domingo, 25 de abril de 2010

Terapia

Isto aqui é melhor que qualquer tratamento.
Mais barato que a consulta e que a loja feminina.
O tempo, administro da forma como quiser.
Não preciso agendar data nem hora.
Não precisa de recibo.
Não vai pra declaração também.
Não me desloco, nem uso automóvel, não tenho gastos com combustível, não me estresso com o flanelinha.
Não preciso procurar meu tamanho, nem definir a cor...
Não aperta o pé, nem fica largo na cintura!
Continuo contando segredos e analisando a vida, de perto e de longe.
Mas de um jeito muito mais tranquilo.
Melhor terapia não há.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Sinal

Quero uma chave para abrir o cadeado.
Romper com os grilhões que aprisionam.
O coração triturado na máquina de moer carne.
As costelas quebradas pelo forte pisão.
Fraturado por dentro, sorrindo por fora.
E agora?
Onde está o sinal pedido?
Onde está o tempo perdido?
Onde eu me deixei e me esqueci de me buscar?
Onde está a resposta?
Qual a contra-proposta?
Quem preparou a armadilha?
Quem fechou a saída?
Quem me trancou aí dentro?
Onde deixei meu silêncio?
Cadê minha voz pra gritar?
Onde enterrei o passado?
Quero muito abrir meu presente.
O futuro? Ainda é ausente.
Por favor, um pequeno sinal.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Fim de semana inventado

Para mim, a semana termina hoje.
Amanhã e depois já e fim de semana.
Trabalhei em dois dias o suficiente que se cansa em uma semana inteira, repleta de atividades.
E depois do fim de semana criado por mim, haverá apenas mais um dia de trabalho, que se converterá em meio, e depois, outro fim de semana me espera.
Determinei que este mês a "planta gigante" não me vê.
Mês que vem penso no assunto, com carinho e muita, muita ponderação.
Pessoas me deixam cansada.
E me obrigam a inventar um fim de semana no meio da semana pra me restaurar.
Só com um bom alongamento é que pude garantir a semana de dois dias.
Porque se não fosse esticada á força, estaria enovelada no sofá, escondida do mundo, fingindo fazer parte da mobília...
Ainda tenho encontro marcado com o Leão...
Descanso trabalhoso e empobrecedor!

sábado, 17 de abril de 2010

Palpitações

Acordo assustada com o chamado.
Imagino que queira conversar.
Não consigo compreender o que tenta me dizer, mas escuto silenciosamente.
Conto, analiso e o sono vai me chamando novamente.
Já não o ouço mais.
O barulho vai sumindo lentamente.
Outra vez, me convida durante o dia.
Páro o que faço e percebo: é ele mesmo, buscando atenção.
Às vezes me preocupo. N'outras, acho graça.
Se é o preço que pago para me sentir feliz, estou custeando o fato.
Por enquanto, sem questionamentos.
Pode ser imaginação minha também.
Afinal, os números não apontam irregularidades. Por isso, me acalmo.
Estou viva! È o que importa.
Ele chama por alguns nomes, quando no silêncio estamos a conversar.
Já disse para ter paciência: o tempo resolve as questões.
Geralmente, com melhorias importantes.
Estamos aguardando.
Cautelosamente.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Feliz aniversário II

Lembro-me da nossa infância: do balanço de metal vermelho - pintado de azul depois que você nasceu - que a gente transformava em coletivo ou em vagão de estrada de ferro... E passava horas viajando, sem sair do lugar.
O varal, no meio do quintal, que virava a rede das nossas partidas de vôlei; a bicicleta vermelha, bem pequena, que a gente fazia de táxi; nossas partidas de futebol no terreiro, de bolinha de gude na varanda, nossa competição de natação com as minhocas de goiaba no tanque...
Lembro-me ainda de você querendo ensinar o Ken a lutar artes marciais a qualquer custo e eu querendo casar minhas chuquinhas com os seus bonecos do Comando em Ação... Lembra de como a gente transformava o sofá em automóvel, usando o pino de boliche como marcha e o descanso de panela como volante?
Parece que foi ontem!
A gente sempre se divertiu juntos e, desde cedo, percebi que você era ótima companhia.
Sorte minha! Aproveitei a infância, a adolescência e ainda usurpo a vida adulta.
Agora, são as tardes no sofá rindo e vendo tv. Ou então, comendo pipoca e assistindo aos filmes- que nunca quero ver, mas que me deixo convencer de que valem a pena.
Insiste em achar que é a "ovelha negra" da família, quando na verdade é um dócil cordeiro, ariano teimoso, de muitos rompantes.
Menino de alma nobre e coração bondoso: bom filho, aluno inteligente, amigo engraçado, tio divertido, ótimo irmão.
Às vezes, precisa de um incentivo inicial pra vencer a inércia. Mas depois do movimento acontecendo, segue seu ritmo, assume seu curso.
Sempre talentoso e criativo.
Em breve vai receber a recompensa pelo seu trabalho.
Precisa apenas de espaço pra se mostrar grande como é de verdade.
Vai, meu irmão! Voa longe!
Você pode mais do que imagina!
Vai, meu irmãozinho!
O mundo espera por você.

domingo, 11 de abril de 2010

Sobre a maternidade

Acho que maternidade é vocação.
Muitas mulheres podem ter filhos, mas nem todas têm vocação para ser mãe.
Pensava assim antes de conviver com o mundo de mães e filhos que a pediatria me obriga.
E depois dessa convivência forçada certifiquei-me que a impressão era verdadeira.
Não sei qual o gene da vocação, mas tenho certeza de que ele existe.
Ou então, foi modificado por alguma mutação no decorrer da vida de algumas mulheres.
Exposição solar prolongada? Consumo de carnes defumadas? Exposição a agentes deletérios como famílias destroçadas, instabilidade conjugal, insatisfação sexual?
Não sei respoder. Mas sei que alguma coisa acontece. E a vocação vai pro lixo.
Ou se nasce sem ela. O gene foi deletado! Nunca existiu. Nunca existirá.
Pôr uma criança no mundo não é deixar que o próprio mundo a crie.
A frase que diz que "os filhos são pro mundo" é antiga, mas em nenhum momento se entendeu que pai e mãe não vão zelar pela educação de seus filhos.
Dizer que não tem paciência, que se irrita facilmente e desiste é muito pouco frente a escolha de erguer alguém e prepará-lo para a vida.
È pouco empenho pra uma escolha tão nobre.
Mesmo que não se tenha noção dessa escolha e dessa riqueza a princípio.
Escolher a maternidade é estar aberta a renúncias: de si, dos antigos hábitos, dos maus exemplos.
È vestir uma roupa nova, que inclui capa de super-poderes, pra enfrentar o mundo e garantir que um indivíduo saudável, humano e justo possa caminhar por aí com suas próprias pernas, mostrando que é realmente bom por onde andar.
È escolher sempre o bem, mesmo que cause dor e dúvidas.
Não sou mãe. Mas sou filha. E esta experiência de binômio mãe-filho eu sei enxergar, pelo menos de um dos lados.
O outro ângulo de visão eu adquiri observando as muitas mães e seus filhos que já passaram por mim.
Inegavelmente, este é o melhor aprendizado de todos: a observação sem preocupação de julgamento ou condenação, apenas percebendo a natureza humana nas suas infinitas formas de manifestação.
È estranho tentar explicar uma relação tão íntima e tão complexa.
Vejo como minha mãe e minha irmã se transformam quando ocupam o posto de mãe apenas. Acho que elas têm dupla personalidade: de mulher e de mãe. Distintas e por isso, assustadoras.
Classifico-as como parte do grupo que possui vocação.
Sei que a proximidade me faz ser suspeita para emitir opinião, mas acredito também que, como acompanho de perto, posso fazer as mesmas observações da natureza humana com possibilidade de detalhes.
Mães de vocação esquecem de si pelos filhos quando isso é necessário, ou então, mudam completamente horários, gestos, frases, hábitos e atitudes se assim for o melhor a ser feito.
Oferecem o colo, mas também mostram a vara. E castigam.
Ensinam o que acreditam ser o correto, mesmo que os exemplos do mundo e da sociedade apresentem o contrário.
Choram com a tristeza de seus filhos e se alegram com suas vitórias e escolhas, mesmo que não concordem com elas.
Acho que pude compreender o sentido de maternidade e vocação com mais clareza quando vi uma mãe lutar por seu filho, mesmo ele sendo portador de uma doença grave que inexoravelmente o levaria a morte.
Ela tinha outros filhos, todos saudáveis. Mas ficava ao lado daquele que não tinha chances.
Podia ter deixado a doença seguir seu curso e se conformar com a possibilidade de poder acompanhar o crescimento das outras crianças.
Ela preferiu cuidar daquela que não ia viver.
Nunca vou me esquecer do choro e do abraço demorado daquela mãe com o filho morto nos braços.
Ela o queria vivo, como fosse. Com imperfeições, com poucas chances, mas vivo.
Concordou com todos os recursos plausíveis utilizados para o tratamento e em nenhum momento demonstrou desânimo.
Abatida, é verdade; mas perseverando.
Demonstrou sua vocação para a maternidade durante o pouco tempo que lhe foi possível, porém de forma plena.
Para uma mãe de vocação, não há distinção entre os filhos.
Para ela, ele era único.

sábado, 10 de abril de 2010

Interrogatório do Pepê

O que é isto?
È de quem?
Faz o quê?
Qual a cor?
O que ele tá fazendo?
Onde você foi?
Você vai onde?
Quem tá telefonando?
Quem tá chegando?
Está faltando alguma coisa?
Você tem um dinheirinho?
Guarda onde?
Conta uma història?
Cadê minha revistinha?
Pôe uma música?
Vamos desenhar?
Faz um boi?
Desenha uma vaquinha?
Cadê meu estojo?
Tem caneta?
Me dá um papel?
Cadê o P de Pedro?
Mostra o B de Bruna?
Tem suco?
È de goiaba?
Vai passar o quê?
O que tá começando?
Gol de quem?
Qual é seu time?
Ai, meu Deus do céu!
Vamos dar um passeio?
Vamos andar de bicicleta?
Cadê sua bolsa?
Vou montar no Ventania.
Cadê o Sereno?
Onde está o "conecto"?
Vamos ver o Chico Bento e a Rosinha no "pitador"?
Cadê seu dodói?
Você foi trabalhar?
Na sua escola tem brinquedo?
Não sei.
Deixa eu pensar...
È este mesmo!
O que você tem?
Na-na-ni-na!
È você!
Bom-dia, todo dia!
Vai com Deus!
Fica mais!

Cada pergunta seguida de uma resposta, que é seguida de nova pergunta e de nova resposta...
Tem apenas 2 anos e milhões de questionamentos.
Nem um segundo passa sem que perceba qualquer novidade.
E lá vem outra pergunta!
E ainda é só o começo...
Frases prontas, automáticas.
Surpreendentes e inusitadas.
E lá vem outra resposta atravessada!
Acabo cedendo ao riso.
Como não ceder?

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Estive pensando...

Deve ser vício.
Se me aproximo fico em êxtase, entro em alfa.
O dia muda a cor. È uma alegria inexplicável que me invade e me preenche de euforia.
È verdade: fico eufórica, radiante, luminosa.
Mas a abstinência me escraviza... Escapo de mim mesma.
Talvez seja doença: crônica, incurável e de difícil controle.
Por mais que se tente dominá-la, ás vezes foge do curso.
E perde o caminho da saúde de vez.
Pode ser um pesadelo também.
Desses que a gente tenta inutilmente acordar, mas não consegue.
Não se descobre se está dormindo ou acordado.
Se o sonho foi verdade ou foi imginado.
Sonhos vívidos, quase assombros.
Deve ser feitiçaria.
Por mais que eu tente me afastar do perigo, não consigo me manter distante.
Estou sendo levada pra perto do abismo de novo e outra vez me praparo para o mergulho no escuro.
Devo ser doida.
Ninguém em sã consciência se aproxima do seu predador se não tem defesas contra ele.
Ninguém guarda a faca ao lado do peito se o impulso de morte existe.
Ninguém dá a chave da cadeia pro prisioneiro, nem deixa o segredo do cofre ser descoberto.
Tento, em vão, explicações pro que a razão desconhece.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Hoje

Impressiona-me como a mudança acontece rápido.
O tempo voa ligeiro e quando se vê já passou a mês inteiro, não é mais fevereiro, o ano está no meio e estamos nos preparando para as festas outra vez.
Há quase um mês estava morta: cansada, aprisionada e cativa.
Percebo nitidamente a diferença: ando viva, quase vôo, tenho de novo brilho nos olhos, já não me lamento mais.
Por quanto tempo dura a mudança?
Não sei. Ela é tão ligeira que não ouso determinar permanência.
A essência da gente é a mesma. Essa não muda jamais.
Somos fruto do meio e eu, filha do meio, mais que todos reconheço a opressão.
Falta ainda um pequeno detalhe para que o vôo seja mais alto, mais pleno.
Não preciso de pressa. Pelo menos neste instante.
Porque a calma me faz pensar melhor e definir o passo seguinte.
Sim, a felicidade existe. Está mais perto do que se imagina.
Às vezes, precisamos de um colírio pra curar a visão turva e permitir-nos enxergar depois da curva, além da chuva.
Feliz por nada. Essa é a verdade. Mas feliz por tudo. Isso é o que importa.
Mais importante é saber que ainda cabe mais um tanto de felicidade em mim.
E não preciso fazer qualquer esforço.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Feliz aniversário

Meu pequeno grande amor
Como é bom o seu abraço,
Como é doce este sorriso estampado em seu rosto.
Muitas frases, tantos gestos
Tanta muita novidade
Olhos vivos, sempre alertas
Borboletas que acompanham as mudanças de direção
Meu gigante ainda pequeno
Um menino eterno
Que não cresce, que se engraça,
Que fica e que passa o tempo inteiro dentro de mim
Minha criança querida
Meu coração não se engana
amor de verdade não murcha
Por mais que o tempo passe
Ou que se mude de opinião
Jeito certo, resposta pronta
Fico tonta com tanta altivez e sinceridade
De verdade não me imagino sem sua imagem ao meu lado
Não saberia algum dia acordar e não recordar de você
Zelo seu sono
Rezo pelo seu futuro
Espero fazer parte dos seus planos
mesmo acompanhando de longe
Por que amor de verdade não murcha, não passa.
Vive a eternidade.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Memória

Descobri ontem que tenho uma memória fantástica!
Lembrei-me de fatos, cantigas e músicas da minha infância perdida( que os tempos não trazem mais!)
Não imaginava que conseguisse recordar tantos detalhes.
Memória de elefante, dizem alguns. Precisam se lembrar de tudo para não cair em armadilhas e garantir a sobrevivência nas savanas.
Não estou na selva, mas deve ser pra garantir sobrevivência também, imagino.
Só não consigo lembrar onde arranjei esses hematomas espalhados pelas pernas...
Deve ter sido nas savanas.
Quem se beneficiou com a minha super memória foi o pequeno do meu lado, que se divertiu com o mundo de abobrinhas que eu despejei pela janela.
Aliás, essa é outra capacidade não menos fantástica...
Qualquer dia explicito estra outra quase virtude.

domingo, 4 de abril de 2010

Semana Santa

Bom ter um tempo pra fazer nada.
Descompromisso com o relógio, com as pessoas, com a comida, com a programação da tv...
Às vezes, a vida nos engole com sua pressa e ficamos sem compreender o porquê de tanta correria.
Falta o sono, o humor vai embora, falta coragem de dar um basta á roda gigante sem fim.
O prazer de ficar mais tempo na cama, demorando pra levantar, fica esquecido.
O sabor da falta de agenda, do horário a não ser cumprido inexiste.
Como ser completo sem os pequenos prazeres?
Refeição em companhia da calma, leitura breve no leito antes de dormir.
Passear sem destino, caminhar sem rumo, olhando vitrines sem interesse de compra.
Permito-me , vez ou outra, me distanciar do mundo-cão e entrar na bolha que me envolve e me isola do resto do mundo.
Volto á minha infância e recordo o doce gosto de viver sem a pretenção de acertar.
Apenas existir, sem a cobrança imposta pelas responsabilidades, sem a autoridade que a vida exige.
Algumas vezes faço isso possível.