terça-feira, 29 de junho de 2010

Gente

Gente precisa de tempo:
Para gestar, para crescer...
Precisa de bons argumentos
Para decidir sobreviver.
A escolha é difícil, árdua.
Optar por morrer é bem mais fácil...
A dificuldade está em lutar todo dia
E lembrar toda noite
que a saga continua amanhã e depois, e depois...
Gente precisa de carinho,
De um abraço apertado e um beijo.
De frases de elogio e gracejo
De saber que se é necessário.
Gente precisa de ser importante.
Saber que é a preocupação de outra pessoa.
Preocupação boba, á toa,
Mas motivo de pensamento...
Gente precisa de talento.
Para contar fatos, números, histórias.
Precisa levar docemente a vida
Fugindo das maldades e discórdias.
Gente precisa de laços,
Precisa de trabalho, de luz, de espaço
Para poder produzir, criar, nascer...
Gente precisa de gente. Sempre.
Para sorrir, para falar, para saber...
Coração não fica bem sozinho.
È preciso de outro compasso, outro ritmo
Para continuar a bater...
Gente precisa de silêncio
Para pensar e fazer.
Gente precisa também de barulho,
De festa e de multidão.
Precisa de música, de vozes, toadas,
Precisa de canto e violão.
Gente precisa de sono.
Precisa de momento de reflexão.
Precisa também de abandono
Para compreender sua própria dimensão.
Gente precisa de palavras,
De comida que sustente a alma.
De riqueza de espírito e perspicácia.
O básico é o necessário. Mais nada.

Poema para minha alma

Ò pequenina flor
Quisera eu observar-te sem reservas
Almejei por tanto tempo seu perfume
E contentei-me apenas em ver-te ao longe.

Onde esconde este mistério em tuas pétalas?
Enreda-me a alma e cativa-me o espírito
Desejava-te eterna, etérea
Mas sobra-me apenas a lembrança, o refúgio

Recordo-me a tristeza do jardim vazio
E a esperança de retorno de seu viço
Imaginar-te despedaçada ao vento
Traz-me a inquietude, desatino

Delicado presente
Escravizada estive pelo teu encanto
Entreguei-te meu cuidado e no entanto
Resistência não houve á ventania, ao temporal

Flor querida, pequeno lírio
Resta-me a memória por fim
Libertada agora minha alma
Anseia a descoberta de novo jardim

Exigiu-me a vida a desistência
Cultivá-la sem zêlo não procede
Aguardo as sementes, a descendência
A saudade que instiga, que impele

Alforriada, pois, de teu domínio
Entrego-me ás reminiscências
Despertadas pela luz de teu fascínio
Encobertas do infortúnio da descrença.

domingo, 27 de junho de 2010

Sensação estranha

Flagra na desobediência
Puxão-de-orelha em público
Anel escondido e nunca mais encontrado
Dinheiro rasgado
Jóia perdida
Relógio atrasado
Compromisso perdido
Sapato querido furado
Meia-calça desfiada na festa
Membro mutilado
Documento roubado
Data importante esquecida
Atraso no vôo
Aposta perdida
Leite derramado
Comida estragada
Louça quebrada
Alma vendida
Pisão no calo
Dedo na ferida
Recado não recebido
Bilhete premiado perdido
Bagagem extraviada
Carta que nunca chega
Segredo revelado
Mentiras enaltecidas
Verdade que ninguém acredita
Reprovação
Prova substitutiva
Erro na declaração
Desconto não oferecido
Aumento súbito de preço
Dor de cabeça lancinante
Dividas sem fim nem começo
Esta é a sensação estranha.
Como se algo importante tivesse sido arrancado de mim
E não mais pudesse se reintegrar.
Nunca saberei explicar...

sábado, 26 de junho de 2010

Colheita

Não crio expectativas.
Vou tecendo pouco a pouco a rede do dia de hoje.
O amanhã nao me pertence.
Por isso faço valer o que ainda tenho nas mãos.
Meu plano é não ter planos.
O acaso adora me fazer surpresas.
O destino contraria meus projetos.
Então, não me preocupo em fazer questão dos detalhes.
Subitamente a solução se apresenta e a oportunidade se constrói.
Sempre foi assim.
Mesmo que inicialmente pareça ser definitivo ou inexorável
a vida oferece uma outra possibilidade.
Cedo ou tarde, ela se manifesta.
Minha vida é uma festa e os convidados nunca vão embora porque a comemoração não tem hora para acabar.
Por isso, não conto os presentes, não retiro a mesa, não recolho os copos.
Estarão sempre lá.
Por que não espero grandes mudanças, nem planejo meu futuro.
Meu dia é agora.
Meu momento é hoje.
Para amanhã cabe as preocupações do dia seguinte.
Se certo ou errado, não cabe a mim dizer.
Apenas espero a colheita dos frutos. Pacientemente.

Três amigas

O tempo passa, a distância torna-se fato, as mudanças continuam acontecendo e nós permanecemos.
Como era no princípio, com as mesmas particularidades.
Hoje, as prioridades são outras.
O trabalho e os compromissos nos afastam, mas a amizade que nos une é muito maior que as responsabilidades do mundo de adultos.
Continuamos próximas, contando segredos, pedindo conselhos, rindo e reclamando juntas.
Pedindo favores de irmãos, confidenciando o indizível, elogiando com o coração e pedindo a intercessão divina uma pelas outras.
O céu, ouve. Tenho certeza.
Por isso continuamos assim: coladas, unidas, grudadas com uma liga que não se solta.
Talentos diferentes, características peculiares, modos, gostos e frases próprias.
Mas fazemos parte de um contexto que não sofre modificações: a nossa história.
Amor de amigo nunca morre. O poeta já sentenciou.
E isso faz meu coração mais alegre.
Sei que continuaremos participantes de cada novidade trazida pela vida.
Não importando pra quem seja.
O que nos une é atemporal.
Não há geografia, economia ou história que interfira.
Não existe fómula que explique ou justifique o que assim nos torna.
Continuamos as três amigas de sempre: eu, Estê e Ana.


quinta-feira, 24 de junho de 2010

Assim

Pouco tempo, muitas novidades.
Escrito e lavrado, é meu por merecimento.
Divido este momento com quem realmente torce por mim.
Perto ou longe há quem não esconde sua preferência pela minha alegria
A estas pessoas - lindas almas boas- dedico mais um dia feliz.
Mais um tanto de trabalho e recompensa.
Pensa que é fácil receber o presente?
Que o vento traz gratuitamente as sementes?
Não. È necessário reunir pouco a pouco os grãos...
Mas não me importo com a adversidade.
De verdade? Quanto mais custoso, mais delicioso é.
Para mim é assim.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Teste

Erro e acerto: bastam tentativas.
Tudo não passa de um teste. A vida inteira.
Teste para saber se a gravidez existe.
Teste para confirmar saúde ou doença.
O sono é o breve teste da morte.
A vida é uma sequência de testes, sem cartão-resposta.
Teste para ver se dá certo.
Vale também para saber se deu errado.
Teste para o fermento não desandar o bolo.
Teste para o despertador não deixar de tocar na hora marcada.
Teste da roupa para o encontro.
Vários testes para elas nas lojas...
Teste para saber se vai levar uma bronca, contando uma história inventada, investigando a reação despertada...
Teste para ver se a nota da canção faz sucesso.
Para descobrir se o recado tem ou não resposta.
Teste para saber se aprendeu ou se precisa de estudar mais.
Teste para saber se já passou ou se ainda permanece.
Para ver se cabe no pé.
Para ver se cabe na mente.
Para ver se cabe no bolso.
Para ver se cabe na gente.
Teste para adivinhar o futuro.
Teste para acertar no presente.
Teste para dosar o tempero.
Teste para averiguar resistência.
Teste para saber se funciona.
Para saber onde é o defeito.
Medidas e pesos são testes
para saber o que é perfeito.
Continuo em teste. Vou descobrindo o que me falta.
Lentamente procuro minhas tão pretendidas respostas...

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Passarinho

Colibri que passa de flor em flor ao sabor do vento...
Não me peça pra pousar, porque não conseguirei.
O céu é minha casa e o espaço é meu território.
Preciso do ar no rosto pra espalhar meu canto.
Não há como me querer em uma gaiola.
Preciso de janela aberta pra sentir o chamado...
Não há como exigir particularidade: vou aonde houver flores.
Onde existir néctar, onde couber minhas asas e meu som.
Não espere visitas diárias: eu escapo do controle.
Não deseje a ave só pra você. Ela faz parte do todo.
Ela é inseparável do ar.
Passarinho voa se a aproximação é grande.
Procura o alto se quiserem lhe manter entre as mãos.
A beleza do vôo está na liberdade.
A liberdade é quem determina o caminho a voar.
Causa e consequência.
Não haverá felicidade em asas presas.
O futuro não existe sem o vôo do presente.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Pós-plantão

Dói o pescoço, a garganta, o dorso.
Mas a sensação é de dever cumprido.
Noite e dia compridos, mas bem findados.
Acredito que trago comigo a capacidade de fazer o bem
mesmo que o corpo padeça pelo excesso...
Peço apenas um pouco mais de coragem
E um tanto mais de vontade
Para que não desmorone com o tempo
a sensação de que tudo foi resolvido.
Não tenho super poderes
Nem capa que promova o vôo
Tampouco asas ou força descomunal.
Só o sentimento de que posso ajudar um pouco.
E depois, a dor e desconforto
cedem ao cansaço gostoso, aquele que o corpo pesa
e os olhos cerram pedindo repouso.
Só isso basta para valer.

domingo, 13 de junho de 2010

Paz de espírito

Estar em paz consigo é a mais bela forma de felicidade.
Tranquilidade, serenidade
Viver sem alarde, sem alarmes
Experimentar calmamente a evolução lenta, porém breve dos momentos
Boas conversas, boa companhia
Sono tranquilo, trabalho produtivo
Há prazos e datas
Mas a mente consegue estabelecer as metas
Mesmo se houver atrasos, há também recuperação do tempo
Faz tempo que procuro esta estabilidade
Procuro por sossego e paz de espírito
Chega enfim o momento...

sábado, 12 de junho de 2010

Para Victor

Ilustríssimo cavalheiro,
Sorte imensa desta dama encontrar tanta nobreza
Diante de tanta discórdia e desavença
Deparo-me com alguém de alma rica e espírito corajoso.
De novo começo a crer que algo de precioso a mim está reservado.
Espero, ao seu lado, desfrutar de grandiosos momentos
Simples, mas intensos, cheios do que há de mais puro e genuíno no mundo.
Entrego-te a peça delicada que trago no peito
que sutilmente, ao lembrar-me de ti, atrapalha-me o pensamento
Peço que cuide dela ao seu jeito
Que zele por ela e a proteja.
Com certeza, sei que se encontra em mãos cuidadosas.
Acredito que será bem guardada e protegida
em seus pensamentos, em seus braços, em sua vida.
Agradeço-te a sorte que a vida a mim oferece.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Herança

Recebi uma herança.
Está nos traços do meu rosto.
Está no escuro do meu olho.
Está no meu modo de falar.
Traço genético imperfeito: é meu jeito de dizer e de pensar.
Não pude determinar qual meu tamanho.
Mas posso definir a dimensão do meu sonho.
Não pude escolher o sorriso que tenho.
Apenas determino onde e como vou sorrir.
Se de dentro pra fora ou de fora pra dentro.
Não optei pela cor que o sol queima
Nem pelas efélides que mancham meu nariz.
Mas escolho aonde ele aponta.
E faço as contas de como ser feliz mesmo assim.
Apenas aceitei a herança.
De não saber onde se pisa.
De ver de perto as pessoas
E me divertir com elas.
Escolhi a herança que pretendo deixar:
Um cheiro de chuva caindo na terra seca,
Uma saudade, uma suspeita
Um abraço forte e um aceno fraco
Uma gargalhada que se ouve longe
Um enigma pra alguém advinhar.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Para os meus amigos

Ah, os amigos...
São pequenas contas de um colar valiosíssimo.
Entretanto, se não estiverem unidas, não dão forma ao adereço
Perdem seu preço e o colar não existe mais.
São irmãos e primos que nos permitimos escolher.
Não comungam de laços de sangue; são enovelados de laços de vidas.
São pequenos grãos de areia que formam grandes dunas.
São colagens de figuras que ilustram o álbum da existência.
São convites de festa.
São ingressos pro nada.
Amigos são almoço e jantar da alma.
Sobremesa do espírito e deleite pro repouso.
São abraços de pai e de mãe camuflados.
Sem o peso das cobranças, sem o olhar que condena ou que pune.
È passagem pra Terra do Nunca.
Com retorno pra Terra do sempre: sempre presente, sempre do lado, constante confidente, cúmplice e conivente.
São brinquedos que sonhamos em ganhar.
E que jamais esqueceremos na estante.
São sorrisos e olhares, gargalhadas e lágrimas que transformam a nossa face.
E há quem ache que nunca mais seremos os mesmos depois de experimentar tão grande segredo: ser você no outro que é ele mesmo em você.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Lá vem a Copa!

Ninguém mais pensa em eleição, nos valores altos dos impostos, no preço do combustível, na crise, na violência urbana, nas enchentes e corrupções.
È ano de copa! O que mais importa?
Os acontecimentos vão sofrer uma pausa.
Nada atinge os jogos do mundo!
Tudo vira inspiração: roupas, adereços, varandas e carros com bandeiras.
A bandeira nacional nunca é tão usada como nesta época!
Depois, volta a ser pano de chão.