sábado, 28 de fevereiro de 2015

Sobre tudo e sobre nada

O calor me desidrata. Peço chuva e nada.
Sempre gostei de chuva, embora dias ensolarados me encantem...
Mas a sedução da chuva e das tempestades é infinitamente maior.
Defino como arrebatamento, se posso assim dizer.
E como não vem mesmo (nem a chuva, nem o temporal), ando sendo consumida pelo calor e pelos dias corridos.
Até porque se tem ano rápido chama este aqui, 2015.
A segunda-feira chega anunciando a quarta que engole a sexta e pluft! 
Novo fim de semana rolando, indo embora mais rápido ainda que a semana inteira... Revoltante!
Mais revolta ainda tenho dos aumentos: os preços dos alimentos me infartam toda semana, conta de energia deixando os olhos no escuro, gasolina obrigando andar a pé ou de bike. Aumento também do ódio em relação aos políticos de merda que governam a nação e da massa manipulável que vive feliz na pobreza, preferindo ganhar o pouco que trabalhar para alcançar por esforço próprio algo maior.
E por falar em ódio, como é possível odiar alguém que não conheço?
Pois tenho tido lampejos de ódio fulminante! 
Odeio o moço que finge consertar o elevador, que começou o ano dando defeito e desde então nunca mais quis funcionar direito...
Odeio ter que fazer atividade física obrigada, subindo as escadas do prédio até em casa. 
Quero me exercitar quando der vontade e se ela vier. E tá bom assim.
Odeio também a fumaça fedorenta que aparece toda a noite catingando minha casa e os motoristas sem educação que passam correndo na ruela da minha casa, ultrapassam pela direita, não cedem a vez quando alguém dá a seta e não dão a preferência a quem está na rotatória. Não sei a cara de nenhum deles. Mas despertaram em mim um ódio insano.
E por falar em insanidade, optei por mudanças. 
Não, não vou mudar de casa, nem de cidade. 
Nem toda a mudança precisa ser geográfica.
Mudança de estilo de vida, escolhendo mais qualidade. Escolhi trabalhar menos e ser mais feliz. Mas com as contas subindo, a inflação aumentando, com menos grana pra pagar as contas e trabalhando menos, talvez a felicidade custe um pouco a chegar ou venha em pequenas prestações.
E para finalizar, confesso: sou eu que ando consumindo a água do planeta.
Fazendo natação 3 vezes na semana, com o cabelo do tamanho do da sereia, duro de cloro, ando morando no banheiro  com o chuveiro ligado para retirar o quilo de creme que uso pra transformar o arame farpado em cabelo de gente novo...
Pensando em novo corte ou novos cortes...


domingo, 1 de fevereiro de 2015

Coragem

Preciso de coragem.
Pode ser empaçocada num comprimido, diluída em uma bebida qualquer ou esfarelada na comida, como um temperinho.
Coragem dessas que fazem sair de casa, sem rumo, de mochila nas costas, sem destino nem direção.
Que seja capaz de fazer não só a troca de emprego, mas a troca de ideias, a permuta de planos.
Preciso de coragem em blocos, como tijolos, que edifiquem a parede do meu quarto, onde guardo meus sonhos.
Coragem de pegar a estrada desconhecida, de fazer novas amizades, ousar o caminho nunca antes visitado.
Preciso de coragem para amarrar o tédio dentro do armário e retirar de lá uma sacola de sentimentos velhos que já não servem e precisam ser descartados.
Coragem de dizer na cara o que se pensa em segredo, de apontar o dedo mesmo correndo o risco de ficar sem ele.
Coragem de dar tchau sem medo.
De dizer que deu tudo errado e que é assim mesmo algumas vezes... Paciência.
Preciso de coragem para trocar de cor, de forma, de linguagem.
Para me lançar nas águas profundas, sem me afogar.
Coragem de me desvendar para o mundo sem o receio da rejeição.
De cantar alto sem medo de desafinar, de apostar na nota alta sem deixar a voz falhar.
Quero a coragem dos novos sabores, do novo corpo, de outros pesos.
Coragem para dizer NÂO e SIM quando bem entender.
De chorar em público se quiser, de sair mais cedo se der vontade, de não sair.
Coragem para dizer que a preguiça me amarra e amordaça e sucumbir é minha última e derradeira escolha, muitas vezes.
Quero coragem do sorvete solitário, da praia na minha companhia, do passeio comigo mesma, da viagem com meu eu.
A coragem de não fazer contas, de fechar os olhos e pular no escuro, sem saber se existe rede, muro ou um braço para me segurar.
Preciso de coragem. Mas hoje já está tarde.
Quem sabe amanhã, se a chuva vier e lavar a poeira que o calor deixou?
Ou então, se no fim do dia, a maresia trouxer de volta o ânimo que me abandonou.
Quero a coragem do cão que ladra, mas não foge.
Que enfrenta os desafios sem reclamar. 
Coragem de ser tolo, de ser bobo, se assim precisar.
Preciso de coragem: unidades, dúzias ou pencas.
Se alguém souber quem venda, favor avisar.