quinta-feira, 3 de agosto de 2017

A Lei do Retorno

Sabe aquela sensação boa de limite físico superado? Nunca tive. De verdade.
Sabe aquela sensação de bem estar pela liberação de endorfina após atividade física intensa? Nunca rolou. Só com chocolate.
Sempre achei sacal exercício físico exaustivo. 
Era o fim do mundo pra mim sentir o fôlego indo embora e aquela dor esquisita no quadrante inferior do abdome durante a corrida,  dando sinal de que não daria pra continuar,  ou aquele pedido de socorro "pelamordedeus não vou aguentar mais" com o coração na boca... 
Enfim, a atividade física era um tormento. Sempre foi.
O talento pro esporte nunca existiu.  Foi e é zero.
Era a última a ser escolhida na escalação dos times.
Nas corridas, andava, sempre que podia... 
Fazia corpo mole na quadra, fingia amizade com a professora de educação física pra conseguir ser liberada das atividades...  E por isso, a menor nota do boletim escolar era  sempre dela... 
Tentava levar todo mundo na conversa pra conseguir fugir da atividade física...
Eu era da turma do papel crepom e da purpurina.
Tinha jogo interclasses? Precisava de mural, enfeites na quadra, fazer pompom pra torcida? 
Era a primeira candidata. Amava a ornamentação! Fazia com prazer! 
Precisava de alguém pra leitura? Cantar o hino? Fazer teatro, apresentação de dança, jogral, desfile? Ia feliz da vida! Sem sofrer.
Mas quando o assunto era fazer parte de alguma equipe, de algum time, era um castigo! 
Só consegui encontrar alguma graça nas atividades físicas que continham algo de lúdico: capoeira, dança, pilates... Mas não foram suficientes para sanar o que o corpo pedia...
Depois de anos afastada da academia, acabei voltando. Não por gosto, por necessidade mesmo.
A idade vai crescendo e uns ajustes se tornam urgentes, antes que não haja mais como consertar.
Então, a gente volta, mesmo sem querer, mesmo sem gostar, por obrigação, igual tratamento médico.
Compromisso é coisa séria: não falto, não burlo, mas reclamo e resmungo, que não sou de ferro... Dizer que gosto é contar mentira e, como só trabalho com verdades, não saberia fingir...
Não curto o clima, não entendo os aparelhos, me enrolo  até na roleta da entrada e na esteira (hehehe!)...  Acho as pessoas estranhas (embora elas também devam me achar esquisitona), tudo impessoal e superficial... Falta afinidade mesmo. 
Sou da turma do papel crepom! 
Gosto da miçanga e do canutilho, da purpurina e da cartolina! 
Da música, do canto e da dança, do livro, da janela, da praia e do sol quente na moleira! 
Do leite queimado, do chocolate quente, do bolinho de chuva, do bordado, da pintura, da viagem, da conversa fiada... Meu ritmo é outro!
Mas vou superando as adversidades diárias e perdendo menos o ar a cada treino. 
Se estou ficando forte? Com certeza! A força vem da resiliência. E a resiliência me dá força.
E sigo mantenho os olhos fixos nos benefícios que o que eu não gosto vai me proporcionar.
Complexo? Não muito. É a lei do retorno. 
Sabe as aulas de educação física que  eu fazia de tudo pra não participar? 
Não iria fugir eternamente, não é?  Chegou o momento de repor as escapadas. Tô aprendendo.