quinta-feira, 21 de abril de 2011

Novidade

Ainda sou surpreendida com as revelações de péssimas condições de atendimento nas unidades de saúde, pronto socorros e clínicas, como se fosse a mais nova verdade a ser divulgada.
Desde que me vejo inserida no contexto da saúde, seja ela pública ou particular, esse tipo de notícia nunca foi novidade.
O que tem de novo agora é a população procurando a imprensa com muito mais frequência que antes, munida de imagens- fotos ou filmagens- das condições degradantes a que os pacientes são submetidos, e que antes feriam apenas nossa visão. Agora é de domínio público. Isso é novidade!
Novidade é descobrir que a população sabe que tem direito a um atendimento decente e que pode - e deve- reinvindicar a condição que merece.
Novidade é a tecnologia sendo utilizada como forma de cobrança das autoridades e como denúncia das más condições de atendimento.
Ainda aguardo a novidade de o médico deixar de ser culpado pelo caos da saúde no país.
Que a população também descubra que a falta deste mesmo médico é por pagamento insuficiente ou por condições de trabalho tão ruins quanto áquelas que eles mesmos ( os pacientes) são submetidos.
Que falta leito, médico, ambulância e remédio todos sabem.
E mais: falta também sabão para higiene das mãos, papel higiênico nos banheiros, luvas de procedimento, roupa de cama, quarto de repouso médico, dentre outras coisas.
Não, não falo só da saúde pública. Não faço críticas ao Sistema ùnico de Saúde apenas. A saúde privada anda pela mesma vereda: a privada.
Mais?Falta ainda educação para as crianças, transporte para que cheguem aos hospitais, e acima de tudo, falta respeito.
Aprendi como deve ser a medicina e vivo assistindo como ela não deve ser.
Não quero me acostumar com o tic-tac do relógio e achar normal uma criança internada entre duas cadeiras de plástico unidas feito maca.
Quero a novidade de poder trabalhar sabendo que valorizam minha profissão e que promovo o bem; que a dignidade faz parte do receituário a ser prescrito e que a consciência tranquila continuará me fazendo companhia.

Deve haver


Deve haver um tipo de amor que não se aborreça.
Desses que não se incomoda com o horário,
com vestimentas, cardápio ou coisas assim...
Que não se apegue a promessas, que esqueça defeitos,
acorde e adormeça sem lembrar de dívidas, de erros,
que não cobre religiosidade ou a falta dela.
Que não espere presentes,
que não mande recados através de caretas,
que não critique, que não fale de boca cheia,
que não se importe com a chateação própria ou alheia,
tampouco invente motivos para aparecer...
Tipo de amor baseado em cumplicidade e respeito,
que não rouba o coração de alguém , e sim, o cativa.
Amor que abraça; e não sufoca.
Amor que entrega e não pede de volta.
Não culpa, nem exige culpados.
Sem ciúmes, sem mágoa, nem tristeza.
Apenas mansidão, leveza. Profundidade de espírito.
Deve mesmo haver algum tipo de sentimento maduro
que não seja refém das frivolidades humanas,
que surja a partir do desinteresse e cresça, lentamente,
sem precisar utilizar-se do outro para isso...
Acredito que exista. Penso até que descaminhe por perto.
Definitivamente, ainda não o encontrei.
Se o vir andando a ermo, peça que fique.
Convide-o para passar um tempo.
Faça com que se acomode e permaneça.
Deve mesmo haver algo assim.

sábado, 16 de abril de 2011

Texto de hoje

Não me contento com meias verdades.
Não sei viver assim.
Há quem não se importe em dormir com mentiras
e fingir que a vida continua bem,
mesmo que o caminho percorrido seja bem outro.
Prefiro continuar encarando a realidade de olhos bem abertos
e muitas vezes me ferindo ao tentar digerir sabores amargos,
do que permanecer na escuridão da hipocrisia.
Não está bom? Quero mudanças.
Pode ser melhor? Que venha a melhora.
Há outra opção? Sempre.
Nunca vivemos sem chance.
Basta querer enxergar além.
Só não há jeito pra morte, porque ninguém ainda voltou pra contar se precisa mesmo de jeito por aqui...
Porque, talvez por lá, esteja tudo na mais perfeita paz.

domingo, 3 de abril de 2011

...

Seria deveras agradável compreender.
Dificuldade em saber o que a vida me mostra,
o que na vida se mostra, assim, tão perto, pra mim.
Sinto-me cega: olhos colados para os fatos.
Sinto-me mutilada: sem tato para perceber
o que a vista embaçada não deixa enxergar.
Sinto-me burra: não sei ler o que se escreve sem palavas, sem escrita.
O desenho vai surgindo. Apenas ouço o som do rabisco, mas não entendo.
O que está sendo pintado? Não consigo ver!
Não sei empunhar o lápis para definir o desenho.
Nem sequer vislumbro a forma que toma conta do papel...
Precisava antecipar a próxima etapa, mas não sei como e nem aonde ir.
Seria bom compreender: meus impulsos, ou a falta deles; minha mansidão quase apática, meus desejos de descanso, de fuga repentina; meu descaso, minha falta de projetos, a ojeriza pelo domínio; essa forma sempre correta de querer resolver o mundo.
Continuo então cega e sem rumo.
Qual será a parte de amanhã?

Indignada

Ando pouco inspirada.
Engolida por papéis, prazos
e um cansaço enorme, sem precedentes.
Tentando entender por quê tanta injustiça,
tanto desperdício e falta de bom senso.
Acredito que vou permanecer na tentativa, sem descobrir a causa.
Desanimada com o comodismo de muitos.
Desacreditada pela má fé de tantos outros.
Aterrorizada por gente que se orgulha de tirar proveito da desgraça alheia,
que vive de aplicar golpes (alguns de proporções gigantescas),
sabendo que causa sofrimento e ruína em tantas casas...
Assistindo ás notícias do caos da saúde pública- mesmo não sendo novidade para mim-
e sentindo vergonha alheia...
Vergonha pelos políticos que constrõem projetos e obras que não beneficiam a população,
que apenas servem pra fingir que o atendimento acontece....
Vergonha pelo profissional de saúde que se esquece de que lida com gente e se embrutece pela banalização do mau atendimento...
Vergonha por aquele que faz esquema, que trabalha menos do que é necessário e ainda acha que está no direito de reclamar...
Tristeza por ver gente que recebe, mas não trabalha.
Que faz da malandragem projeto de vida!
Aborrecida por ver tantos moradores de ruas, consumidores de drogas perdendo saúde, família e amigos nas pedras das bocas.
Vergonha por aquele que contrata parentes, que engorda o próprio salário,
que mente descaradamente, jurando que é inocente...
Entristecida por um sistema penitenciário fraco, que demora em seus julgamentos,
amontoa presos, condena erroneamente muitas vezes,
e liberta quem deveria permanecer trancado.
Cansada de ouvir reclamações que não tenho como resolver,
de ouvir queixas que não serão sanadas por mim,
de ver gente tão jovem querendo uma forma fácil de vencer na vida,
sem trabalho e empenho na maior parte das vezes...
Gostaria de entender qual é o padrão?
O que molda os tempos de hoje?
Tenho certeza de que estou por fora.
Peixe nadando contra a correnteza: assim!
Ando me questionando como será daqui a alguns anos...
Tenho medo da piora. Muito medo.
Porque mesmo a propaganda dizendo que os bons são maioria,
ainda não consegui ver a maioria vencer.
Esta é minha indignação.