domingo, 24 de maio de 2015

Autorretrato

Não escondo a idade.
Nunca alisei o cabelo, nem pintei.
A cor e a textura são originais.
O corte muda de vez em quando.
Faz parte da estratégia trocar de face.
Não tenho silicone, nunca fiz lipoaspiração,
nem qualquer cirurgia plástica.
A cor da pele é autêntica.
Assim como todas as irregularidades 
que ela contem: sardas, manchas, estrias e cicatrizes.
Sem bronzeamento artificial, 
sem recursos de camuflagem.
Não sou sarada,
meu abdome não é negativo.
Tenho preguiça de atividade física, 
embora saiba da importância para a saúde.
Como açúcar, chocolate e sal.
Gosto de salada, mas não me importo se tiver só macarrão.
Não curto refrigerante, mas posso me servir dele vez ou outra, sem dramas.
Não aumento a altura, nem diminuo o peso.
O tamanho é meu, com orgulho, há anos.
Tenho orientação sexual definida, 
sem crise existencial por ser hetero.
Não uso piercing.
Não tenho tatuagens.
Não uso alargadores.
Não curto mentiras, 
Devolvo troco errado,
Falo o que penso
E penso muito.
Respeito muito as diferenças.
E que bom que elas acontecem!
Só não ando me enquadrando assim nas superficialidades.
Porque creio que pra ser feliz é preciso se aceitar.
Dentro das limitações que se tem,
nos projetos que a vida criou.
Tô aqui, tão diferente da grande maioria, 
tão fora dos novos padrões...
Estou minoria, sendo eu.
Sem aceitação no mercado?
Eis então, meu autorretrato.
Só para (me) enxergar.
Tem sido difícil ser fiel ás próprias origens, 
quando elas se perdem no vento.





quarta-feira, 13 de maio de 2015

E eu nem sei o que pensar...

E eu nem sei o que pensar...
Fico atônita com a capacidade de julgamento e de acusação, 
espantada com a ideia de que o outro estará sempre disponível pra resolver problemas alheios...
Que tudo pode ser resolvido a custo zero e com o mínimo de esforço próprio.
Mas ás custas de muito trabalho de outra pessoa.
Não sei como ás vezes consigo odiar alguém que nem conheço!!!
Como posso detestar uma buzina e a pessoa que a acionou sem necessidade, 
ter pavor de gente que destila grosseria espontaneamente, sem sequer saber quem é, 
criar aversão ao indivíduo após um comentário, uma atitude ridícula ou uma ação equivocada.
Não consigo imaginar como há gente que pense que se torna obrigatório estar pronto, 
sempre e em qualquer situação.
Sem erros, sem falhas...
Não compreendo como o luto dura pra sempre, 
como as pessoas não se encontram, 
que as coisas não se encaixam, 
que as ideias não vingam, 
que os planos morram antes mesmo de nascer.
Nem entendo a mágoa desmedida, que vira nó na garganta, 
caroço nas costas, insônia e fome.
E eu nem sei o que pensar.
Então, desisti da tarefa.
Liguei a TV, assisti sem preconceitos programas tolos.
Esqueci as conversas e as cobranças, as pessoas que se escondem e se iludem, as que não se resolvem e as que fingem se resolver.
Decidi que espero a noite chegar e o sono me levar com ele.
Sem preconceitos e sem a vergonha de assumir que não sei ás vezes como pensar, nem como agir.