terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

A lâmpada

E a gente pede um sinal, 
uma resposta 
Image result for lampadae a lâmpada do poste pisca na ida.
Pensa na vida, 
questiona o mundo, 
os valores, 
vai refletindo 
enquanto caminha no calçadão 
e, na volta, 
passando sob o mesmo poste, 
a lâmpada pisca de novo.
Coincidência, é claro.
Vamos então, de novo, 
perguntar pra si mesmo o que daria certo, 
qual seria a mudança necessária, 
o que anda errado,
enquanto mantém a caminhada.
Eis, que então, 
outra lâmpada, 
de outro poste, 
se apaga sobre a cabeça.
E desde então 
fico me perguntando 
se era o sinal pedido.
Ou perdido.
Poi, se foi mesmo,
favor alguém explicar o significado, 
que, de coração, 
a bonita aqui,
nem de longe, 
conseguiu alcançar.

domingo, 19 de fevereiro de 2017

0800



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Dia desses, resolvi fugir.
Tinha um caos instalado no Estado pela ausência da policia nas ruas e, aqui na cidade, parecia guerra civil. Como não poderia mesmo trabalhar e a saída de casa era proibida ou insegura, fugi.
Comprei passagem de ônibus, pois não tive coragem de ir sozinha de carro (sim, sou muito frouxa!) e fui pra casa de mamãe e papai, onde nenhuma guerra chega, onde o mal não entra, onde só tem amor. Parti.
O moço que vendeu a passagem escreveu no bilhete que o embarque poderia ser no ponto perto de casa. Embora estivesse em dúvida sobre a segurança do lugar mais próximo e o trajeto mais distante, decidi o lugar mais perto mesmo. Obriguei o irmão a me levar, que não sou boba. 
Depois de uns 20 minutos de espera no sol quente do deserto de Vitória, num ponto vazio de asfalto desabitado, o ônibus passa e não para. Vejo o carro trocando de pista e se afastando do ponto, e o dedo em riste do motorista fazendo um "não" e apontando pra rodoviária adiante.
Nem sei se foi raiva, pânico, ódio ou decepção na hora. Acho que senti tudo junto com um frio na barriga de ser deixada pra trás... Corri que nem louca com bolsa pendurada e o o irmão beeeem a frente abrindo o caminho até o ponto de táxi mais próximo.
Deparo com um carro fechado, sem ninguém dentro. Cadê o motorista, gente?
Aparece um senhor acenando, vindo do posto de gasolina, meio que correndo,  meio que andando mais rápido.
Mostro a passagem na mão e falo que vou perder a viagem porque o ônibus não parou no ponto.
Entro feito doida no táxi e peço pro moço ir o mais rápido que conseguir. Ruas desertas, quase sem trânsito, era certo de que o ônibus chegaria logo na rodoviária.
Suada, ofegante, palpitação até no pescoço, torcendo pra conseguir pegar o ônibus antes dele seguir o caminho dele...
Cheguei a tempo. Vi o ônibus azul parado no terminal rodoviário, saí correndo do táxi e entreguei a única nota de $50 "dinheiros" que guardei cuidadosamente naquela semana de caixa rápido e bancos zerados.
O taxista tira um monte de notas do bolso e diz que não tem troco. O taxímetro mostrava $19,75. 
Pedi que ele cobrasse o que pudesse me dar de troco, pois eu não tinha muito tempo. Então, ele me devolve $20 e cobra $10 a mais pela corrida. Se eu preciso escolher, que seja o mal menor. Preferi o prejuízo dos $10 a perder a viagem. 
Entrei assim que pude e comuniquei imediatamente o ocorrido ao funcionário da empresa do ônibus que explicou que, por medidas de segurança, os embarques estavam sendo feitos apenas nos terminais rodoviários. Perguntei então por que a orientação não foi repassada ás empresas que vendem as passagens e mostrei o bilhete onde estava escrito o ponto onde o embarque seria feito.
Nem sentei e já liguei pro 0800 que estava escrito apagadinho na passagem e fiz a reclamação. Anotei o protocolo no verso do bilhete mesmo.
Nem sei como tive fôlego pra conversar com a moça, pois não tinha recuperado a normalidade ainda depois da correira insana. Contei tudo. Até do taxista que não tinha troco. Deram 5 dias úteis para contato e resolução da queixa.
Depois do susto, fui recobrando a capacidade de raciocínio e descobri que não tinha um recibo sequer do taxista que pudesse comprovar a corrida. Pensei também no tanto que fui lesada ( nos 2 sentidos do significado que a palavra pode ter): na falta de troco, deveria prevalecer o menor valor. Afinal, dinheiro pra pagar o serviço eu tinha. Daí, lembrei ainda do discurso inflamado dos taxistas contra os carros do aplicativo uber... 
Tive mais ódio ainda quando me recordei que não ter troco é uma desculpa frequente, que muitas vezes não querem buscar o passageiro se a distância da viagem não for vantajosa no pagamento (o que acontece comigo na maioria das vezes pela proximidade entre minha casa e os lugares que frequento), das inúmeras vezes que liguei pro ponto de táxi que fica do lado de casa e não fui atendida (embora passasse em frente e tivesse taxista descansando dentro do automóvel e preferisse não atender as chamadas), dos valores "combinados" não respeitando o uso do taxímetro, enfim. Listei mentalmente mil motivos pra nunca mais querer usar um táxi na vida.
A viagem prossegui na paz do céu, até porque já tinha vivido meu inferno particular.
Após 4 dias, liga um funcionário da viação dizendo que iriam ressarcir o valor da corrida de táxi: os famosos $19,75. O que o taxista cobrou a mais por falta de troco não era problema deles. Achei justo. Poderia ter contado que o táxi me custou $30. Não seria mentira. Mas como não costumo dizer inverdades e estava meio perplexa com a capacidade de cobrar a mais numa situação de desespero alheio, desabafei com a atendente dizendo tudo tal como aconteceu.
A empresa me pagou o valor mesmo não tendo como comprovar o táxi com recibos (como ter um no auge do pânico do seu ônibus indo embora e deixando você pra trás de novo???).
Fui exclusivamente ao terminal buscar o que era meu de direito, com todos os centavos que me pertenciam.
Os taxistas que me perdoem, mas não quero mais seus serviços. Quando a população escolhe o aplicativo não olha só o preço mais barato da viagem, mas também a rapidez da chegada, a cortesia e a possibilidade de não precisar de troco.
Não vou ficar mais pobre por conta de $10. O que causa indignação é a capacidade de se aproveitar do outro, seja pelo desespero, pela ingenuidade ou pela situação inusitada. 
E com a demonstração gratuita de desonestidade que tivemos nos últimos dias, pude pensar: não tem mais honesto ou menos honesto, não tem meio certo ou meio errado. 
Apropriar-se do que não lhe pertence, cobrar preço injusto, invadir propriedade privada, tirar a vida de alguém são delitos de maior ou menor grandeza, mas continuam sendo delitos, independente de quem os comete.
Parabenizo a empresa (Àguia Branca) que acreditou na palavra do cliente (no caso, eu), mesmo não tendo provas do ocorrido. Num mundo onde a maioria quer levar algum tipo de vantagem, fica difícil crer nas pessoas sem pedir algo que assegure a verdade.
Daí, lembro de Mamis, dizendo que " quem é desonesto no pouco, é desonesto no muito" e me fazendo devolver o troco errado ou a caixa de fósforo que fiquei chacoalhando na mão e só dei conta de que tinha ficado comigo depois que tinha saído do mercadinho...
Tudo é questão de oportunidade e berço. 

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

A casa

Diante do caos instalado nos últimos dias, vale a reflexão.
Todo mundo dentro de casa, sem poder ir e vir: nada de trabalho, escola, academia, yoga, pilates, praia, calçadão, supermercado, farmácia, padaria, trânsito, banco, falta de vagas pra estacionar, atrasos, desculpas, baladas, jantares, almoços, amigos, cinema, festas, shows...
A vida dá uma pausa inesperada e lhe mantém trancado, assistindo tudo da sacada, da janela.
Ás vezes, ver de fora, faz enxergar melhor.
Estamos sem o melhor e o pior das nossas vidas.
Sem o que nos agrada e sem o que nos esmaga também.
Como quis ficar em casa descansando depois de um dia cansativo...
E num dia de preguiça, não admiti a possibilidade de trocar o sofá pela caminhada no calçadão.
Já desisti da praia pra dormir até mais tarde.
E também desisti da festa pra ir pra cama mais cedo.
Troquei o passeio de bike por uma soneca em casa.
E sim, dei desculpa esfarrapada pra não acompanhar todo mundo que ia pro churrasco.
Inventei um motivo pra não sair, uma história que me prendia nela, na minha casa.
Pois é. Tenho curtido, forçosamente, o tempo em casa, embora a ansiedade em voltar á vida me acompanhe nas olhadas ás redes sociais, na procura por boas notícias.
Boas notícias causam saudade.
A casa da gente é refúgio. Proteção entre os queridos.
Feliz de quem tem onde se esconder, se entocar.
O mundo lá fora é cruel, fere e machuca.
Em casa estamos um pouco longe da barbárie. Mais perto do amor.
Pelo menos, no conforto do lar a vida é mais doce.
O amargo da violência, da opressão e da desonestidade fica da porta pra fora.
Se não é, assim deveria ser.

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