domingo, 29 de março de 2015

Sobrevoando

Assisto a reportagem e me assusto.
Não só pelos comentários feitos a respeito da frieza do co-piloto- tido como responsável pela queda do avião nessa semana- mas por uma infinitude de pensamentos que chegam sobrevoando minha mente neste instante.
Depois da leitura dos diálogos registrados na caixa preta do avião presume-se a culpa e o propósito do acidente pela falta de respostas do piloto e pelo silêncio na cabine, como a escuta da respiração calma e controlada.
Agora, revirando a vida desse infeliz, vários detalhes "desimportantes" começam a fazer sentido.
E chega-se á conclusão que um homem desequilibrado, depressivo, de relacionamentos conturbados, de atestados médicos e de afastamentos solicitados deveria ter sido retirado de suas funções.
Então me pergunto: quantas pessoas assim não cruzam com a gente todos os dias e por detalhes não importantes, ninguém repara.
Ninguém sequer questiona se existe equilíbrio emocional e saúde mental, além da capacitação técnica exigida para determinada função.
Se o piloto tem as horas de vôo necessárias, creio que seja cobrança esperada, mas se o sono é perfeito, se está descansado, se tem dívidas ou problemas familiares que tiram o prumo da vida, ninguém quer saber...
E aí, vou além: pilotos, seguranças, professores, médicos, dentistas, motoristas, taxistas... quantas pessoas fora de si perambulam pela vida e mudam a rota de tantas pessoas num momento de surto...
Atualmente, mal se tem tempo para os próprios problemas... e se interessar pelo problema alheio então?
Na primeira oportunidade desfaz-se o laço, afasta-se o problema, esquece-se o problemático.
Que continua perdido pelo mundo derrubando aviões, despedaçando pessoas, destruindo sonhos.
Talvez enxergar além seja uma capacidade restrita a algumas pessoas.
Mas vale o propósito do treinamento.
Sobrevoar as angústias de alguém pode mudar o curso de muita gente.


sábado, 28 de março de 2015

Procura-se

Procura-se alma.
Não precisa ser gêmea, 
nem irmã siamesa, 
nem bivitelina ou coisa do tipo.
Pode ser prima, 
parente distante, que não se vê há anos...
Mas precisa ser forte, 
que nem família, 
que gera laços que não se desfazem.
Procura-se alma bela.
Não de rosto, nem de corpo. 
Beleza de espírito.
Que pensa no todo, 
sem miséria nem ganância, 
que age bonito, 
que fala lindamente 
e escuta maravilhosamente bem.
Procura-se alma rica.
Em alegria e generosidade.  
Que transfira os cifrões de companhia sem dó.
Que compartilhe felicidade.
Procura-se alma breve.
No silêncio, na inquietude e nas preocupações.
Procura-se alma leve.
Livre de preconceitos e armadilhas,
Sem o peso dos julgamentos e das cobranças.
Procura-se alma fina.
Aquela do bom dia, 
do boa tarde,  
de com licença e por favor.
Que não eleva a voz e peça desculpas se preciso for.
Procura-se alma sincera.
Sem meias verdades, 
sem falsidades.
Procura-se alma encantada.
De cores e músicas e de fé.
Procura-se alma escondida.
Recompensa alta e fabulosa
para quem a encontrar.



Março sem fim



Mês de março é assim: sem fim!
Comprido,
sem feriados,
quase um ano inteiro dentro de 30 dias.
E por mais que o tempo voe,
o mês não passa.
Neste março sem fim vou recordando
do que já deixei atrás de mim:
uma piscina furada,
30 dias de preguiça,
atividade física zero,
dor nas costas feroz,
saudade algoz,
medo e insegurança,
pressa e correria,
pensamento e cansaço,
cansaço e pensamento,
atrasos.
Muito creme, pouca água.
Algum desperdício.
Uns fios brancos,
textos e aulas,
gente que partiu,
conhecidos e desconhecidos,
para o desconhecido.
Trocas e vendas, anjos.
Amizades da vida toda,
toda a vida perto.
Decisões e escolhas,
recomeços.
Ligações e problemas.
Poucos convites,
diversão escassa.
Previsão falha,
falta de coragem,
Sonolência,
Preocupação e aflição.
Orações e remédios.
Entregando março nas mãos de quem sabe bem como resolver.
Faltam infinitos 3 dias.