quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Terça Insana

Terça insana.
Resolvi chamar assim.
Dia corrido, as horas não me ajudam.
O dia me vampiriza e quando a noite chega, eu já fui.
Restando apenas a sombra de mim.
Ontem foi dia de tudo.
De criança com doença grave, de menino que tinha nada,
de plano com carência, de urgência no segundo derradeiro de ir embora,
de passeio no Hospital-Shopping.
Não tem problema.
Todo mundo foi bem atendido.
Com educação, presteza e gentileza, independente da causa e motivo.
Por quê?
Porque eu quis assim.
Resolvi que assim deve ser.
Eu sou a parte sadia, física e mentalmente, dessa relação.
Eu sou a parte que ri.
Já tem muita gente chorando neste mundo!
E pra terminar a saga e mostrar que as orações mostram sucesso, eis que no começo da tarde
entra na sala uma mulher com um bebê no colo e pergunta:
- É você quem vai me atender?
Respondi:
-Sim.
-Você é a pediatra?
-Sim, sou eu.
-Que gracinha! Tão novinha e já é médica!
Ela vira para a criança de menos de um mês no colo e diz:
- Olha, filho, que bonitinha a sua médica! Que gracinha que ela é!
E eu, de cabelo bagunçado e máscara pendurada no pescoço só tenho uma coisa a fazer:
rir da terça insana!

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Segunda de opção

Hoje, carente de:
Relógio de minutos infinitos,
estrada sem trânsito algum
Paciência de Jó
Humor de bom humor
Sono amigo
Sonho mais que amigo
Descanso pros ombros
Fuga pra mente
Castigo pra quem mente
Respiração profunda
Viagem até a infância
Chave pra cadeado no peito
Tesoura pra planos malucos
Martelo pra despertador
Celular invisível
Abraços gigantes
Choro mudo
Cicuta nos meus pensamentos
Fé para aguentar firme.
Firmeza para não sucumbir
Silêncio pra entender o nada.
Nada que me faça sofrer.
Sofrimento de novela.
Quando desligar a tv, já era!



domingo, 25 de agosto de 2013

Confissões de agosto

Ando orgulhosa de mim.
Surpresa ao me enxergar enfrentando os medos mais antigos (com a dignidade e a coragem nunca antes imaginada), tirando de letras problemas de convívio no trabalho (mesmo com a indignação estrangulando a própria garganta e quase fazendo o mesmo na garganta alheia) e superando as decepções tão doloridas que agosto me trouxe (e como!).
Confesso que nem sei de onde surgiram as respostas para o que, de repente, se fez pronto.
Chorei, mas me libertei.
Dividi angústias e me senti mais leve.
Aprendi que carregar o fardo sozinha não é atitude das mais corajosas.
Às vezes,  torna-se covardia o medo de compartilhar.
Não faz bem equilibrar o mundo nas costas. 
Aceitei o incompreensível, até mesmo o inaceitável pra muitos.
Ainda descobrindo as consequências dessas respostas.
Detestando o efeito da ansiedade sobre meu sono.
Para quem se acha calma e tranquila, levar uma rasteira de si mesma é o golpe maior.
Quero voltar a dormir com a leveza que sempre me acompanhou.
Mas preciso saber onde piso pra depois descansar.
Tentando entender a demanda da vida pra mim, o que me custa o sono e uma expectativa gigante!
Tentando decifrar as incógnitas, que juro, estão longe de se fazerem ler!
Em agosto abracei a amizade, esqueci os traumas. Ou ao menos tentei.
Resisti, persisti e venci: sem recaídas, sem deslizes, por mais que o coração me envolvesse e tentasse convencer do contrário.
Não sucumbi ao pedidos mais íntimos. 
Não voltei ao comportamento doentio de antes. Curei!
Ando orgulhosa de mim: Agosto me fez dançar. 
Senti um bem estar indescritível que nem o cansaço da semana conseguiu derrubar.
O mês ainda não terminou e sei que os dias que virão, com certeza me trarão mais surpresas.
Mas continuo orgulhosa de mim, por que nunca fui tantas assim: indecisa, corajosa, descrente, firme, chorosa, alegre, pronta e inacabada.
Orgulhosa por ser assim, imperfeita.
Aceitar-se é o primeiro passo para ser uma pessoa melhor.
Feliz por estar no caminho.



domingo, 11 de agosto de 2013

Já paguei!

Paguei meus pecados, sem dúvida.
Noite mal dormida de véspera, com direito a festinha no andar de cima até altas horas,
ligação de interfone pedindo pra abaixar o som (ai que velha!),
alarme de carro acionado madrugada a dentro sem um dono sequer se mobilizar para desligá-lo,
e despertar cedo - muito cedo para quem dormiu tão pouco- e encarar uma viagem em temperaturas congelantes para meu pobre coxim adiposo. (Maldito ar!)
A volta: ônibus lotado, poltrona na frente do banheiro, um calor insuportável, choro e choro na orelha, um cheiro medonho e um moço de gosto musical duvidoso ouvindo funk em volume elevado no celular e se fingindo de besta, quando eu pedia pra abaixar o volume. 
Interminável viagem!
Valeu? Muito.
Missa de manhã cedinho com meu pai, almoço em família, com direito a roubar batata-frita do prato alheio.
Cochilo de tarde, tv e edredom sábado á noite, leitura do jornal na mesa do café, picolé de sobremesa e suco de fruta natural.
Já que expiei meus pecados, penitenciei meus erros, aproveitei sem culpa tudo que um dia ligeiro de permanência me proporcionou.
De alma lavada e espírito contrito, começo a semana mais leve.
Conta paga, sem dívidas.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Ih! Ficou pra titia...

Ih! Ficou pra titia!
Mas que alegria!
Melhor notícia não há!
A tia é o que tem de maior
entre a mãe a avó!
O melhor das duas porções.
O convite da praia? É da tia.
O cinema, a piscina? Chama minha tia?
A tia é a companhia
do desenho e da pipoca.
A tia não se importa
da fazer do colo, travesseiro.
Tia passa o dia inteiro
na bagunça, na coberta.
Tia também acoberta
sonhos e segredos.
Tia é mãe emprestada, 
sem a obrigação de educar.
Tia é colega de farra,
dá bronca só se precisar, 
porque para tia o que vale
é aquele grande sorriso,
que escolhe sua presença, 
que brinca sem muito juízo.
Tia é companheira,
conselheira, 
cozinheira de mentira,
que cuida, abraça e aperta, 
faz cócegas na barriga.
Irmã mais velha, 
amiga de travessuras,
diversão garantida,
sempre, sem censuras.
Anjo da guarda,
proteção e carinho.
Tia é abrigo e muitos beijinhos!
Tia é uma festa!
Que bom ficar pra titia!
Quero muito todo dia esta árdua alegria.



segunda-feira, 5 de agosto de 2013

A Rosa

Fechei-me em pétalas.
Como rosa que não desabrocha.
Fechei-me ao sol,
Recusei o orvalho,
Ignorei a bruma da manhã.
Declinei ao convite do dia.
Fui botão que não abre, 
fui flor que não nasce.
Fechei-me em pétalas, 
poque não quis mais ser jardim.
Encolhi-me na cor das flores, 
escondi-me no pequeno espaço das cores.
Fechei-me em pétalas,
recusei desabrochar.
Porque achei que o perfume era muito
para plateia tão pouca.
Porque o espetáculo era rico
num jardim tão pobre...
Fechei-me em pétalas 
porque feri-me em espinhos.
Vítima dos insetos, do terreno infértil, 
preferi calar.
Fechei-me em pétalas porque fui preterida do buquê.
Flor sozinha do jardim,
assim, qual botão que se fechou, murchou, morreu.
Fechei-me em pétalas porque faltou água, faltou luz.
Porque o dia se fez-se sombra, 
O temporal ruiu o encanto
Acabou-se a chance de tornar a ser flor.
Fechei-me em pétalas na singeleza de quem descansa.
Na expectativa de quem dorme.
De quem sabe que no dia seguinte 
haverá uma centelha de  oportunidade.