos os pudores morrem, todas as verdades se transformam em mentiras.
Vale mesmo o vinho, que transforma as pessoas e seus sonhos.
Quero mesmo é dizer que não vou morder as pessoas.
Que acredito que a palavra basta.
Que os desejos sinceros se realizam á medida que a vontade permanece.
E eu permaneço.
Inteira, invicta, acreditando que mesmo com tudo fora de lugar, em algum momento as coisas se ajeitam.
Abraço sincero, para os juízes de plantão.
Julgar é tarefa difícil.
Prefiro me abster.
O mundo continua de pernas para o ar e eu tenho muito medo de que o chão não volte para os meus pés.
Mães que detestam filhos, filhos que matam pais, governo que comete homicídio.


Todo dia nasce nova notícia.
Espero que tudo seja apaziguado.
Ando com medo das novidades que virão.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

11/06/14

Estar desacompanhado amanhã não é uma tragédia.
Não creio que seja decepcionante estar sozinho.
Pior é manter relações de aparência, amparadas em comodidade, 

pelo simples fato de não suportar a solidão.
E quando digo solidão, falo daquela que temos o tempo todo: a de convivermos com nós mesmos.
Só aceita o outro, quem antes se aceita: entende as próprias fraquezas, perdoa os defeitos que percebe em si e enxerga que, dentro das limitações que se tem, pode encontrar conforto na própria companhia.
Só ama o outro quem primeiro se ama.
Só vale o encontro com o outro se antes alguém já se encontrou.
Há tanta gente perdida na vida, sem saber o que procura que, nunca vai achar o que nem sabe que perdeu.
Muitos engatam uma história na outra apenas para não se sentir sozinho.
Outros procuram incessantemente uma pessoa perfeita, que não existe, e vão, de relação em relação, provando e dispensando o que não se encaixa na idealização.
Há quem ainda viva com medo de encontrar no outro a perdição. Porque amar é se perder.
Não é uma tragédia estar só quando se tem o coração cheio, repleto de boas amizades, de pessoas queridas, de recordações agradáveis e planos e sonhos bonitos.
Tristeza é ser ou estar vazio.
A companhia só conta mesmo quando vem com cumplicidade, entendimento, interação de olhares e projetos, temperados com aquele friozinho na barriga e uma palpitação do bem. 
Se assim não for, mesmo acompanhado pode-se sim estar só.
E vazio.


terça-feira, 3 de junho de 2014

Pizza, coca-cola e bolo de chocolate.

E o dia foi cheio.
Cheio de atendimentos.
Lotado de trabalho.
Cheio de gente simples.
Repleto de pessoas legais.
Cheio de agradecimentos sinceros,
de explicações simples,
de despedidas aliviadas.
Um cansaço honesto.
E para coroar a terça cheia,
recebo em casa pessoas queridas com pizza,
coca-cola e bolo de chocolate.
Alegria, descontração e saudade,
trazendo leveza pra minha noite.
E concluo então, que as coisas boas são assim:
disfarçadas de delícias, escondidas nas motivações sem motivo,
sem cobranças, sem prazos; um conforto de abraço,
de uma conversa animada cheia de pessoas alegres
que compartilham alegria, pizza com coca-cola e bolo de chocolate.


domingo, 1 de junho de 2014

Hoje

Há tempos não via um domingo tão bonito!
Céu azul, quase sem nuvens, temperatura agradável, sol brilhando.
Vi gente curtindo a folga, se divertindo de bicicleta, passeando com amigos, almoçando em família.
Parecia um dia de férias com programação pronta.
Aproveitei então a beleza do dia e agradeci a dádiva de estar viva para vê-lo.
Muitos não tiveram a chance de hoje.
Esqueci que amanhã começa tudo outra vez, que a rotina ás vezes nos massacra e que temos que aceitar certas condições para alcançar, mais adiante, o que se almeja.
Confiei que tudo vai dar certo e agradeci tudo o que teve êxito ou fracassou.
Faz parte subidas e descidas: nenhum caminho é plano.
Então, deixei que o dia lindo fizesse a parte dele: espantasse a preguiça, despistasse as tristezas.
Respirei bem fundo, enchi o peito de coragem e aceitei o presente.
Nem sempre a gente consegue percebê-lo.


sábado, 17 de maio de 2014

Alforria

Eu me dou o direito de ficar na cama mais tempo, curtindo preguiça, quando posso.
Também me permito momentos de total desconexão com o mundo.
Deixo para amanhã o que não tenho vontade de fazer hoje.
Faço agora o que não quero esperar para fazer amanhã.
Peço desculpas, sem vergonha, quando percebo a falta que cometi.
Não tenho problemas em me arrepender.
Mas também não vejo motivo de me desculpar quando sei que a culpa não me pertence.
Acho que posso sim ficar chateada com algumas pessoas e esperar meu coração me dizer quando devo voltar ás boas... Ele sempre volta.
Não aceito o convite se o humor não tiver legal.
Recuso com delicadeza quando percebo que não seria boa companhia.
Acredito que ninguém seja obrigado a encarar caretas de descontentamento por obrigação...
Eu me deixo chorar por raiva, por alegria, por tristeza, por nada.
Tudo que pede liberdade pra fluir eu deixo voar: a voz, o abraço, o beijo, a palavra, a emoção.
Eu me permito gritar na raiva, vez ou outra, porque acredito que extravasar é necessário.
Aceito minhas dúvidas, mudanças de ideia, de planos, de rotas, de alternativas...
Nada é definitivo nesta vida.
Procuro ser o mais realista possível: viver de sonhos causa muita dor!
Mas um pouquinho de esperança adocica os dias!
Fica amargo não ter expectativas pro que virá.
Eu me permito ser chata, mal humorada e emburrada, vez ou outra.
Quem não tem dias ruins?
Eu deixo a vida ir seguindo, levando devagar...
Sem pressa de resultados, mas com fome de respostas... Vai entender?
Mas não adianta cobrar.
Se a gente não se liberta de algumas cobranças, quem poderá nos livrar?



quarta-feira, 14 de maio de 2014

Reflexão da quarta


O desânimo de hoje resulta da falta de esperança.
De não ter perspectiva de melhora, de não conseguir enxergar diferente adiante.
É ouvir que a cárie do dente é por causa do antibiótico, da reposição de ferro,
quando, na verdade, a escova de dentes nunca fez parte da vida de qualquer pessoa da família... muito menos a visita ao dentista.
Entender que o "ibupofreno" o "paracetanol" dado ao guri significa completa falta de leitura e interesse pelo que está escrito na receita. E nas linhas da vida.
Assistir parasitose intestinal tomando conta das pessoas, hábitos primordiais de higiene sendo esquecidos.
Perceber que os filhos justificam os auxílios, todas as "bolsas" possíveis...
É não conseguir explicar a importância de uma alimentação saudável porque quem lhe ouve não lhe escuta.
É uma incrível surdez para tudo o que dá trabalho, para o que exige esforço.
É ouvir que não levou para ser atendido antes pois não tinha o dinheiro da passagem.
Que se não conseguir gratuitamente a medicação no posto, fica sem, pois não tem grana pra comprar.
É perceber que a grande massa acha que gastar com remédio e assistência médica é desperdício, embora sempre haja unhas feitas, celular com internet, ipad, iphone, escova progressiva mantendo o cabelo esticado  e TV de led em casa pra assistir os jogos da copa.
Minha falta de fé nas pessoas cresce vertiginosamente...
Quando vejo que os bons modos e a educação estão ultrapassados, fora de moda.
Que a cada criança examinada fico mais próximo dos índios que nunca viram a civilização.
Que querer orientar é ser chata.
Que explicar não interessa, entender não faz falta e prevenção então, nem tem razão de existir!
Quando ouço que falta remédio, leito, respirador, sonda, mas principalmente, vontade política de usar o dinheiro de forma certa.
Ás vezes penso que minha função perdeu o sentido.
Não sei de que lado estou nessa batalha.
Então, tenho vontade de juntar minhas coisas, recolher minhas percepções e partir.


domingo, 11 de maio de 2014

Filha da mãe

Aprendi com minha mãe os primeiros passos, as primeiras palavras e o senso de direção.
Mesmo que não se tenha certeza do destino, seguir em frente sempre foi a palavra de ordem.
Minha mãe me ensinou  cantar, obedecer,  não desanimar e  ter responsabilidade com os compromissos firmados.
Prometeu? Tem que cumprir, tem que honrar.
Ensinou que era preciso cuidar (minimamente) de uma casa, pois por mais que não fosse meu objetivo de vida gerenciar uma. Motivo? Para saber mandar, antes é preciso saber fazer.
Aprendi a ser determinada e ir até o fim. A necessidade de conclusão sempre foi cobrança dela.
Acho que aprendi e deu certo.
Aprendi que mentir é feio, que não sou todo mundo, que não importa o que os outros acham e pensam de mim. O que importa é o que eu sei ( e ela sabe)  a meu respeito. E só.
Ensinou o valor de uma casa limpa e o prazer d e viver na organização.
Ensinou os primeiros passos na cozinha... Bem, esses eu aprendi pouco. Mas sei que a herança da boa culinária está perdida em algum gen com penetrância pobre e se eu treinar bastante, hei de ser tão boa quanto ela!
Aprendi a bordar, tentei (com galhardia) costurar como ela e ter sua criatividade e diligência. Não foi por falta de exemplo se não deu certo, mãe...
Aprendi com minha mãe que não se responde mal aos mais velhos, que se respeita as leis, que se devolve troco errado, que a violência não vence e que fazer as pazes é sempre o desfecho ideal de qualquer desentendimento.
Minha mãe me ensinou que a família é nosso esteio e que não há fruto sem que antes haja uma raiz.
Que ninguém é perfeito, mas que serei cobrada pela perfeição.
Que ela me ensinava com amor, mas o mundo ensina na dor.
Que nunca haverá alguém à altura dos filhos dela, que eles sempre serão mais inteligentes, bonitos e educados que os filhos do resto do mundo! (Compartilho a opinião!)
Aprendi que "quem tem um, tem nenhum! "
Que "pé de galinha não mata pinto!"
Que "quem sai aos seus não degenera!"
Que bronca não tira pedaço, embora possa doer bastante.
Que apanhar faz parte da vida.
Que vara de goiaba, de manga e cajá podem ser armas perigosas nas mãos de alguém irado!
Aprendi como se sente uma barata frente a uma chinelada, as outras finalidades de um cinto e que a mão que afaga também atinge com força. Só dar bobeira pra saber!
Minha mãe me ensinou que uma pessoa sem fé é uma pessoa sem chão: não permanece em pé.
Ensinou a rezar e agradecer por todas as bênçãos e adversidades que surgem.
Aprendi com ela que prece de mãe chega mais rápido aos ouvidos de Deus e soa como ordem nos ouvidos do Filho. 
Mamãe me ensinou a aceitar as diferenças com respeito, que preconceito na minha casa não existe e que o alimento é sagrado. Sempre!
Hoje sei que sou agraciada! Quem poderia no mundo ter uma pessoa com tanto a ensinar de bom assim na vida?
Amo ser filha dessa mãe. Nossas divergências terminam onde o amor nos aproxima.




terça-feira, 6 de maio de 2014

Hoje?

Hoje?
Levantei antes do sol e até pensei que já era inverno.
Estava enganada.
Fui iludida também por uma noite de sono mal realizada 
e acordei com as olheiras da humanidade toda concentrada na minha face.
Cheguei cedo, tomei café de novo. Porque a fome não respeita as horas.
Descobri que amanhã ou depois o tempo muda, fica frio e chove.
Muitos sibilos me contaram ao pé do ouvido isto hoje.
Tirei pedra do nariz, tratei caroço, pereba, garganta, ouvido, tombo...
Só faltou espinha na garganta e espinhela caída.
Ouvi muitos "obrigadas", muitos "fique com Deus" de uma sinceridade única, que soaram sinos ao meu redor.
Ouvi também um tanto de gente querendo me ensinar a trabalhar.
Para esses, fechei olhos, ouvidos, mente, corpo e alma...
Vai que um defeito desses pega na gente?
Engoli poeira, respirei pó, tive o cabelo endurecido por pó.
Perguntei a mesma coisa várias vezes, repeti a mesma frase infinitamente.
Escutei as mesmas respostas. Nada brilhantes.
Vim de volta engolindo o mundo nos bocejos, 
querendo ser engolida pelo sono e tentando não sucumbir ao cansaço.
O computador, que de vésperas, sempre causa surpresas, deixou sua marca.
E para quem queria apenas uma revisão do conteúdo de amanhã, encarar uma aula inteira pra ser feita não foi um belo presente de fim de dia...
Hoje?
Quero apenas o esquecimento das mazelas que ainda ecoam na memória e assombram meus pensamentos.
Rezando para que maio seja de fato um mês abençoado, me coroando com um pedido que refaço todas as noites: levar para longe, bem longe, tudo o que gera tristeza e dor.
Que a cama me receba de braços abertos, generosa no conforto.
A semana ainda tem muito o que me mostrar.
Hoje? Já deu por hoje.


domingo, 4 de maio de 2014

Um dia após o outro



E nada como um dia após o outro.
Se ontem foi de lágrimas, o hoje é de sorrisos.
Se ontem foi dia de tristeza e reflexões amargas, hoje deixei a amargura lá atrás e despertei.
Porque o dia chama e o  trabalho faz a vida seguir.
Há quem de mim amanhã precise: para dar um passo mais a frente, para um abraço sincero, para uma conversa sem rumo, para uma prece em silêncio.
Sem entender, vou repetindo frases, fases,dias, momentos, minutos.
Faço algo por instinto, intuição.
Outras vezes por castigo e autoflagelo.
Mas sei que preciso de uma dose de realidade dura para entender que para o que não tem mais jeito, o jeito já está dado...
Por isso o sofrimento me molda.
Hoje, mais forte que ontem. E amanhã, mais que hoje.
Acho que no fim, só extravasei o que estava sobrando: emoção a mais guardada, sobra!
A solidão, que ás vezes apavora, também dá a dose de compreensão necessária.
Amigos me revigoram, sorrisos me tratam, o sono me estabiliza, a tranquilidade me condiciona.
Desculpas para o que prometi e ontem não cumpri, envolvida com a elaboração de sentimentos intensos.
Hoje ponho em ordem o que a vida vai me cobrar com juros.
Perdão para a falta de atenção comigo mesma: por vezes me ignoro, me boicoto e me escravizo.
Hoje faço esta reconciliação.
A oração me cura.

Conversa comigo

Confesso: existe um tanto grande de incompreensões em relação á vida, de minha parte.
Na maioria das vezes, respondo a mim mesma: "calma, que em breve vai entender..."
Nem sempre o entendimento vem.
Ou mesmo tenho a capacidade de alcançá-lo.
A leitura, pode ser difícil e conseguir entender os desvios, atalhos e percalços torna-se tarefa árdua.
Mas continuo dizendo a mim mesma: " calma, mais tarde as coisas se ajeitam..."
Mesmo sabendo que nem tudo vai se ajeitar, porque infelizmente, nem tudo tem mesmo jeito.
Então, procuro, na imaginação, um sentido hipotético que me satisfaça.
Respondo para mim mesma as dúvidas que tenho e as perguntas que eu mesma formulo.
Faço várias conjecturas e especulo os motivos de falhas e acertos...
Algumas vezes, as explicações forjadas me acalentam e consigo, resignada, aceitar um plano que não deu certo, um encontro desencontrado ou o trabalho perdido.
Noutras, como hoje,  refaço mil vezes a mesma pergunta e por mais que a criatividade seja imensa na hipótese de respostas, chego a lugar nenhum.
Ainda não sei porque algumas pessoas passam pela vida da gente, trazendo um turbilhão de sentimentos, que nem sempre são bons... 
Não entendo o motivo de mentiras e hipocrisia, se é tão mais fácil dizer a verdade.
Não sei por que a carga é tão pesada para uns e tão leve para outros. Merecimento? Castigo?
Será que é para que tenhamos autocontrole? 
Será para descobrirmos que não somos assim tão bons quanto pensávamos? 
Por que esta ideia de injustiça me persegue o pensamento e procura, a todo custo, uma forma de pagamento da falta?
Por que tanta luta  de alguns por nada? 
Para quê tanto empenho por tão pouco?
Hoje estou assim, nesta conversa íntima comigo mesma, esmiuçando todos os contextos.
Se não encontrar as respostas, ao menos coloquei a conversa em dia e me conforto: "calma, no fim, tudo dá certo..."


domingo, 20 de abril de 2014

Pequenos prazeres

Vez ou outra me permito.
Admito que, ás vezes, com uma frequência acima da média.
Mas é porque acredito que são os pequenos prazeres que fazem a vida da gente melhor!
Por isso, faço sem culpa alguma, e usufruo com calma e sem qualquer pudor daquilo que acalenta a alma e transforma a gente em criança de novo...
Exemplos?
Um banho demorado e bem quente, num dia frio,com direito a escrever nos vidros e espelhos do banheiro.
Passar algumas horinhas fazendo nada: olhando pro teto, pensando na vida ou com os pezinhos pra cima, jogando conversa fora...
Comer com a mão e lamber os dedos no fim...Um a um!
Raspar a panela: do recheio do bolo, da massa crua antes de assar, da lata de leite condensado...
Passar o dia de pijama, com direito a brigar com o pente...
Divertir-me com jogos e aplicativos no celular.
Pedalar sem pressa, com o vento no rosto.
Chupar manga com a cara toda...
Comer chocolate sem limites, com gosto e felicidades infantis!
Comer só o miolo do pão.
Cochilo depois do almoço.
Arrebentar as bolinhas do plástico bolha na frente da TV.
Ler revistas de fofocas no salão enquanto aguarda-se a vez.
Ver a tempestade da janela ou varanda, sem pressa nem medo.
Não ter hora de voltar de qualquer lugar!
Ficar em silêncio quando e por quanto tempo quiser.
Cantar com o som bem alto!
Dançar na frente do espelho!
Dormir lendo um livro ou rezando.
Elogiar com sinceridade.
Abraçar apertado e com vontade!
Libertar quem quer partir.
Ligar pra quem se tem saudade.
Pretendo me permitir mais vezes pequenos prazeres!
Ando merecendo.





domingo, 13 de abril de 2014

Mundo injusto

Esclarecimentos, por favor!
Alguém esclareça tanta doença em gente tão boa e honesta?
Explicações que me façam entender tanto sofrimento em um só ser...
Tentando, na base da fé, compreender.
Mas a dificuldade prevalece.
Nada, a meu ver, esclarece e justifica o motivo de tanta dor...
Assistindo a vida se prolongando por si mesma.
Vendo pessoas presas em seus corpos com a alma encarcerada.
Gente solta no mundo com a alma enredada em tropeços e quedas;
Gente com a vida inteira pela frente, sendo amarrada por nós invisíveis da doença...
Por mais que eu tente entender, não consigo.
E me flagro, brigando comigo mesma: uma parte de mim indignada e
outra buscando alento, conforto, consolo...
Tentando compreender tanto pranto, tanta lágrima.
Tanta gente que cruza o caminho da gente por nada.
Tanta falta de lógica, de motivo, de explicação...
Tanto empenho por tão pouco.
Mundo injusto.
Só tenho isso a dizer.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Ufa!

Hoje, todo o  mundo a minha volta não queria respirar.
E quem perdeu o fôlego fui eu...
Perdi também a hora, o almoço e a esperança.
Quando nada se modifica apesar da necessidade urgente de mudanças
o coração sofre...
O cansaço foi então multiplicado.
O corpo reclamou, a cabeça pendeu, o pensamento dormiu.
Engoli com pressa as desculpas.
Expliquei com calma as dúvidas.
Vi melhoras, pioras, angústias.
Me vi, de repente, no espelho,
como vi de repente o dia inteiro.
E assim, de repente, anoiteceu.
E amanhã, nem sei o que me espera.
Se tudo voltar a respirar, já será um tanto bom.
E eu, se respeitar a mim mesma, cerro agora mesmo os olhos.
E deixo pra amanhã o que nem sei que será.


terça-feira, 8 de abril de 2014

Dia de recusas

Não quero saber se é cedo ou tarde.
Tampouco se vai dar tempo.
Quero mais é que o tempo viaje.
Vá para bem longe, carregue consigo todas as neuroses...
Não quero saber se deu certo ou errado.
Não quero notícias, nem comentários.
Não quero saber de preocupações, de problemas.
Quero mais é que tudo adormeça...
Que tudo no mundo se esqueça de lembrar de mim por aqui.
Não quero saber de saúde nem de doença.
Não quero me aborrecer!
Não quero pensar na injustiça desta vida.
Porque me transformo no que não devo e nem posso ser...
Não quero desculpas, nem segunda chance.
Não quero lembranças, nem memórias.
Não quero histórias tristes, nem alegres.
Não quero contas que não sejam minhas.
Não quero discussões, nem brigas.
Quero saídas para me esconder.
Não quero saber de sucesso ou fracasso.
Opiniões ou conclusões do que faço.
Não quero água, não quero mágoa.
Hoje eu só quero o nada!
Dia de recusas.
Obrigada!


terça-feira, 1 de abril de 2014

Ai, que mentira!




Sempre ouvi dizer que a mentira tem perna curta.
Nunca entendi o porquê.
Se a mentira tem perna é curta, significa que anda pouco.
Mas, até onde sei, a mentira corre veloz. Muito veloz!
Então, teria que ter perna longa!

Creio que a frase correta seja: a mentira tem vida curta.
Mas sei de gente que conviveu com ela por anos, sem desconfiar  da verdade oculta.
Será o mentiroso um artista em enganar?

Dizem que a mentira é cabeluda.
Pobrezinha! Que mal há em se ter cabelos?
Se a mentira é cabeluda, pelo menos se penteia,
pois mostra-se sempre apresentável quando ousa aparecer...

Há mentiras deslavadas, descaradas, descabidas.
Há mentirinha - que signifique tamanho pequeno,
mentirinha que signifique brincadeira, mentira que seja nome de alimento...
Há quem não goste de mentiras, mas há sim, mentiras para todos os gostos...

A mentira faz o nariz crescer.
Pinóquio que o diga!
Mas sinto dizer que é mais uma inverdade.
Conheço muito mentiroso com nariz bem pequenino.
E gente nariguda muito honesta por sinal.

Falam ainda que o dia da mentira é o dia dos tolos.
Tolo mesmo é quem acredita nas mentiras.
Quem as inventa, geralmente, é muito, muito esperto...

Dizem ainda que a mentira é má.
Mas a verdade é muito mais cruel!
A ilusão da mentira é doce.
E a verdade, muitas veze,s é só amargura.

Há mentiras que se tornam verdades.
E verdades que se transformam em mentiras.
Não é a assim a roda da vida?
Qual a mentira que nisso há?

Já dizia Quintana que "a mentira é uma verdade que esqueceu de acontecer".
E Machado de Assis, disse que é "muita vez tão involuntária como a respiração".
Pois a mentira também é, meu amigo, fonte de inspiração.

domingo, 30 de março de 2014

Subindo o morro

Subi o morro para agradecer.
Tenho sido protegida de catástrofes diárias, 
escoltada por anjos eficientes chamados amigos
 e ficado imune a muita conversa improdutiva...
Vejo todos os dias a vida se passando ( ou se perdendo) em macas,
os dias não mais sendo contados,
muito conformismo por falta de esperança e a pior miséria que existe: a de sentimentos.
Estar perto e distante de tudo isso me faz ser grata.
Minhas reclamações são ínfimas e meu desconforto, mínimo.
Ainda descrente no mundo, incrédula na boa fé humana,
mas inteira na possibilidade de poder agradecer o presente.
Lendo de trás pra frente meu próprio livro e tentando entender as narrativas,
principalmente as negativas e as expectativas que ainda posso ter.
Crendo que ainda faço diferença,
que minha educação ainda recompensa, 
que meus olhos podem enxergar por quem não vê,
ler por quem não sabe ou ainda não aprendeu.
Subi o morro para me perdoar.
Só tem o perdão do outro quem antes se perdoa.
E me recolhi a minha insignificância e reconheci que errei.
Uma, duas, três, dez vezes. Um milhão.
Coração arrependido.
Subi o morro para pedir consolo, conforto e alento pra quem ficou.
Pedi paz pra quem descansou.
Pois o sofrimento é anti humanidade.
E a morte, ás vezes, é o fim de um sofrimento.
Lidar com ela é difícil e doloroso.
Por isso, calei, não chorei.
Saber perder também faz parte do jogo.
Subi o morro e pedi  para aprender a perder e a ganhar...
Sem humilhação nem soberba.
Pedi justiça, que me canso de olhar este mundo arrevezado...
Pedi justiça porque meu senso do que é justo também pode estar errado...
Subi o morro a rezar.
Por que a oração eleva o espírito e, lá em cima, mais perto do céu,
penso que posso voar.




domingo, 23 de março de 2014

Aos meus amigos

Revi amigos queridos.
E percebi como sou agraciada pela presença de pessoas tão bacanas,
 marcando momentos tão importantes no decorrer dos últimos anos.
Gente que não vejo todo dia, mas que ao encontrar, parece morar no mesmo prédio, dividir a mesma rua.
Abraços sinceros recheados de afeto verdadeiro.
E assim, vejo como é bom perceber reciprocidade pelo carinho oferecido.
Como é gratificante dar de si o melhor pelo outro, de forma honesta, e receber gratuitamente toda a atenção dispensada.
Meus amigos não são muitos.
Tenho fama de séria e antipática e por isso muita gente não se aproxima.
Mas quem ousou a aproximação nunca se arrependeu.
E os que persistem continuam comigo.
E são lindos! Todos eles.
Feliz em dividir com eles as alegrias e festejar as conquistas.
Mas presente também nas adversidades, porque me afeta também o infortúnio que os acomete.
Não sei ser metade. Nem ter sentimentos mais ou menos.
E sou grata por esta minha plenitude!
A hipocrisia e falsidade não me pertencem.
E divido com eles minha espontaneidade, minhas caretas sinceras, os comentários esdrúxulos e meu humor ácido e irônico.
Aos meus amigos queridos, todos, que sabem quem são, que encontro eventualmente, que converso todos os dias, que falo de quando em vez, que peço favores malucos, que combino programas que não acontecem, meu agradecimento pelo espacinho cativo no peito.
A cada um de vocês oferto o que de melhor em mim houver. Sempre!


segunda-feira, 10 de março de 2014

A nova eu

A nova eu surgiu este ano, mas não sei bem quando, nem porquê.
Só sei que quando percebi ela já estava ali, instalada.
Retrucando todas as perguntas, indagando todas as respostas.
Não tenho ideia de como se deu o fato.
Quando vejo ela já respondeu, já brigou e arrumou confusão.
Não sei se isso é bom, mas ela me alivia.
O que eu normalmente não faria, ela faz.
Põe pra fora as angústia, despeja as palavras...
Exortação, exorcismo.
De onde vem?
O que busca?
Quanto tempo dura?
Sobrevive a quem?
A nova eu é uma incógnita: misto de TPM e tropa de elite.
Um esforço que sai da garganta e grita pro mundo:
eu me incomodo, eu me canso, eu me chateio e não preciso esconder isto de ninguém.
Um ser maldoso que eu nem sabia que morava em mim.
A nova eu se irrita fácil, chora pouco e quando chora, rompe em prantos.
Fala alto e firme e rápido e numa sequência quase decorada.
A nova eu espanta o mundo.
Tem gente me olhando diferente.
Não tenho culpa.
Acho que ela foi a parte de mim boicotada por tantos e tantos anos que resolveu ressuscitar.




domingo, 9 de março de 2014

Mulher macho




No dia da Mulher eu quiser ser homem. 
Sim, quis de verdade!
Sempre invejei a possibilidade de fazer xixi em pé e a comodidade de fazer uma coisa só por vez.
Neste dia então, mais ainda, desejei ardentemente a displicência masculina  e a arte inconfundível de nunca encontrar o que se procura...
Quis não precisar depilar a cada 15 dias e ser livre!
Não ter que me preocupar se a unha está feita, não ter que escolher ou combinar cor de esmalte,  não ser obrigada a ir ao salão e esperar sentada a vez de gastar tempo e dinheiro pra ficar enfeitada pro resto do mundo.
Sim, eu quis ser homem!
E descobri em mim um desejo louco em desprezar o salto alto e mergulhar de cabeça no mundo da descombinação: sapato sem meia, xadrez com estampado e a liberdade infinda de todas as ocasiões chamada chinelo.
Descobri um lado masculino querendo ter 50% da prole sem ter 100% dela no ventre.
Quis não ter cólica, menstruação ou TPM e suas preocupações conjugadas.
Nada de sutiã apertando nem calcinhas especiais que não marcam a roupa.
Nada de lingerie combinando, celulite, estrias, gordura localizada e afins. Não mais!
Sonhei com a ideia de ficar pronta pra sair de casa em 5 minutos, mesmo se o evento fosse a ida ao boteco, um casamento ou um baile de formatura.
Queria que minha maior preocupação fosse o nó da gravata!
Pisar no ralo e cuspir no chão! Por que não?
Quis ser homem sim, confesso, e flagrei-me feliz com a ideia de lavar o cabelo com sabonete na falta de xampu, sem me questionar se ia ou não danificar os fios...
Feliz em calçar um tênis qualquer se não encontrasse o sapato.
Quis sentar sem me preocupar com modos; 
estufar o peito e partir pra briga; 
fazer um gol e partir pro abraço!
Quis ter sido menino e jogado bola, soltado pipa, peão, brincado de vídeo game, me estrupiado em lutinhas...
Mas desperto do devaneio: o fecho do sutiã pinica e o aro  incomoda. 
Volto ao meu mundo cor-de-rosa-cinza-escuro de dar conta de mil coisas ao mesmo tempo.
Conserto a roupa íntima, disfarçadamente, arrumo o cabelo e caio na realidade do universo feminino: 
beleza, força e simpatia; eficiência, elegância  e inteligência; pontualidade, assertividade, perfume, drama, choro e estresse, um pouco de blush e batom vermelho de arremate, queridos, porque sem um pouquinho de glamour a gente não dá conta do recado!

quinta-feira, 6 de março de 2014

Que tipo de cristão é você?




A quaresma é o período do ano Litúrgico que precede a Páscoa, sendo celebrada por algumas igrejas cristãs, como a Católica, a Ortodoxa, Anglicana e a Luterana.
Compreende um período de quarenta dias, cujo objetivo é a preparação do espírito para a celebração da ressurreição de Cristo através de jejum, abstinência, caridade e orações.
Existe muita história explicando o sentido dos quarenta dias, com passagens bíblicas significativas mencionando esse número, dentre elas, o tempo de viagem do povo judeu do Egito até a Terra Prometida (quarenta anos); após o dilúvio, leva cerca de quarenta dias para que seja de novo tocada a terra firme; durante quarenta dias e quarenta noites Jesus faz seu retiro no deserto e, após ressuscitado, permanece também quarenta dias entre os discípulos antes de ascender ao céu.
Há muitos significados, mas o mais importante mesmo é o que determinamos de mudanças em nossas vidas neste período.
Questiono como posso viver o real sentido de conversão se não modifico minhas ações e condutas.
Questiono como posso ser cristão numa época tão conturbada, cheia de desvios e opções mais fáceis?
Que tipo de cristão eu sou nos dias de hoje?
Como posso ser cristão quando esqueço a caridade e o bem pelo próximo?
Que tipo de cristão sou eu se elevo a voz e parto pro confronto sem ao menos tentar o diálogo?
Se prefiro a rudez do silêncio em vez da amabilidade das palavras certas?
Se prefiro a mentira em vez da verdade, se a omissão é frequente e se o engano é usual?
Como posso ser cristão se não falo com meu irmão ou se cortei relações com meus pais?
Como ir á igreja e fazer as preces se discuto e brigo por comida com quem convive comigo?
Se o dinheiro comanda meus dias e se faço do lucro e do status a razão da minha existência?
Como orar se não sei sorrir com vontade, elogiar com sinceridade ou abraçar sem medo de demonstrar sentimento?
Que tipo de cristão eu sou se cobiço o bem  do outro, se invejo a posição alheia e se resmungo do trabalho que provê o meu sustento?
Que tipo de cristão eu sou se não perdoo a ofensa, se não estendo a mão a quem errou, se não permito uma nova chance, um recomeço ou uma mudança?
Que luz eu pretendo ser num período de trevas, do hedonismo sem limites, de falta de fé e de valores?
Não pretendo catequizar ninguém. Tampouco convencer alguém de algo.
Penso que a fé não se explica, se vive e sente. E eu me orgulho da minha.
Pois é ela quem me fortalece e me mantém em pé.
Quero apenas ser um cristão que faz a diferença: seja arrancando um sorriso numa brincadeira leve, num abraço sincero, levando minha religião no bolso e no peito, sem vergonha do que vivo.
Quero me transformar numa pessoa melhor usando o período de penitência e oração para refletir sobre meus erros e como acertá-los.
E você? Que tipo de cristão que ser?