terça-feira, 26 de outubro de 2010

Presentes de Natal

Eu quero uma varinha de condão.
Num passe de mágica transformaria o escuro em claridade e a lágrima em sorriso.
Simples assim!
E também uma máquina do tempo.
Daria para seguir para o futuro ou retornar ao passado,
consertando as partes mal preenchidas,
as lacunas esquecidas e apagando as vicissitudes...
Ah! Que bom seria!
Quero ainda um anel mágico com poder paralisante.
Quando fosse acontecer um desastre -plim!
Pararia o instante.
Daria para evitar um montão de tragédias...
Quero ainda uma sacola buraco-negro, que coubesse a infinidade de coisas que tenho a guardar,
uma capa de chuva que deixaria o dono invisível, e um despertador que nunca deixasse
a hora de acordar chegar...
Como o Natal se aproxima, tenho pensado seriamente em pedir meus presentes ao
Papai Noel...
Acho que ele vai ter um pouco de dificuldade em encontrar os itens do meu pedido de Natal...

Reflexões de outubro

Sou um pedaço de sonho,
um retalho de vida,
um desejo de ser alguém que ainda não sou.
Não encontrei a fórmula certa.
Ainda faço testes para saber se o que almejo se concretizará.
O imprevisto me acompanha,
O inesperado me abraça.
Esqueço sempre que planejar
è quase sempre se preparar para não acontecer.
Ainda me surpreendo com o improvável,
porque sempre acho que já pensei em todas as alternativas possíveis,
já imaginei todos os desfechos cabíveis,
E , de repente, sai um coelho roxo da cartola,
e me espanto, pois de alguma forma, não havia pensado nele;
Mesmo sabendo que algo poderia surgir do nada.
Aliás, esperar pelo nada é bem mais prudente.
Não é aguardar chover possibilidades ;
È não planejar nem construir expectativas a cerca do mundo.
Tudo aquilo que é muito desejado e elaborado, perde o encanto
quando se depara com a realidade.
A vida é feia.
Nós é que enfeitamos e ornamentamos nossos pobres dias.
Muito enfeite esconde os buracos, os defeitos,
E dá a falsa idéia de que tudo é perfeito e planejável.
È a mais pura mentira.
Ninguém sabe, nem explica.
Mas o curso da vida segue, independente da nossa vontade.
Cada um recebe seu destino em mãos
E o deixa escapar pelos dedos, pouco a pouco, como grãos de areia que se perdem.
O pouco que se consegue guardar é o que nos sobra pra viver.
E não obedece a planos, metas ou propósitos.
Tem um final pronto.
Esperando de fato também nosso final.
Por isso sou um pedaço de sonho,
um desejo despedaçado.
Ninguém será inteiro.
Porque tudo se perde gradativamente pela vida a fora.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Mais ou menos

Tudo mais ou menos:
Humor, cansaço, saúde,
móveis, dívidas,
investimentos, panos e planos...
Bem mais ou menos:
semana ligeira,
datas que se aproximam e me angustiam.
Coração na mão,
insegurança,
vontade de continuar dormindo.
Mais ou menos,
Mais pra bom ou pra ruim,
Menos pra qualquer coisa.
Tem dias que é assim: mais ou menos...

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Veja bem

Veja bem:
O cansaço me espreita,
O tempo não se decide,
A hora não passa, voa!
Há mais tarefas que pessoas para executá-las,
Milhares de planos e projetos
E poucas opções de realizações.
Meu sono não termina
Meu dia só começa
Nunca percebo o fim.

Veja bem:
Ouço frases repetidas
Convites semelhantes
Anoto na agenda o circuito
que não cumpro
O desânimo me captura
Minha indecisão me sequestra
Escrito fica na minha testa
Toda resposta que há.

Veja bem:
Não faço promessas que não cumpro
Não penso em manter as aparências
Faço arte, não só ciência
Cansa-me ir e não ir trabalhar
Deleite é a minha própria companhia
Fico muito bem comigo mesma
Preciso de férias do mundo vez ou outra
Para conseguir lucidez necessária
Preciso de folga de mim
Para ser mais solidária
O mundo dos outros me assusta
Prefiro, muitas vezes, me esconder.

domingo, 17 de outubro de 2010

Complicações

Pode ser que seja assim mesmo...
Talvez haja mesmo razão para queixas.
Reconheço as limitações que me cabem.
E os defeitos, são tantos, que alguns ainda nem tive o desprazer de conhecer.
Vivo na ignorânica da existência deles.
Far-se-ão descobrir com a ocasião, eu acho...
Talvez tenha mesmo razão.
Não saberei dizer se vale a pena insistir.
Ninguém saberá.
Talvez haja mesmo egoísmo, displiscência, insensatez.
Pode ser que vejam como pouco empenho,
falta de interesse, frivolidade...
Mas eu também sou assim.
Tenho todos esses ingredientes na mistura.
È o que me faz ser quem sou.
Não sou boa, não sou santa, nem sirvo de exemplo para quem quer que seja.
Também não sou um reduto de indiferença.
Eu sinto. E muito.
Um tanto quanto a maioria de todos não consegue imaginar.
E guardo comigo minhas percepções, minhas desilusões,
meus desafetos, meus desalentos...
Nem tudo a gente pode dividir.
Há ainda aquilo que está intimamente envolvido em si,
que tentar compartilhar é rasgar a própria carne...
E sei que sou um tanto complicada...
A rota mais fácil não permite chegar até a mim.
Eu sou o caminho mais difícil,
O quebra-cabeças que faltam peças,
O caça-palavras que o vocabulário simplório não alcança,
O enigma da Esfinge...
Nem eu mesma consigo me decifrar, me entender...
Querer que alguém o faça é muita pretensão...
Se o fardo não for tão pesado, pode-se garantir a boa colheita após o cansativo plantio.
Carregar os feixes é trabalhoso, mas o calor do fogo no frio faz valer a pena do esforço.
A perfeição mora longe da minha casa
E minha residência é este mar de perguntas e interrogações.
Ainda estou me construindo.
Não posso exigir quem faça parte do processo.
A escolha não parte apenas de mim.
Cabe a cada um saber onde lhe é permitido avançar,
Até onde se pode seguir.
Não quero sacrifícios, nem sofrimento.
Nem para mim, nem para alguém.
Continuar em paz já é grande resultado.
Preciso de sossego para me edificar.
E sei que esta minha obra ainda não tem prazo para o fim.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Hoje é dia de Maria

Hoje é dia de Maria.
Aquela que se esconde em tantas muitas mulheres.
Maria de esperança.
Maria de intercessão.
Maria que surge e Aparece,
abraça, consola e protege.
Mãe que nunca deixa ao léu.
Desamparo não faz parte da história de Maria.
Maria permanece ao lado.
Recolhe e ajeita o que caiu.
Reestabelece, ergue, sustenta.
Casas, famílias, vitórias, histórias,
pedidos, vontades, súplicas.
Maria acolhe a todos.
È mãe que dá colo, sacia a fome,
enxuga o choro, esquece a dor e
ensaia um novo sorriso
para agradar o filho que pede.
Hoje é dia de Maria.
È dia de oferecer flores.
Agradecer o amparo e o socorro.
Implorar o auxílio e proteção.
E agradecer novamente.
Por tornar nossos dias sofridos
em momentos mais santos, mais puros.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Minha tristeza

Eu sou triste. E daí?
Não, não sou possuidora de motivos de tristeza.
Nem tenho algo que me faça penar.
Tenho é algo melancólico em mim,
que me faz passear pelas profundezas de todos...
De tudo e de todos.
Não me restrinjo á superfície.
Permuto entre os caminhos mais simples
e as entradas mais complexas das pessoas e dos acontecimentos.
Tem sempre algo em mim que quer chorar.
Tem sempre uma lágrima por vir.
Sempre uma saudade para relembrar.
Há uma angústia por melhorias,
uma expectativa por grandes desfechos,
uma esperança de concretização,
que na maioria das vezes não se confirma.
Por isso ela vive comigo.
Sou triste pela incerteza de ser alegre.
Não espalho tristeza , nem pranto por aí.
Guardo-a comigo em segredo.

Para Estê

Sabe qual é o seu problema?
Você é boa demais.
Inteligente demais.
Generosa demais.
Solidária demais.
Excessivamente solícita.
Extremamente altruísta.
Oferece companhia, abrigo, consolo, conforto.
Sempre disposta.
Sempre animada.
Divertida, alegre.
Honesta e sincera.
Quem não iria se aproximar?
Mas o mundo não é só feito de pessoas boas assim como você.
Algumas se aproveitam da sua bondade.
Ganham muito chegando perto de você.
Mas perdem infinitamente mais quando se afastam.
E se contam uma história triste para lhe comover,
se inventam fatos, fazem intrigas,
é porque, de alguma forma, querem a sua atenção.
Pois sem a sua presença, as histórias perdem a graça, os fatos viram notícia sem valor...
Ninguém é merecedor de sua tristeza, nem de sua decepção.
Você é boa demais para isso.
Ninguém é merecedor de sua dúvida, de sua incerteza sobre si mesmo.
Porque você é boa demais.
Esta é a certeza.
Um mundo de gente pensa como eu.
Não é invenção minha, tampouco tem a ver com minha grande estima e apreço por você.
È a verdade.
E ela sempre merece ser dita.

sábado, 2 de outubro de 2010

Vilarejo

Sabe aquela música que diz de um vilarejo, "onde areja um vento bom"?
Ele existe. Já morei lá. E ainda moro de vez em quando.
E é verdade quando dizem que " da varanda, quem descansa, vê o horizonte"...
E também se confirma o fato de que " lá o vento espera, lá é primavera, portas e janelas ficam sempre abertas pra sorte entrar.."
Lembro-me de quando chegava o inverno e o vento frio nos incomodava um pouco.
Não conseguíamos mais deixar as fanelas fechadas.
Elas estavam abertas por tanto tempo que não permaneciam mais em outra posição.
Quando estou lá, parece que estou fora do mundo.
È minha redoma de vidro: permaneço intocável, inatingível.
Não tenho pressa pra acordar, tampouco prazo pra dormir.
Não tem frio nem calor que me perturbem.
Sou filha para sempre, numa família que faz o convívio ser sempre bom.
È bom passear a pé pela cidade, rever antigas amizades, conhecidos de longa data.
Tudo tem horário definido , como havia quando éramos crianças.
Um cheiro bom de almoço vindo da cozinha.
Um barulho de panelas e louças e torneira e vozes que convidam a participação.
Não há problema que me atinja, nem pesadelo que me assombre quando estou lá.
Às vezes, faço o caminho de volta porque é necessário buscar forças.
Como se as raízes que me sustentassem, estivessem ainda lá fincadas.
E para me manter inteira eu tivesse que reencontrar minha essência que por lá anda perdida.
Não tem saudade, nem trabalho, nem dívidas, nem prazos que me incomodem.
O sofá é grande e sempre cabe todo mundo.
Há espaço suficiente para abrigar quem quer que venha.
Posso ver a rua, o movimento sem sair de casa.
Posso cantar e ovir o eco reverberando minha voz como numa caverna.
Posso esperar o moço do picolé passar na rua em frente para abordá-lo com fazíamos antes.
"Lá o mundo tem razão". È " terra de heróis". "Paraíso se mudou para lá".
Não sei um dia conseguirei reproduzir o encantamento que existe.
Nem sei se ousaria tentar.
Tudo é tão próprio de lá, tão peculiar, que penso, ás vezes, ser inigualável.
As pessoas que compõem a cena, essas, sem dúvida alguma, são insubstituíveis.
Ficará apenas na memória, na lembrança, quando um dia não houver mais.