quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Sobre os últimos acontecimentos

Triste é saber que uma população inteira hoje se esconde e espera, com medo, em casa por um desfecho que não sabe qual é.
Trabalhar honestamente e sustentar a família tornou-se risco de vida.
Creches, escolas e lojas fechadas.
Ensinamentos e dicas de como se proteger de balas perdidas em tiroteios.
Ônibus em chamas, pessoas alvejadas.
Por ordem de quem?
O esquema está pronto. Já faz tempo.
Esperando para se tornar insustentável.
Questão de tempo.
E enquanto a guerra civil se instala, deixam-se casas em busca de refúgio,
levam-se filhos para áreas mais seguras e esperam pela piedade e justiça divinas,
porque a humana não sobreviveu ás intempéries.

Sobre o que escrevo

Gostaria de escrever sobre tudo:
O que vejo ou escuto
o que penso, o que aprendo
Mas o que me impele ao registro
é o que sinto.
Sinto muito que nem sempre
atenda ao gostos mais refinados,
ou que pareça melancólico, tristonho, por vezes,
o que ando imprimindo.
O que desejo é agradar o espírito.
Primeiramente o meu,
que anseia por sensações mais leves,
que foge e viaja, mesmo que de forma breve,
procurando por esconderijo.
O que vejo, escuto, aprendo e reflito
registro no peito.
Relembro no leito.
Escrevo na vida.
No meu incansável trajeto
de convivências cotidianas.
Tentando, pouco a pouco, sorver o bom
e excluir o mau.
Escrevo então para expulsar fantasmas,
exorcizar demônios, varrer tristezas.
Deixar minha alma mais leve
e jamais tornar amargo ou pesado
o que carrego comigo.
Queria escrever sobre tudo,
mas para começo de história,
apenas somar as palavras já me faz um bem enorme.

Hoje é dia de saudade

Hoje acordei com saudade...
Sentido mais vago e completo possível que esta palavra pode ter...
Lembranças de momentos queridos,
de sensações que se perderam no tempo.
Saudade de acordar mais tarde numa manhã ensolarada de sábado
sentindo o cheiro de terra molhada pelo meu pai regando as plantas do quintal...
Saudade do bolinho de chuva nas tardes nubladas, que não me deixavam sair para brincar no quintal...
Saudade da viagem de ônibus para a escola e da volta animada temperada de fome e cansaço...
Saudade do banco do pátio do Elelfante Branco nos intervalos das aulas e das idas sem destino ao centro da cidade procurando por nada...
Saudade das companheiras de quarto que animavam a casa, mesmo quando o humor teimava em não ser bom.
Saudade das brincadeiras no quintal de casa e das tardes de violão no quarto, depois do almoço de domingo...
Saudade de não ter planos e sim, sonhos.
Saudade de não ter contas e sim, contos.
Saudade de gostar sem temores, sem cobranças.
Saudade de odiar sem culpa, sem remorso.
Saudade dos amigos de longe, que não vejo há tempos.
Saudade dos amigos de perto, que a compulsão por trabalho e prazos associado ao cansaço infinito faz com que vivam tão distantes...
Saudade do entusiasmo dos projetos, das expectativas das férias, dos desenhos de roupas, das trocas de modelos nas bonecas...
Da diversão nas compras no mercado, das conversas com os pregadores e lápis de cor... (sim, eu conversava com eles...)
Saudade do passeio de bicicleta, dos dias inteiros na praia, torrando sob o sol ( daí entende-se o motivo das sardas...)
Saudade da soneca da tarde com meu pai, das brincadeiras na sala com meu irmão,
dos desenhos animados pela manhã, dos desfiles na escola, das quadrilhas e danças de festejos,
do coral de crianças, dos shows de calouros, de pegar goiaba na árvore, de comer manga na varanda, de tomar banho de mangueira e fazer do tanque uma piscina.
Saudade do tempo que dinheiro não existia para mim e que tudo era simples e singelo.
Saudade de quando não sabia o que era pobreza, porque vivia igualmente com todos, sem sequer imaginar a diferença social enorme que existia.
Saudade de não saber o que fazer, de não ter o que fazer e decidir tomar sorvete!
Saudade dos desejos de retorno: no tempo, nos atos,nos pensamentos, nos momentos, na vida.
Saudade da minha fé de criança: pura e inquestionada.
Saudade da minha obstinação, que anda escondida em algum lugar por aí...
Enfim... Hoje é dia de saudade.
Porque as obrigações e chateações pulam sobre mim e me remetem a um tempo em que não se vivia esse desconforto.
Por isso, lembro Casimiro de Abreu que tão certamente compreendeu o sentido da palavra saudade em seus verso tão conhecidos:
"Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
(...)
Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minhã irmã!
(...)
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo.
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!"

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Sonhos

Às vezes acordo de um sonho com a sensação esquisita...
Mistura de lugares que ainda não visitei e pessoas que nem vejo mais.
Ou então, moro onde já não estou e convivo com quem nunca vi.
Pior: permaneço onde não quero, faço o que nunca fiz, ando como jamais imaginei andar, converso com quem mal conheci...
Mas é tão estranho enxergar essas misturas!
Parece um liquidificador, tornando em uma só cena o filme inteiro.
E acordo com a angústia de quem quer descobrir o que foi aquilo.
Será uma mensagem escondida?
Qual o mistério que há?
Como explicar o inusitado?
Confesso que fico tocada e me flagro relembrando partes do sonho,
tentando compreender o incompreensível...
E a falta de resposta me faz adormecer no fim do dia, quando me deito e tento descansar.
O que será que está por vir?
Ainda revelo um dia a sucessão de sonhos malucos...
Parece a saga de Alice, sem o País das Maravilhas...
Ainda meio perdida.
Um ano que mais pareceu um tufão.
Dos últimos acontecimentos restou a ressaca,
o peso perdido, o sono esquecido e um cansaço profundo.
Não me larga! Não me deixa!
Nem chega a ser reclamação.
È só desabafo.
Forma inofensiva de extravasar.
E a sensação de ano findo também consome.
Faz-se as contas de todos os meses que se foram
e começa a conta arrevesada para acabar.
Nem meu divã barato tem conseguido me acalmar.
Um turbilhão de pensamentos me povoa
E tenho seriamente pensado em divã de verdade...
Para reorganizar o raciocínio
e empilhar os papéis velhos ainda tão chacoalhados...
Eu sou assim mesmo: confusa, insatisfeita, insegura.
Soa meio estranho, mas preciso me perder para me encontrar,
me retalhar para me cerzir.
E todo fim, pede um recomeço.
Ou ao menos uma tentativa.
Por isso, já neste fim, ensaio meu recomeço.
Ainda meio perdida.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Retomada

Ando reclusa.
Retorno devagar.
Aos poucos me retomo
E volto a respirar.
Às vezes é preciso dar uma pausa.
Apnéia necessária.
Para depois da cianose
aspirar como na primeira vez ao mundo.
Ando me lendo.
E relendo.
E tentando entender um tanto de muitos
acontecimentos.
Indago, reflito, questiono.
Continuo ignorando o motivo das revoltas.
Mas continuo na esperança de um dia compreender.
Preciso me digerir para só depois expelir.
Como agora.
Mergulho profundo, me arrebento,
mas retorno inteira outra vez.
Porque renascer é necessário.
Sempre.
Porque viver é uma luta diária
de equilíbrio e de apostas,
de vitórias e derrotas, de fugas e retornos.
Eis a minha retomada.