quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Para o bebê de Ana

Tem muita gente fazendo planos.
Há quem pense em escolher seu nome.
Você já faz parte de muitos sonhos.
E permeia o pensamento de quem quer muito lhe ver chegar.
Se vai usar rosa ou azul,
para qual time vai querer torcer,
se vai gostar de violão ou não,
se vai ouvir Beatles ou preferir Pato fu,
se vai querer o colo da mamãe ou o dengo das vovós,
se vai passear com os tios do lado de cá ou preferir os do lado de lá,
se vai falar primeiro "papai" ou "papá",
se vai ganhar bola ou bonequinha,
se o quarto vai ser verde ou amarelo,
se vai batizar no domingo ou no feriado,
enfim...
Nada disso por enquanto tem importância maior que sua chegada.
Criança amada e pretendida, pedacinho de querida amiga.
Vem! Cresce bem devagarinho!
Vem trazendo um pouquinho do que há de melhor em cada um.
Vem, pequenino!
Tem um mundo de novidades aguardando você chegar.

Sobre os amores

Há amor de todo jeito.
Há várias maneiras de amar.
Como já dizia a canção: " amores à vista, amores a prazo..."
Não precisa de vasta experiência
ou lista crescente de dados, números ou nomes.
Apenas o sentimento é suficiente. E basta.
Tem amor de mãe, aquele que começa antes mesmo de existir.
Que perdoa, acolhe e de vez em quando põe o dedo em riste.
Amor de pai, que ralha mas protege e afaga.
Altivo. Autoridade. Piedade.
Amor de irmão, que é genuinamente cúmplice.
Defeitos e qualidades tão acoplados que se fundem.
Ama-se-o conjunto.
Amor de amigo, que é irmão por escolha.
Aquele para quem o silêncio não é tormento,
que a verdade não chega a incomodar e que o abraço vence os infortúnios...
Há também o amor carnal.
Alguns chamam de paixão, desejo, atração...
Vem como um furacão devastador, mas passa.
E deixa a brisa leve em seu lugar.
Descontrolado. Impulsivo. Desequilibrado.
Não deixa de ser amor, porque é verdadeiro.
E amor é verdade.
Há ainda o amor de tio/tia: ama os que pertence aos seus, como se fosse uma parte de si mesmo.
Amor de madrinha ou padrinho: não é seu por natureza, mas por escolha.
Ser escolhido para adotar alguém é declaração de amor incontestável...
Amor de primos: mais que amigos, quase irmãos.
Segredos e carinhos para uma vida inteira.
Tem também amor de mãe ou pai postiços: ama-se o o outro por terem amores em comum.
Amor de alma: entrega de espírito, planos e projetos. Comunhão de almas mesmo.
Pode ser entre irmãos, amigos, homem-mulher... È coisa que transcende...
Tem ainda amor pelos bichos, amor pelas conquistas, amor pelas memórias.
Não esquecendo do amor próprio: gostar verdadeiramente de si, a ponto de abdicar de algo que seja nocivo ao próprio bem estar, mesmo que todo o mundo pense o contrário.
Para finalizar, o amor-de-amor: sereno, simples, tranquilo.
Aquele que não faz cobranças, que não espera algo em troca, porque sabe que não precisa de restos para existir.
Perdoa, resiste. Espera, implora. Reconhece o erro, volta.
Não agride. Respeita o espaço, as diferenças. E acolhe as diversidades.
Apenas vive.E deixa o outro viver. E basta.

sábado, 25 de setembro de 2010

Realidade

Não sei se é falta de senso,
se é displicência,
comodismo, egoísmo
ou até mesmo percepção deformada da realidade.
A verdade é que o mundo fantasioso dos outros me agride.
Incomoda profundamente.
Pode ser que seja comigo: eu vejo a fundo,
não fico restrita á superfície - o que não ocorre com a maioria das pessoas.
Entretanto, neste submundo, me encontro sozinha.
Porque não tenho com quem dividir minha forma de enxergar.
Ver é relativamente fácil.
Perceber e compreender o que se visualiza
é infinitamente mais complexo.
O fantástico mundo de Alice não faz parte do meu sonho.
A realidade é bem mais dura .
E é ela quem embala meu sono.

sábado, 18 de setembro de 2010

Leia o manual

Quer saber como funciona?
Leia o manual.
Quer descobrir onde mora a defeito?
Folheie as páginas.
Sente e aprecie a leitura, calma e lentamente.
Sim. È preciso tradução.
São muitos idiomas. Alguns ininteligíveis.
Mas não desista! Continue lendo o manual.
Quantas peças?
Falta algum parafuso?
Onde está o encaixe?
Tem garantia?
Onde é o ajuste?
Está tudo aqui. Minusciosamente detalhado.
Nunca disse que o produto era perfeito.
Nunca houve propaganda enganosa.
Não houve, em qualquer momento, má intençaõ ou ação de má fé.
Mas vem de fábrica com alguns vícios...
Alterações que proporcionam interação.
Responde de forma automática.
Age inesperadamente.
Decifra, cria enigmas, elabora as percepções...
Distorce, inventa, mas não mente.
Sente. Muito. Mas não vai deixar transparecer.
São muitos segredos. Vários códigos.
Leia o manual.
Leva alguma tempo. Afinal, são muitas páginas.
Algumas ainda nem estão escritas.
Será preciso paciência para a leitura acabar.
Mas não desista: leia o manual.
Só assim saberá se vale a pena o empreendimento.
Se foi, de fato,um bom negócio.
Ou se então, vale tentar outra mercadoria.
Sempre é tempo de mudança. Sempre.
Pode ser que não atenda todas as necessidades.
Que fale muito, cante pouco.
Escute nada, pense bastante e atrapalhe o suficiente.
Mas para descobrir, o manual.
As respostas estão bem á mostra.

Tem dia

Tem dia em que estou um doce
Tem dia em que estou puro fel...
Tem dia que sou puro azedume
Tem dia que nem sei quem sou...
Tem dia que não suporto o mundo
Tem dia que não me suporto
Tem dia que amo muito
N'outro, amo quase nada...
Tem dia que quero sossego
Tem dia que sobra solidão
Tem dia que falta paciência
Tem dia que sou só exatidão
Tem dia que a dor me estraga o dia
Tem dia que estrago muita coisa também
Tem dia que falo o que penso
Tem dia que só penso e me calo
Tem dia que me dá um a saudade de um tempo que não volta mais!
Tem dia que acho que saudade nem existe...
Tem dia que quero férias
Tem dia que quero colo
Tem dia que parece que tudo vai bem
Tem dia em que nada vai...
Tem dia que quero soluções mágicas
Tem dia que só quero soluções.
Tem dia que quero que a noite dure mais tempo
Tem dia que quero que o dia termine ligeiro
Tem dia que desejo o sol, ardentemente
Tem dia que quero o dilúvio, simplesmente
Tem dia que quero escrever para me libertar
N'outro, quero escrever para me esquecer...

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Será?

Às vezes, me questiono se não tem outro jeito...
Outra forma de escolher
Outra forma de acertar
Outro modo de fazer
Outra forma de errar
Outro jeito de falar
Outro modo de dizer
Outra forma de escutar
Outra forma de entender
Procuro sempre o jeito mais difícil
O lado mais complicado
A parte mais complexa
sempre fica para mim...
Será que não há outro jeito
que eu consiga realizar?
Abandono as pistas
Esqueço as dicas
Piso no freio
Me bloqueio
Me boicoto
E me odeio
Não há outra forma?
Será?

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

02/11/2003

Ah, coração! Você vive!
Que sorte ouví-lo, sentí-lo...
Por tanto tempo esquecido, anestesiado,
Isolado de tudo e de todos,
Sem caminho, tão sozinho,
Tão alheio ao mundo...
Só não sei dizer se o intento que o acorda será feliz, bem-vindo.
Mas vê-lo vivo é tão lindo, que supera qualquer decepção.
Quisera fazê-lo contente, mas o contrário acontece:
Faz-me sorrir, abrir os olhos para a vida;
Faz-me chorar, sentir que ainda vivo,
que estou tranquilo,
porque você ainda vive.

Mais um achado

(sem data)

" Ando em círculos,
Circulando sobre mim mesma.
Repetindo teorias próprias,
Meio tortas - admito.
Mas meus mitos funcionam, são reais.
E relatam meus ais, doídas falhas
que compõem a minha história...

Eu me ocupo e não me culpo por tal ato.
È fato que me mereço, e, que meu apreço é meu único eleogio.
Sei que me vigio para não parecer presunção,
Mas meu coração agora me pertence
e carece do meu afeto.

Decerto, os olhos fechados não percebem ao redor, outros olhos.
Outras faces são disfarces, máscaras que me espreitam.
São defeitos que escavo, escovo, aliso e ostento.
è meu dedo apontando ao ermo.

Ando e vôo sozinha, perdida.
È mais uma pedida para ninguém me acompanhar
È quase um a investida para alguém me alimentar
Meu veneno já não me sustenta...
A alma anseia por outras alucinações."

Sobre a fugacidade

Somente um tempo, apenas dias
E tudo definha, volta ao princípio
Se era pó - retorno ás migalhas
Se era só - retorno aos retalhos
Se era dó - só mais uma nota
Ou a piedade excessivamente austera
Paradoxalmente impiedosa

Após alguns minutos, milésimos de segundos,
nada escapa á velocidade da vida
Se eram rosas - estão murchas, mortas.
Se eram belas, transferiram lepidamente
seu vigor ao vento, ao tempo
Se era a perplexidade em relação ao mundo
È a complexidade que se alia a tudo,
Indecorosamente perplexa

Só mais um tempo e a chuva lava
E a chuva leva, gradualmente
Se a casa erguida não teve arrimo
Volta ao barro de seu tijolo
Se a existência não teve alívio
Volta-se ao nada, sem um consolo
Ficando as marcas, os sinaleiros,
Semáforos vivos, altaneiros
da própria passagem rápida
Célere e duvidosa.

Achado

Achei quando fui organizar as caixas da mudança. Não tem data, mas imagino que tenha sido escrito há mais de cinco anos...

"Não se ater a qualquer fórmula: eis o segredo!
Não fazer planos, viver todos os anos sem contar as datas,
nem os dias, nem as horas, por que o tempo é mesmo implacável...
E o medo é gemicar as oportunidaes perdidas pelo resto da vida,
E ficar somente com o resto dela para poder se consolar...
A bússola tem que ser a palpitação entusiasta da tenra idade,
a agilidade de carpir, em cada inspiração, a suntuosidade de estar partindo,
apenas indo, para algum lugar...
Não se ater ás reminiscências, ás evidências do que hoje já não é mais.
Porque lembranças moram sempre em gavetas, tolhidas e atulhadas
por escritos e vontades que nunca se fizeram publicar.
Não fazer da própria alma um depósito de amarguras,
das agruras que se vive ou das barbáries que se ouviu n'algum espaço.
Essencial é docilizar os passos, tornar perfulgente os vínculos, os laços.
Fazer com que o cinza tenha o brilho da prata
E que os sonhos sejam o minuto insano - única fórmula semeável da felicidade - entre os entulhos mundanos que habitam o lodaçal da existência."

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Uma plantinha

Se eu pudesse escolher, desejaria ser um jarro de planta.
Ficar alí, parado, curtindo o sol,
fazendo a minha fotossíntese sozinha,
aguardando o regador, sem muita pressa...
Um ou outro insetozinho importunando, mas que não chegaria a criar grande incômodo...
Ora florescer, ora me desfolhar...
Não sentir frio, nem calor importantes...
Ora vicejar, ora fenecer...
E o mundo continuar a girar sem me atrapalhar,
sem se constranger.
Viver sem constrangimentos: esta é a questão.
Sem incômodos, sem trapaças, sem fingimentos, sem falsa modéstia ou polidez.
Simplesmente ser assim: um vaso de planta.
Enfeita, sem ostentação.
Embeleza, sem muito alarde.
Naõ oferece obstáculo, não atravanca a passagem, nem impede o caminho de quem passa.
Sem a obrigação, sem o infortúnio.
Sem hora, nem data, nem pressa.
Sem compromissos diários, a não ser esperar pelo sol,
sentir o vento chegar, esperar a troca das estações...
Se eu pudesse escolher?
Ah, eu seria essa plantinha...

sábado, 4 de setembro de 2010

Ainda sobre Agosto

Gostaria de registrar, ainda sobre o mês passado:
Pai e mãe, obrigada pelo cuidado inifnito.Sem vocês eu não me mantenho. Mesmo.
Rima e Rimo: vocês são partes importantes do meu coração. Sem vocês ele pára de funcionar...
Dani: Bom revê-la e saber que está feliz!
Jean: Cuida bem da Pior, por favor!
Dani e Emerson: Parabéns e muitas felicidades!
Lord: como foi grande a saudade. Ainda bem que passou rápido! O cuidado foi zeloso... nem sei o que dizer a respeito...
Manira: Valeu a dose, digo, overdose de companhia...
Thaís e Ellen: A qualquer hora, em qualquer situação, em todos os momentos.
Gabi: Obrigada pelo carinho com a "nossa" casa. Pensa bem na economia, tá?
Karla e Kelly: Por que não vi vocês?
Carla e Ju: Parabéns sempre! Graças e bênçãos todos os dias. Tudo dá certo no fim, tá?
Amanda, Hud e Thiago: senti falta de vocês, sabia?
Flora, Andréia e cia: obrigada pela compreensão. Vocês garantem minha subsistência.
Vô, Saudades e lembranças doces. Para sempre.
Família da mamãe: só Deus sabe o que é preciso para promover o reencontro. Mesmo que a ferramenta seja a dor.
Marcinho e Camila: Casal fofo! Adorei a companhia e a amizade. Minha casa está de porta aberta para vocês.
Pepeti: a alegria é garantida quando está por perto. Doce da Tia.
Povo do Pilates: valeu pelos esticões e alongamentos que tentam me pôr em forma. A minha reclamação é só para dar clima ás aulas, tá?
Ainda repercute a vastidão dos acontecimentos.
Preparo-me para a Primavera.

Sobre os últimos dias

Tenho medo quando ela chega tão perto.
Aparece de repente e sai levando consigo o que não conseguimos fazer ficar.
Sobram só as lembranças.
Restam apenas memórias.
E uma sensação estranha de que se fez muito pouco.
Que poderia entregar-se mais, tornar tudo mais pleno e mais feliz.
Lembro então daquilo que não falei, do que não vivi , do que marcou tanto;
Lembro então quando preferi naõ agir,
Quando me acomodei, quando desperdicei chances e oportunidades.
Visita maldita.
Presença sorrateira.
Visão lúgubre de não-sei-onde.
Incerteza de continuidade.
Fé posta a prova.
Prova de falta de fé.
Aparições breves e incisivas.
Corte profundo e doloroso.
Cicatrizes que demoram a curar.
A dor some; a marca fica.
Tenho medo quando ela chega assim tão perto.