domingo, 30 de março de 2014

Subindo o morro

Subi o morro para agradecer.
Tenho sido protegida de catástrofes diárias, 
escoltada por anjos eficientes chamados amigos
 e ficado imune a muita conversa improdutiva...
Vejo todos os dias a vida se passando ( ou se perdendo) em macas,
os dias não mais sendo contados,
muito conformismo por falta de esperança e a pior miséria que existe: a de sentimentos.
Estar perto e distante de tudo isso me faz ser grata.
Minhas reclamações são ínfimas e meu desconforto, mínimo.
Ainda descrente no mundo, incrédula na boa fé humana,
mas inteira na possibilidade de poder agradecer o presente.
Lendo de trás pra frente meu próprio livro e tentando entender as narrativas,
principalmente as negativas e as expectativas que ainda posso ter.
Crendo que ainda faço diferença,
que minha educação ainda recompensa, 
que meus olhos podem enxergar por quem não vê,
ler por quem não sabe ou ainda não aprendeu.
Subi o morro para me perdoar.
Só tem o perdão do outro quem antes se perdoa.
E me recolhi a minha insignificância e reconheci que errei.
Uma, duas, três, dez vezes. Um milhão.
Coração arrependido.
Subi o morro para pedir consolo, conforto e alento pra quem ficou.
Pedi paz pra quem descansou.
Pois o sofrimento é anti humanidade.
E a morte, ás vezes, é o fim de um sofrimento.
Lidar com ela é difícil e doloroso.
Por isso, calei, não chorei.
Saber perder também faz parte do jogo.
Subi o morro e pedi  para aprender a perder e a ganhar...
Sem humilhação nem soberba.
Pedi justiça, que me canso de olhar este mundo arrevezado...
Pedi justiça porque meu senso do que é justo também pode estar errado...
Subi o morro a rezar.
Por que a oração eleva o espírito e, lá em cima, mais perto do céu,
penso que posso voar.




domingo, 23 de março de 2014

Aos meus amigos

Revi amigos queridos.
E percebi como sou agraciada pela presença de pessoas tão bacanas,
 marcando momentos tão importantes no decorrer dos últimos anos.
Gente que não vejo todo dia, mas que ao encontrar, parece morar no mesmo prédio, dividir a mesma rua.
Abraços sinceros recheados de afeto verdadeiro.
E assim, vejo como é bom perceber reciprocidade pelo carinho oferecido.
Como é gratificante dar de si o melhor pelo outro, de forma honesta, e receber gratuitamente toda a atenção dispensada.
Meus amigos não são muitos.
Tenho fama de séria e antipática e por isso muita gente não se aproxima.
Mas quem ousou a aproximação nunca se arrependeu.
E os que persistem continuam comigo.
E são lindos! Todos eles.
Feliz em dividir com eles as alegrias e festejar as conquistas.
Mas presente também nas adversidades, porque me afeta também o infortúnio que os acomete.
Não sei ser metade. Nem ter sentimentos mais ou menos.
E sou grata por esta minha plenitude!
A hipocrisia e falsidade não me pertencem.
E divido com eles minha espontaneidade, minhas caretas sinceras, os comentários esdrúxulos e meu humor ácido e irônico.
Aos meus amigos queridos, todos, que sabem quem são, que encontro eventualmente, que converso todos os dias, que falo de quando em vez, que peço favores malucos, que combino programas que não acontecem, meu agradecimento pelo espacinho cativo no peito.
A cada um de vocês oferto o que de melhor em mim houver. Sempre!


segunda-feira, 10 de março de 2014

A nova eu

A nova eu surgiu este ano, mas não sei bem quando, nem porquê.
Só sei que quando percebi ela já estava ali, instalada.
Retrucando todas as perguntas, indagando todas as respostas.
Não tenho ideia de como se deu o fato.
Quando vejo ela já respondeu, já brigou e arrumou confusão.
Não sei se isso é bom, mas ela me alivia.
O que eu normalmente não faria, ela faz.
Põe pra fora as angústia, despeja as palavras...
Exortação, exorcismo.
De onde vem?
O que busca?
Quanto tempo dura?
Sobrevive a quem?
A nova eu é uma incógnita: misto de TPM e tropa de elite.
Um esforço que sai da garganta e grita pro mundo:
eu me incomodo, eu me canso, eu me chateio e não preciso esconder isto de ninguém.
Um ser maldoso que eu nem sabia que morava em mim.
A nova eu se irrita fácil, chora pouco e quando chora, rompe em prantos.
Fala alto e firme e rápido e numa sequência quase decorada.
A nova eu espanta o mundo.
Tem gente me olhando diferente.
Não tenho culpa.
Acho que ela foi a parte de mim boicotada por tantos e tantos anos que resolveu ressuscitar.




domingo, 9 de março de 2014

Mulher macho




No dia da Mulher eu quiser ser homem. 
Sim, quis de verdade!
Sempre invejei a possibilidade de fazer xixi em pé e a comodidade de fazer uma coisa só por vez.
Neste dia então, mais ainda, desejei ardentemente a displicência masculina  e a arte inconfundível de nunca encontrar o que se procura...
Quis não precisar depilar a cada 15 dias e ser livre!
Não ter que me preocupar se a unha está feita, não ter que escolher ou combinar cor de esmalte,  não ser obrigada a ir ao salão e esperar sentada a vez de gastar tempo e dinheiro pra ficar enfeitada pro resto do mundo.
Sim, eu quis ser homem!
E descobri em mim um desejo louco em desprezar o salto alto e mergulhar de cabeça no mundo da descombinação: sapato sem meia, xadrez com estampado e a liberdade infinda de todas as ocasiões chamada chinelo.
Descobri um lado masculino querendo ter 50% da prole sem ter 100% dela no ventre.
Quis não ter cólica, menstruação ou TPM e suas preocupações conjugadas.
Nada de sutiã apertando nem calcinhas especiais que não marcam a roupa.
Nada de lingerie combinando, celulite, estrias, gordura localizada e afins. Não mais!
Sonhei com a ideia de ficar pronta pra sair de casa em 5 minutos, mesmo se o evento fosse a ida ao boteco, um casamento ou um baile de formatura.
Queria que minha maior preocupação fosse o nó da gravata!
Pisar no ralo e cuspir no chão! Por que não?
Quis ser homem sim, confesso, e flagrei-me feliz com a ideia de lavar o cabelo com sabonete na falta de xampu, sem me questionar se ia ou não danificar os fios...
Feliz em calçar um tênis qualquer se não encontrasse o sapato.
Quis sentar sem me preocupar com modos; 
estufar o peito e partir pra briga; 
fazer um gol e partir pro abraço!
Quis ter sido menino e jogado bola, soltado pipa, peão, brincado de vídeo game, me estrupiado em lutinhas...
Mas desperto do devaneio: o fecho do sutiã pinica e o aro  incomoda. 
Volto ao meu mundo cor-de-rosa-cinza-escuro de dar conta de mil coisas ao mesmo tempo.
Conserto a roupa íntima, disfarçadamente, arrumo o cabelo e caio na realidade do universo feminino: 
beleza, força e simpatia; eficiência, elegância  e inteligência; pontualidade, assertividade, perfume, drama, choro e estresse, um pouco de blush e batom vermelho de arremate, queridos, porque sem um pouquinho de glamour a gente não dá conta do recado!

quinta-feira, 6 de março de 2014

Que tipo de cristão é você?




A quaresma é o período do ano Litúrgico que precede a Páscoa, sendo celebrada por algumas igrejas cristãs, como a Católica, a Ortodoxa, Anglicana e a Luterana.
Compreende um período de quarenta dias, cujo objetivo é a preparação do espírito para a celebração da ressurreição de Cristo através de jejum, abstinência, caridade e orações.
Existe muita história explicando o sentido dos quarenta dias, com passagens bíblicas significativas mencionando esse número, dentre elas, o tempo de viagem do povo judeu do Egito até a Terra Prometida (quarenta anos); após o dilúvio, leva cerca de quarenta dias para que seja de novo tocada a terra firme; durante quarenta dias e quarenta noites Jesus faz seu retiro no deserto e, após ressuscitado, permanece também quarenta dias entre os discípulos antes de ascender ao céu.
Há muitos significados, mas o mais importante mesmo é o que determinamos de mudanças em nossas vidas neste período.
Questiono como posso viver o real sentido de conversão se não modifico minhas ações e condutas.
Questiono como posso ser cristão numa época tão conturbada, cheia de desvios e opções mais fáceis?
Que tipo de cristão eu sou nos dias de hoje?
Como posso ser cristão quando esqueço a caridade e o bem pelo próximo?
Que tipo de cristão sou eu se elevo a voz e parto pro confronto sem ao menos tentar o diálogo?
Se prefiro a rudez do silêncio em vez da amabilidade das palavras certas?
Se prefiro a mentira em vez da verdade, se a omissão é frequente e se o engano é usual?
Como posso ser cristão se não falo com meu irmão ou se cortei relações com meus pais?
Como ir á igreja e fazer as preces se discuto e brigo por comida com quem convive comigo?
Se o dinheiro comanda meus dias e se faço do lucro e do status a razão da minha existência?
Como orar se não sei sorrir com vontade, elogiar com sinceridade ou abraçar sem medo de demonstrar sentimento?
Que tipo de cristão eu sou se cobiço o bem  do outro, se invejo a posição alheia e se resmungo do trabalho que provê o meu sustento?
Que tipo de cristão eu sou se não perdoo a ofensa, se não estendo a mão a quem errou, se não permito uma nova chance, um recomeço ou uma mudança?
Que luz eu pretendo ser num período de trevas, do hedonismo sem limites, de falta de fé e de valores?
Não pretendo catequizar ninguém. Tampouco convencer alguém de algo.
Penso que a fé não se explica, se vive e sente. E eu me orgulho da minha.
Pois é ela quem me fortalece e me mantém em pé.
Quero apenas ser um cristão que faz a diferença: seja arrancando um sorriso numa brincadeira leve, num abraço sincero, levando minha religião no bolso e no peito, sem vergonha do que vivo.
Quero me transformar numa pessoa melhor usando o período de penitência e oração para refletir sobre meus erros e como acertá-los.
E você? Que tipo de cristão que ser?

quarta-feira, 5 de março de 2014

Eu e o tempo

O tempo passa, o tempo voa.
Mas continua tudo igual.
Não percebo a diferença do ano passado; nem do anterior, do anterior...
Não vejo a diferença do tempo de agora;
Não vejo o tempo por mais que ele se mostre.
Há sempre uma sequência de fatos e pessoas que se repetem 
e a sensação de dejavù também retorna.
Andando em círculos, 
repetindo os mesmo erros, 
as mesmas cenas, as mesmas atitudes.
Chorando as mesmas lágrimas sem graça 
e lamentando sempre a mesma tragédia pessoal.
O convite continua único, o feriado continua solto.
A garrafa permanece fechada, a comemoração está adiada.
Continuo esperando o que não vem.
Continuo aguardando o que nunca vai chegar.
Espero o inexistente, acredito nas mentiras que me contam.
Acredito nas pessoas, que nunca mudam, e no tempo, que cura nada!
Repetição atrás de repetição, sem novidades, sem verdades.
O que eu quero é um relógio novo.
Que marque o tempo de trás pra frente.
Que faça as horas diferente.
Quero um dia novo, uma vontade nova.
Quero que o tempo deixe de passar, pois mesmo voando,
nada muda na minha vida.



segunda-feira, 3 de março de 2014

Meu carnaval

Não vou reclamar do marasmo. Nem posso.
Diante de tanta desgraça presenciada 
não acredito que possa ousar a elevar a voz para esbravejar ou reivindicar algo.
Sim, precisava do ostracismo, da reclusão, da falta de opção.
Só assim, sem opção a gente aceita: a solidão, o tédio, o cansaço e o descanso, 
o acaso e o descaso da gente com a vida e da vida com a gente.
Comendo petisco, vendo tv e lendo 3 livros ao mesmo tempo, 
fugindo da memória, tentando esquecer as responsabilidades por míseros dias.
Nem em sonho me larga o trabalho.
E olho a programação sem programa com a preguiça de quem vê a chuva pela janela.
Não me importa se o mundo grita lá fora, se as pessoas cantam e dançam festejando.
Eu, aqui dentro, permaneço de folga. 
Não quero conflitos.
O alívio veio disfarçado, escondido na possibilidade do desencontro.
Está bom assim. 
Dias de calma.
O meu carnaval é em paz: com meus pensamentos, 
com minhas escolhas e exclusões, 
com meu silêncio, com minha falta de companhia.
Não posso reclamar.