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sábado, 11 de outubro de 2014
O Médico
O médico é um ser estranho: sempre correndo, dorme pouco, se alimenta quando consegue tempo, está sempre cansado (a maioria), emendando plantões e trabalhos.
Tem família, mas não consegue ficar muito tempo com ela e nem participar ativamente dos eventos que ela (a família) organiza e frequenta.
Mas a escolha foi dele, alguns dirão. Ninguém escolhe ficar longe dos seus, nè? Vamos combinar!
O médico tem amigos. Normalmente, trabalham com ele. Não sobra muito tempo para amizades fora do circuito hospitalar...
Tem sempre mais de um emprego e não é por ganância ou vontade absurda de enriquecer.
Geralmente, os empregos são para pagar as contas - várias- que todos têm e precisam ser quitadas.
A propósito, o médico paga contas. Logo, precisa de salário. Aluguel, condomínio, plano de saúde (sim, ele paga!), água, luz, telefone, prestações, escola de filhos, etc e etc. Contas e contas.
Não, a medicina não é sacerdócio ou doação ilimitada.
Para quem não sabe, o sacerdote (padre ou pastor) também recebe seus honorários.
Ninguém trabalha de graça. Professores, fisioterapeutas, manicures: todos trabalham pelo salário, por mais realização pessoal que a profissão desperte.
E por falar em sacerdócio, alguns pastores e algumas Igrejas detém verdadeiras fortunas. (Embora a Bíblia pregue a modéstia e a simplicidade... Mistério.) Todos recebem: bem ou mal.
O médico dorme. Tem sono como a maioria das pessoas, mas sempre dorme menos do que precisa.
O médico precisa das refeições diárias como o resto das pessoas que compõe a humanidade.
Porém, fazer todas as refeições nos horários determinados é quase loteria.
Algumas pessoas acham absurdo que o médico faça intervalo de almoço, lanche ou jantar durante o expediente. Rola até "barraco".
Mas o advogado, o gari, a faxineira e o porteiro também fazem os horários de intervalos do trabalho para a alimentação. Não compreendo o preconceito...
O médico vai ao banheiro. Números 1 e 2, como qualquer ser mortal que recebe o chamado da natureza. Embora muita gente se irrite quando isso acontece. Não sei o porquê.
O médico passa a maior parte do tempo resolvendo os problemas de outras pessoas.
Os problemas próprios, não sei quem soluciona.
Até porque, não dá pra fazer as 2 coisas ao mesmo tempo...
O médico dá notícias boas e ruins. Algumas são tão más que estragam o dia de todo mundo - dele e dos pacientes... Dizer que ele foi treinado pra fazer isso só pode ser brincadeira!
Ninguém é treinado para achar a doença e a morte normal, quando se preza e se trata da vida.
O médico adoece. E muitas vezes vai trabalhar doente, porque não consegue alguém para substituí-lo a tempo.
Ás vezes, ele está de atestado. Algumas doenças precisam mesmo de afastamento, até para poupar quem com ele convive no momento da enfermidade...
O médico precisa descansar.
O descanso possibilita melhor concentração e melhor raciocínio.
O piloto de avião também precisa de descanso. E eu teria medo de voar, sabendo que o piloto tivesse passado a noite acordado, por qualquer motivo que fosse. Por analogia, o pensamento deveria ser o mesmo.
O médico sofre as pressões do sistema de saúde (falido), seja ele público e particular, da falta de vagas, de medicamentos e das condições precárias de trabalho. Ar condicionado, poltrona confortável e secretária levando cafezinho é uma realidade de novela.
Se o atendimento demora, se o plano está em carência, se não tem como agendar consulta, marcar o exame ou conseguir a autorização- juro- não é culpa dele.
Falando em novelas, o médico não pode falsificar prontuários, trocar bebês, receber suborno para emitir laudo falso de DNA ou exame de gravidez, nem assediar enfermeiros.
Além de um juramento, existe um Conselho que regulamenta a profissão e investiga e pune o que estiver fora dos propósitos éticos.
Mas como o médico é gente, tipo ser humano mesmo, ele erra.
Às vezes, erra tentando acertar. Outras vezes, erra de propósito.
Até porque, diz o ditado que é humano errar... E se médico é gente, logo...
Há médicos ótimos, de boa índole e caráter ilibado, profissionalmente gabaritado, competente e resolutivo e infelizmente, médicos que não são assim tão bons de caráter, limitados e de difícil trato. Mas até onde sei, há gente de má índole e não tão bem capacitados ocupando cargo na polícia, no senado, nas escolas, na quitanda da esquina, etc e tal. Normal também. Infelizmente não há só santos no mundo... Uma pena!
O médico chora, fica triste, perde a esperança, quer sair correndo e voltar pra casa quando o dia parece não dar muito certo. Ri, conta piada, ouve música, cantarola. Creio que qualquer um tenha assim uns rompantes de agonia, e alegria né?
O médico não deve atender por telefone, meios de comunicação em geral ou através de terceiros. É proibido pelo Conselho.
Sabe aquela "olhadinha"? Chama: atendimento, consulta. Demanda tempo, raciocínio, trabalho.
Do mesmo jeito que não dá pra degustar o cardápio do restaurante sem pagar o prato e não dá pra pedir carona pro taxista e sair do carro sem pagar o trajeto. Funciona da mesma forma.
O motivo do texto é simples, óbvio, ululante: chamar a atenção de muita gente que nunca pensou como a vida do outro funciona.
Com o dia do Médico se aproximando, cheguei á conclusão (triste) que não se tem grandes motivos para comemoração. O respeito para com a profissão e com o profissional andam escassos, falar mal de médico virou rotina e parece mesmo que o médico é o vilão da história.
Amo o que faço, mas confesso que ando descrente de melhora diante do cenário atual: intolerância e desrespeito fazendo a imagem da medicina ser pisoteada dia após dia.
Gostaria de que o pensamento fosse simples assim: empatia.
Haveria mais felicidade para todos se fosse assim.
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