domingo, 31 de março de 2013

A missão

Pode parecer clichê, como frases prontas, pré-preparadas, para causar impacto ou fazer vender livros de autoajuda e coisas do tipo, mas acredito mesmo: ninguém passa por este mundo por acaso.
Sim, todo mundo que pisa sobre este chão, respira o oxigênio da mãe terra e, mesmo que por breves instantes, tenha o coração batendo entre os vivos, tem sim sua importância.
O tamanho da importância é relativo: pode ser pequeno, por exemplo, quando se compara ao resto do universo. Mas pode ser imenso quando se compara ao espaço de um lar.
Ninguém vem aqui a passeio.
Há sim uma razão de existir, embora a grande maioria das pessoas não tenham descoberto qual seja.
Alguns percebem cedo. Ponto para aqueles que tem astúcia e perspicácia como virtudes!
Outros, demoram anos, uma vida inteira para chegar a uma conclusão.
Mas creio que até mesmo a demora tenha também uma razão de existir.
Pode, por exemplo, servir para elaborar melhor o processo do encontro.
Pode ser para proteger da verdade (sim, a verdade machuca!)
A demora pode não ser vilã e fazer parte do elenco dos mocinhos.
Tem gente que vem ao mundo para abrir os olhos de outras pessoas;
Há quem tenha missão maior: abrir o coração.
Existe aquele que vem para mudar história, desentortar caminhos, trocar as peças do tabuleiro de lugar e assim, mudar completamente o jogo ( da vida).
Há quem venha para trazer festejos; outros, contemplação.
Há quem venha trazer beleza, no meio de tanta feiura; Ou trazer riqueza, dentre tanta pobreza.
Há quem venha trazer cura; Ou trazer alento, calma, razão.
Tem quem traz ainda força, animo; Quem agrega pessoas, junta famílias.
Tem que vem para o perdão, para paz ou para guerra, o confronto, o embate.
Acredito mesmo que nenhuma vida é descuido.
Nem que os encontros sejam obras do acaso.
Há sim um propósito muito maior em tudo isso, que a nossa capacidade de compreensão é extremante limitada para entender.
Cada pessoa que passa, cada vida que se encontra, cada história que se cruza ou se alinha tem uma razão para assim ser.
Resta-nos observar, aceitar e fazer valer cada missão.
Se ela for de mudança, modificar, então; que seja!
Se não for, entender o real motivo de existir.
Talvez esta parte de reflexão seja mesmo a porção mais difícil de tudo...
Minha missão hoje é a diferença. 
Tenho a certeza de que estou presente em cada canto que passei.
Fiz sim a diferença na vida de alguém. Por menor que tenha sido sua importância, ela existiu.
E isto já me basta.
Lembrança boa e saudade já são pagas suficientes para mim.


O filme que assisto

Toda vez que retorno á minha casa após plantões em uma localidade mais afastada, que visito semanalmente, fico refletindo sobre a realidade dura de grande parte da população.
Acesso a atendimento de saúde eficiente é luxo; educação e boas condições de moradia é presente para poucas pessoas.
A maioria sobrevive sem, pelo menos, alguma dessas condições básicas.
O que se consegue ter, se torna regalia.
É muito triste enxergar no outro o resultado que a falta faz.
Tanta gente jovem que não consegue entender uma frase escrita ou compreender uma ordem ou uma orientação.
Tanta gente que lê e não compreende, que fala, mas não consegue se fazer entender pelo outro.
Falta higiene, esclarecimento, comunicação e entendimentos tão simples que poderiam modificar completamente a forma de viver de uma família...
Gente de sorrisos marcados pela falta de oportunidades, de rostos marcados pela tristeza da falta de escolhas.
E vejo a perpetuação de cada história sofrida estampada em cada criança que atendo.
Em silêncio, depois, rezo por cada uma delas, para que os caminhos delas sejam outros, bem melhores.
Que a mudança seja presente nos destinos, para que façam a própria vida diferente, que a herança recebida seja transformada.
Porque se acostumar com a pobreza e falta de perspectivas é determinar o próprio fim e, por conseguinte, o fim dos seus.
Acredito então que faço parte de uma pequena parcela- e por isso- exceção, extremamente sortuda e abençoada.
Educação sempre presente, buscada a todo instante, usada a todo momento- a grande modificadora de vidas.
Faço parte do sistema de saúde- sou a parte saudável dele- e posso sim fazer a diferença na vida daqueles que nada podem em relação á sua doença ou a si mesmos.
Minha casa é meu lar, sem toque de recolher, sem prisões, nem reféns.
Faço parte da minoria, infelizmente. E reconheço a grandeza de poder usufruir deste benefício.
Porque assisto com mágoa tanta gente não poder pagar o remédio de um filho, depender exclusivamente do sistema assistencialista do Governo, a falta de dinheiro para o transporte de volta para casa e a falta de esperanças de tudo isso melhorar.
E vão seguindo... pondo filhos no mundo sem condições de criá-los, repetindo a história dia a pós dia, sempre igual. E eu, assistindo a este filme que é  um drama diário...


terça-feira, 26 de março de 2013

Homem de verdade

Homem de verdade é artigo raro.
Proponho-me a explicar o porquê: homem de verdade é uma complexa conjunção de caráter e índole mesclados a seriedade e comprometimento que dificilmente se encontra.
È uma associação de atitudes e virtudes que estão fora de moda.
No mundo descartável de agora, valores estão no lixo. 
E o homem de verdade também foi para lá...
Homem que se preze assume seus compromissos de forma honrosa.
Não pensa que o resto do mundo é idiota e ele, o único esperto do planeta.
Homem mesmo, assume seus erros e pede desculpas quando assim pensa ser necessário.
Homem de verdade pensa.
Descobre que a ideias mudam, que o certo de hoje pode ser o errado de amanhã...
Homem de verdade não pede de volta o que foi dado, não cobra o que não deu, 
nem toma para si aquilo que não lhe pertence.
Homem mesmo, assume os riscos de suas escolhas, mas preserva o outro quando sabe que as consequências delas podem interferir de forma nefasta em quem pouco se envolveu.
Homem de verdade assume o filho, assume a mulher, assume o emprego e o salário.
Não foge á sua culpa, nem á sua condenação.
Homem que é homem se assume: seja em casa, na rua ou na sua escolha, enfim.
Homem mesmo não bate em mulher, não agride criança, não usa a força como convencimento nem como coação.
Homem de verdade chora. E sente muito: medo, frio, fome, saudade, tristeza, como qualquer ser humano normal.
Homem de verdade não discrimina. Aceita o outro da cor que é, da forma que vem, nas escolhas que tem.
Homem mesmo ama. O igual e o diferente.
Homem de verdade aceita desculpas, pede perdão, se arrepende, volta atrás.
Homem de verdade conta a verdade, não esconde o que sente, nem se envergonha de sentir.
Não precisa provar que é homem o tempo inteiro, nem que detém posição e poder.
Homem mesmo não precisa de escravos nem de servos. Ele mesmo se garante.
Homem que se preze tem a lealdade como valor e fidelidade como compromisso: é leal aos amigos e objetivos, fiel aos seus preceitos.
Homem mesmo não acha que é Deus. 
Entende a própria insignificância e se recolhe diante da imensidão de todo o resto que Deus criou...
Homem mesmo não precisa de álcool ou drogas para se auto-afirmar.
Não precisa de grife, carro novo ou perfume chique para ser bem visto.
Homem de verdade tem bom senso, discernimento e empatia.
Homem de verdade pode ser uma mulher de fibra, que luta por respeito e busca seus direitos.
Homem de verdade está em falta, fora do mercado, demodé, se perdeu.
E é triste perceber que quanto mais se busca enxergar essas qualidades em alguém, menos se vê.
Triste é constatar que o homem de verdade já morreu.



segunda-feira, 25 de março de 2013

Olhos bem abertos

Sabe aquela história de que toda situação ruim pode ficar ainda pior?
É verdade pura!
Quando se pensa que o mundo já desmoronou, sobra sempre ainda algum objeto perdido para cair na cabeça de alguém.
Não, não é reclamação gratuita.
É constatação dos fatos.
Não creio que seja motivo de desanimo.
Mas seja motivo de atenção.
Vejo tanta história triste por aí, estampada em jornais e revistas, tanta gente contando fatos que mais parecem roteiros de filme (de terror) e novela (dramalhão), que a vida da gente fica até embaçada...
Há sempre um mal maior. Sempre.
Não se deve acreditar que tudo está perdido, que não há mais jeito, que o fim está próximo.
Tudo pode ser ainda pior!
Há que se manter o espírito alerta e acreditar que a situação está boa.
Até porque, os adjetivos bom e ruim são muito relativos.
Questão de comparação.
Tenho pensado nisto ultimamente.
Situações tristes podem não ser assim tão tristes.
O ruim pode não ser assim tão mau.
Tenho assistido a pioras incríveis, inimagináveis, quando já acreditava que estava bem ruim.
Levando lucro agora.
Seja na forma que for.
Espírito alerta, coração costurado, bolsos fechados e olhos bem abertos.



Desembaraço. Osso.



Um ano: trezentos e sessenta e cinco dias e seis horas. A cada hora, sessenta minutos. Cada minuto com seus sessenta segundos. Cada segundo com seus mil milésimos, e neles, seus cem centésimos, décimos, segundos. Por que tudo não se divide por mil, por cem ou por dez pra facilitar as contas de cabeça? Um centésimo de hora não são dez minutos. São seis. Um décimo de dia não são dez horas, apesar de ser dez por cento de um dia. São dois, vírgula, quatro e infinitos zeros de hora. Hora, ora, passa rápido demais. Tem horas, que ora, hora não vem. Passatempo que não passa hora. Passam horas que passatempo não passa. Que saco. Velocidade média, média de velocidade. Tudo em mim se dificulta quando se relaciona ao tempo. Talvez não só a mim.
Eu não consigo internalizar o tempo. Nem nessa racionalidade matemática lógica e compulsoriamente virgulada e decimada. Por si só – e talvez propositada – já complicada. Me perco no calendário, no diário. Me desenquadro na agenda marcada, sublinhada e precisa. Não aguento mais uma segunda-feira, um segundo tempo, prorrogação. Não vejo com paciência o passado, nem com olhos de agrado o que há de vir. Quero mesmo, ou pelo menos queria, um agora mais presente nesse mesmo tempo corrente. Me convencer desse incomodo tic-tac ritmando, disfarçadamente devagar. Um meu dia-a-dia mais contente, alegria recorrente, sorriso na cara, tranquilidade sem essa ansiedade de ver o tempo passar. Queria mais pulso do que relógio de pulso. Impulso pra cima, no passo, no degrau, no próximo estágio, sem despencar. Queria menos essa chatice de me notar imprensado, intenso vazio.
Tempo de parar. Queria mesmo uma reflexão menos repetida, uma angústia diferente, quem sabe talvez, uma que esteve sempre ausente. Pare o tempo - meu pedido. O que penso é que você não devia acontecer enquanto paro pra pensar. Não devia correr enquanto não saio do lugar. Só devia existir quando eu me reencontrar. Ou mesmo nem assim. Nunca vou te compreender. E se isso acontecer, não vou te aceitar. Sou assim.
(O texto acima foi escrito por uma pessoa incrivelmente perspicaz com uma criatividade imensa. Senti-me no dever de publicar seu texto aqui, Bruno Pazini.)

sábado, 16 de março de 2013

Mais uma verdade

Quando comento sobre situações que vivencio, onde pessoas perguntam minha idade, querem saber se já me formei, se tenho filhos, se acabei a residência médica ou coisas do tipo, não significa que exalto o fato que aparento menos idade que realmente tenho.
Na verdade, fico indignada.
A forma como as perguntas são feitas é desrespeitosa.
Soa como uma dúvida e me incomoda me encararem como uma fraude.
Por que é difícil aceitar que alguém tenha estudado e se formado cedo?
Por que duvidar que juventude e competência possam andar juntas?
Por que é mais fácil pensar que estou ocupando um lugar indevidamente, 
exercendo uma função para a qual não estou qualificada ou que estou mentindo ser alguém que não sou?
Estranho, muito estranho...
A verdade é que o novo assusta.
A juventude estampada na face de alguém gera desconfiança.
Não se pode acreditar que haja competência e qualidade e, principalmente responsabilidade, quando se fala em mocidade.
Entendo não.
Acredito na força de vontade do jovem, na sua capacidade de mudança e sua característica de inquietude, tão peculiar, que faz com que mitos sejam derrubados e novas verdades venham á tona.
Sei que há ainda muita juventude transviada, mas existe a outra face dela que está ganhando a vida de forma honesta e competente, buscando dignidade e sucesso todos os dias.
Nunca me disseram que precisaria ser velha para ser médica, nem que haveria necessidade de rugas para atender alguém. Tampouco me disseram que teria que ter filhos para exercer minha profissão.
Não preciso de nenhuma outra condição que me habilite para o meu trabalho além da formação que recebi durante os últimos anos.
Preconceito puro! E feio!
Acredito que quem esteja do outro lado da linha cronológica também receba tratamento parecido, pois quando se envelhece também se perde valor e credibilidade... Como entender?
A idade, no fim das contas, não interfere no atendimento, no tratamento, nem na forma como as pessoas são tratadas, quando o trabalho é feito com dedicação e respeito.
Torna-se apenas um mero detalhe.
Gostaria muito de que todas as pessoas pensassem assim.



sexta-feira, 15 de março de 2013

Canseira de sexta á noite

Posso abrir meu coração?
Ando tão cansada...
E o ano está só no começo...
Fiquei fazendo as contas mentalmente e calculei que em três meses já esgotei.
Tanta cobrança, tanto prazo, tudo tão corrido, apertado, que o tempo voa, o tempo passa e eu estou assim: amarrotada.
Se eu soubesse que vida de gente grande era tão pesada, tinha virado Peter Pan.
Muito mais fácil ficar na Terra do Nunca e permanecer criança para sempre...
Errava, algum adulto corrigia e ficava por isso mesmo.
Agora, erro, eu mesma tenho que descobrir onde está a falta, consertar, lavar a cara, pedir desculpas, engolir a vergonha e tentar esquecer o drama.
Muito difícil!
Passar o dia inteiro fora de casa e o tempo que se fica nela, se passa resolvendo o mundo lá de fora, do mesmo jeito...
Leitura, textos, aulas, plantões, reuniões que não se soluciona os problemas, problemas que se repetem todo o mês... Ai, cansei!
Precisando de mais tempo.
Agora? Estou aqui, detonada, rendida á canseira de sexta á noite.

sábado, 9 de março de 2013

Mundo oco

Considero-me uma pessoa feliz.
Falo de felicidade simples mesmo, dessas do dia a dia, sem muita elaboração, de gente normal.
Estive pensando nisso ontem, na madrugada, voltando pra casa.
Motivo? Nem eu sei dizer.
Creio que fosse mesmo da reflexão do retorno, depois de assistir tanta gente esquisita fingir diversão e alegria. (A gente percebe quando há um excesso do que não se tem, certo?)
Pois bem. Pensando então neste aspecto, ponderei: "Poxa, como eu sou feliz!"
Saúde em dia, família perto, todos saudáveis, minha casa é animada, as pessoas que me rodeiam também.
Boa comunicação, boa leitura, bons contatos. Facilidade com música, com textos... quantos por aí gostariam , mas não tem?
Amigos, trabalho, contas em dia, dinheiro no banco, viagens, roupas, sapatos, cinema e alimentação excelentes.
Não usufruo de nenhum luxo. Mas também não acredito que precise dele para ser feliz.
Tenho conseguido o feito, na maior parte das vezes, sem isso.
Não preciso de um salário milionário para fazer o que gosto, tampouco sair na revista de celebridades para dizer que a vida anda bem.
Não preciso inventar amigos, nem viver de mentiras, nem bajular pessoas ou dever favores para me garantir: diga que isso não é felicidade?
Ainda: posso pensar livremente, expressar o que penso, vivendo no recanto do meu humilde lar, sem grandes preocupações.
Não preciso de álcool para imprimir alegria, nem de drogas para esquecer desilusões.
Não uso remédios para fingir que estou bem, preciso apenas de filtro solar. 
Não preciso mentir a idade e ainda passo por mais nova do que realmente sou na maioria das vezes...
Não sou casada e nem tenho filhos, mas conheço muita gente que tem os dois, mas nem por isso é feliz...
Fico me perguntando se as pessoas já pararam para refletir sobre isso em algum momento.
Sonhos e planejamentos são necessários, mas aquilo que tira do chão é perigoso.
Dá a falsa ideia de que a felicidade só chega depois.
Enquanto isso, milhares de pessoas vivem num mundo oco, vazio de sentimentos e de valores, se sujeitando aos desmandos de muitos, se sacrificando, sofrendo humilhações e decepções por uma felicidade imaginária.
Problemas? Aos montes, espalhados pelas prateleiras, escondidos nas gavetas... E quem não tem?
Solução a gente cria, inventa. Dá-se um jeito. 
Só não dá  para crer que a existência deles seja motivo de infelicidade. São tristezinhas passageiras. E só.
Longe de mim, querer esfregar minha satisfação pessoal em face alheia, mas é muito gratificante perceber quando tudo vai bem. E melhor,  precisando de tão pouco para ser assim.



quarta-feira, 6 de março de 2013

Dia da mulher

Eu não sei direito o que a gente comemora.
Honestamente, não sei.
Mulheres ainda são tratadas como objetos em muitos países pelo mundo.
São violentadas diariamente, de todas as formas possíveis: abuso sexual, agressões corporais e verbais.
Recebem proporcionalmente menos que os homens, apesar de conseguirem desempenhar as mesmas funções, algumas com mais competência inclusive.
Cobradas pelo padrão social de beleza estética inatingível da sociedade, educação e sucesso profissional obrigatórios, casamento e filhos perfeitos.
Precisam se multiplicar em mil mulheres para realizar todas as tarefas que lhes dão incumbência.
Sustentam a família, por muitas vezes, criam sozinhas os filhos na ausência do pai e nem por isso receberão a gratidão e o respeito merecidos.
Acredito que adquirir direitos significa ter a possibilidade de desempenhar uma função ou exercer um papel se assim tiver vontade e não por obrigação.
E nos tornamos obrigadas a fazer o papel masculino  e o feminino também.
Adquirimos deveres. Muitos. Intermináveis.
E os direitos, se transformaram em mais deveres, cada vez mais pesados.
Nesta história, só tem mulher.
Ocupando o próprio lugar e o lugar do homem.
Não dando espaço para que as relações aconteçam e se sobrecarregando por ter que fazer o mundo acontecer.
Eu queria um dia das mulheres feminino: com direito a futilidades e descanso, e acima de tudo, muita ternura.
Porque acredito que o grande mistério feminino é ser fortaleza e candura ao mesmo tempo, é ter garra e paz, ser pedra e pluma.
Queria um dia de festa e de bolo, com direito á bagunça na cozinha, blush, batom e flor no cabelo.
Queria um dia de muitos abraços, de sorrisos abertos, de colo e carinho como só mulher sabe dar.
Queria uma trégua na raiva, uma pausa na violência, um respiro de liberdade, sem cobranças ou perturbações...
Queria muito que todas as mulheres de hoje e as de amanhã pudessem se orgulhar do próprio significado e pudessem ter a escolha de querer ser só mulher ou abraçar a jornada múltipla.
Que não existisse a obrigação: nem do fogão, nem do casamento, nem da empresa, nem do quartel.
Que existisse apenas a possibilidade de escolher o que se quer. 
E realizar a escolha sem reprovação ou culpa.
Penso que assim, teríamos mulheres mais realizadas, homens mais representados e filhos mais felizes.


domingo, 3 de março de 2013

Resenha do Show

Para início de conversa, quem adquire um ingresso para assistir a um show ou a uma apresentação qualquer- seja dança, teatro ou cinema- é um interessado no tema.
O interesse pode sim ser apenas uma curiosidade sobre o assunto, o chamado "ver pra crer",
 mas acredito que a grande maioria das pessoas gostem daquilo que buscam e é este o motivo que basta.
Se gostam, deveriam ter uma postura de respeito, creio eu.
Fico incomodada com as vaias que antecedem as apresentações. 
São para punir o atraso? Também não se justifica. 
Vergonha alheia sinto. Vontade de me esconder como avestruz, apenas por estar alí, do lado de quem vaia...
Vejo que o atraso resulta, muitas vezes, da dificuldade de tanta gente entrar e se acomodar antes do espetáculo começar.
Então, de novo, nos deparamos com ela, a educação.
Infelizmente, muita gente a deixa em casa quando vai a estes eventos...
Sair cedo, escolher calmamente o lugar e evitar confusão é muito mais sensato. E educado.
E também evitaria o descontentamento geral pelo atraso. Ninguém começaria o show com uma fila interminável de pessoas ainda para entrar, mesmo sabendo que a hora marcada da apresentação já  havia há muito sido extrapolada!
E brasileiro  que se preze confia no atraso. Deixa para o último momento, porque sempre dá tempo já que  nada por aqui começa na hora mesmo. 
Apresento-lhes então a Pontualidade: amiga da educação.
Pois bem, começado o show, calor insuportável, estávamos todos lá , a espera dos clássicos.
Sei que o cantor vem para expor repertório novo, CD novo com músicas novas, mas o povo quer mesmo o sucesso consagrado, o repertório antigo.
E nem é para ouvi-lo ser cantado não. É para cantar junto, num imenso coral...
Vai entender? Mas é assim que acontece.
Início lento, músicas desconhecidas e lá pelas tantas, parecia que estávamos em um grande restaurante, com uma música de fundo e todo mundo batendo papo, sem grandes preocupações.
Vez ou outra, intercalando uma canção nova, surgia uma mais antiga e todos se voltavam de novo pro palco.
Sentados, imóveis, mas participativos.
Posso dizer que a presentação seguiu assim, a maior parte de tempo. 
E só próximo ao fim, a plateia se rendeu ao show e o cantor se rendeu ao passado revisitando as canções de sucesso. O bis também foi bom.
Cantor excelente, ótimo compositor e instrumentista impecável! Porém sem muita presença de palco e pouco interativo com a plateia. Sim, ele pode se dar este luxo!
Entretanto as canções novas são muito parecidas e não muito empolgantes. Houve CDs melhores.
Pelo menos para meu pobre gosto amador, que fique bem claro.
Para terminar, gente fumando em lugar fechado e deixando muito lixo pelo chão, já que lixeiras eram artigos de luxo  por lá.
Educação, vá da próxima vez! Não fique em casa!
Saldo positivo no fim. Mas a bem da verdade, bocejei algumas vezes e desejei minha cama.
Mas o Dja não precisa saber disso, né?