quarta-feira, 15 de abril de 2020

Carta para o Filhote

Ei, filhote!
Espero que esteja tubo bem aí dentro da barriga.
Mamãe está bem aqui do lado de fora e seguimos juntos.
O mundo é que anda meio torto...
Jamais imaginaria que passaríamos por uma pandemia.
Acho que nem nos pensamentos mais remotos essa ideia surgiria.
Mas como mamãe vai ensinar, não temos muito controle das situações e das pessoas.
Algumas pessoas são difíceis de lidar, outras são impossíveis.
Outras situações nos consomem a paciência ou esgotam nossas possibilidades de resolução.
Se mamãe pudesse resolver tudo na base da varinha de condão, certeza de que estaria tudo certo já.
Seguimos administrando o caos.
A última ultrassonografia foi remarcada e faz um tempinho que não vejo você.
Mas para compensar, já sinto você passeando e mexendo no espaço que tem aí dentro e isso é muito bom.
Vamos torcendo e rezando para que a nova normalidade se instale.
Porque a antiga, certamente não existirá mais.
A barriga está crescendo e tenho mandado fotos e vídeos para vovô e vovó, os Tios e o primos.
Por enquanto, você tem aparecido  discretamente na barriga, apenas em redes sociais.
Aparições em público estão cada vez mais raras.
Tenho tentado proteger você de todo jeito: a vacina de gripe já foi e falta só mais uma agora.
Tenho saído de máscara apenas nas consultas e exames, ou quando é realmente necessário, feito alguma atividade física e comendo de forma mais saudável possível.
Papai tem se esforçado bastante também.
Ainda não sabemos seu nome, nem seu sexo.
Estamos mais preocupados com sua saúde e crescimento.
O resto, daremos jeito.
A reforma da casa nova está  meio agarrada e papai fica um pouco nervoso.
Ele queria que já estivéssemos todos lá.
Estamos aguardando as cenas dos próximos capítulos (novela longa, viu?).
Esperamos em breve estar lá para montar seu quartinho.
Por enquanto, fica quietinho aí ganhando peso e saúde. Não temos pressa.
Beijos da Mamãe.

quinta-feira, 2 de abril de 2020

Alô, alô, Marciano?!

"Aqui, quem fala é da Terra...
Pra variar, estamos em guerra.
Você não imagina a loucura!"

Já ouviu essa antes, né?

Pois, sim.
Estou aqui no sofá escrevendo,
esperando sol se por e o calor dissipar
para começar meus exercícios físicos.
Estamos de quarentena, todos ( ou quase todos)
trancados em casa. 
O mundo todo.
Não tem academia, nem parque aberto, 
nem Shopping, nem loja, nem escola.
Quem pode trabalha de casa, quem não pode passa dificuldade.
O dinheiro anda curto para todos.
"Quem tem mais é chamado a repartir".
Há países inteiros parados, hospitais lotados
e uma lista de números de doentes e óbitos 
que deixa qualquer filme de terror "no chinelo".

Amanheci 2020 sendo casa de outra pessoa

e por isso, ando reclusa e trabalhando de longe.
Não sei se é hormônio, se é intuição materna, 
se é instinto de preservação de espécie.
Só sei que depois que a gente vira casa, 
a pessoa que mora dentro da gente passa a mandar no resto...
Nem faz muita questão da si mesmo, sabe?
Só pensa no outro. Enfim.
Sigo comendo e assistindo noticiários
mais tristes que a tristeza do mundo inteiro.
Tomando susto a cada mexida inesperada
que ainda não me acostumei a sentir...

E pensar que o caos instalado 

foi causado por um bichinho microscópico,
que precisa de uma célula para viver, 
mas que tem seguido de mão em mão, 
de espirro em espirro, 
de abraço em abraço,
de continente em continente,
do Oriente para o Ocidente 
destruindo economias gigantes, 
fazendo vítimas,
fazendo todo o mundo passar perrengue e se questionar: 
Como será ali adiante?

Os políticos seguem se estapeando.

Quem puder tirar vantagem da crise, com certeza, vai se fartar.
Índole e caráter não são para todos... 
Vírus são mais democráticos.
Sigo esperando o foguete da Nasa.
Levando todos para a lua ou Marte.
Seria um rolê bacana no momento.
Teria que poder levar grávidas, para valer o ingresso.
Com volta agendada antes do Armagedon ou do parto.
O que vier primeiro.
Vale repetir que "a crise tá virando zona".
"Cada um por si todo mundo na lona
E lá se foi a mordomia..."

Cada um que limpe sua casa, 
que ensine seus filhos, 
que segure seus velhos em casa,
que prepare sua comida ou peça Delivery
pra ajudar o comerciante 
que segura as portas abertas no muque.
Quem tem religião que a use, 
quem tem fé que se segure.
Quem não tem, se conforte na ciência.
Ou em qualquer outro assunto 
que mude o foco e apazigue o medo.
Só sei que "está cada vez mais down" o " high society".