domingo, 9 de março de 2014

Mulher macho




No dia da Mulher eu quiser ser homem. 
Sim, quis de verdade!
Sempre invejei a possibilidade de fazer xixi em pé e a comodidade de fazer uma coisa só por vez.
Neste dia então, mais ainda, desejei ardentemente a displicência masculina  e a arte inconfundível de nunca encontrar o que se procura...
Quis não precisar depilar a cada 15 dias e ser livre!
Não ter que me preocupar se a unha está feita, não ter que escolher ou combinar cor de esmalte,  não ser obrigada a ir ao salão e esperar sentada a vez de gastar tempo e dinheiro pra ficar enfeitada pro resto do mundo.
Sim, eu quis ser homem!
E descobri em mim um desejo louco em desprezar o salto alto e mergulhar de cabeça no mundo da descombinação: sapato sem meia, xadrez com estampado e a liberdade infinda de todas as ocasiões chamada chinelo.
Descobri um lado masculino querendo ter 50% da prole sem ter 100% dela no ventre.
Quis não ter cólica, menstruação ou TPM e suas preocupações conjugadas.
Nada de sutiã apertando nem calcinhas especiais que não marcam a roupa.
Nada de lingerie combinando, celulite, estrias, gordura localizada e afins. Não mais!
Sonhei com a ideia de ficar pronta pra sair de casa em 5 minutos, mesmo se o evento fosse a ida ao boteco, um casamento ou um baile de formatura.
Queria que minha maior preocupação fosse o nó da gravata!
Pisar no ralo e cuspir no chão! Por que não?
Quis ser homem sim, confesso, e flagrei-me feliz com a ideia de lavar o cabelo com sabonete na falta de xampu, sem me questionar se ia ou não danificar os fios...
Feliz em calçar um tênis qualquer se não encontrasse o sapato.
Quis sentar sem me preocupar com modos; 
estufar o peito e partir pra briga; 
fazer um gol e partir pro abraço!
Quis ter sido menino e jogado bola, soltado pipa, peão, brincado de vídeo game, me estrupiado em lutinhas...
Mas desperto do devaneio: o fecho do sutiã pinica e o aro  incomoda. 
Volto ao meu mundo cor-de-rosa-cinza-escuro de dar conta de mil coisas ao mesmo tempo.
Conserto a roupa íntima, disfarçadamente, arrumo o cabelo e caio na realidade do universo feminino: 
beleza, força e simpatia; eficiência, elegância  e inteligência; pontualidade, assertividade, perfume, drama, choro e estresse, um pouco de blush e batom vermelho de arremate, queridos, porque sem um pouquinho de glamour a gente não dá conta do recado!

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