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sábado, 22 de novembro de 2014
Esmalte vermelho
Escolhi esmalte vermelho.
Foi a opção mais óbvia diante do sangue brotando no canto da unha.
Num momento de descuido, lá se foi um pedaço do dedo,
pedidos de desculpas sem graça e um sangramento que custou a estancar.
Para não manchar, deixei tudo vermelho: o sangue, a unha e o pensamento.
Vários pedaços de mim são arrancados todos os dias.
Alguns sem intenção, outros premeditadamente.
Há ainda os que nem me dou conta de que foram retirados.
Por indelicadezas, mentiras, falta de bom senso, ousadias ilimitadas, sonhos castrados,
por falta de afeto, de coragem ou de simpatia alheia, todo dia, um pedaço de mim se vai.
Nem sempre cicatriza fácil.
Nem sempre se estanca com o dedo.
Um comentário truncado, uma recusa, um decline.
Um sarcasmo desnecessário, uma ingratidão.
Tudo tira pedaço.
Nem sempre sangra, mas machuca.
Ultimamente, ando pintando de vermelho.
Para camuflar o estrago.
Enfeitado, brilhante e reluzente como esmalte novo.
Disfarçando todas as imperfeições.
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