domingo, 17 de agosto de 2014

Sobre meninos, tigres, aviões, guerras e outras tantas coisas mais.


Crio então mentalmente a cena:
Mamãe olhando para mim, com jeito de reprovação, cara de brava, semblante mais fechado que temporal se aproximando no céu.
Eu? Com muito mais medo dela do que do tigre, me afastaria, sem pestanejar da grade e voltaria para o meu lugar, sem sequer ousar abrir a boca para contestar.
E terminaria assim minha visita ao zoológico.
Minimamente, levaria uma bronca. Na pior hipótese, um beliscão escondido na costela, que só eu, Deus e ela saberíamos. E tudo se resolveria assim.
Espanta é saber que o controle de um filho com o olhar já não funcione mais.
Que a autoridade paterna ou materna seja apenas figurativa.
E que a culpa por uma sucessão de erros, que insistem em chamar de fatalidade, ainda seja distribuída entre o tigre e o zoológico.
O medo e o respeito que sempre tive pela minha mãe, por meu pai e por tantas outras pessoas e situações semelhantes com as quais me deparei, hoje sei, foram necessários para me manter viva.
E alerta. Não tem jeito: é a guerra pela sobrevivência e nem sempre a luta é a melhor estratégia.
E por falar em guerra, travamos uma pela vida: que vírus monstruoso é este que se espalha pela África trazendo pânico e terror? Ás vezes me pergunto se a pobreza extrema já não seria castigo suficiente...
Mas para piorar o que já é ruim, existe sim vírus mais macabro: aquele que transforma o homem em lobo de si mesmo. A matemática perde o sentido contabilizando quantos civis perdem a vida numa guerra insana ( toda ela é!) por um pedaço de chão, uma ideia de nação. Quem não valoriza seu povo, suas crianças, não pode nunca ser valorizado como nação... Foi mal Israel. A ética não permite a etiqueta. Que palestinos e israelenses encontrem na religião a paz que o mundo tanto precisa... Guerra já temos o suficiente.
E por fim, nunca assisti a tantas quedas e desastres aéreos com neste ano... Medo!
Avião que some, que é abatido (oi?), que despenca do nada do céu, que mata um, dois, dez, milhares.
Pensando cá com meus botões: quantos sonhos desfeitos, quantas famílias esfaceladas...
Fico imaginando se deu tempo de um último pensamento, de um oração derradeira ou um breve agradecimento. Ou se todos que se foram de repente, nem se deram conta de que partiram...
Só sei que o céu está cheio. Muitos sendo chamados para a habitação celestial. Alguns personagens ilustres terrenos, outros desconhecidos guerreiros...
E para quem fica neste plano sobram as reflexões.
Não sei se as pessoas se dão conta de que num segundo tudo muda: uma pessoa já não existe, um avião inteiro já não existe, um braço se foi, uma vida se vai.
Não sei se vale o esforço de tanto projeto,  de tanta luta e privação, se não sabemos se estremos vivos para saborear a colheita que guardamos com tanto apreço no celeiro.
Dá medo não saber sobre qual assunto será a nova notícia e de que forma ela afeta o caminho que a gente desenha.
Decidi então, ir mais devagar. Não quero não me dar conta do dia, da semana, do mês, do ano e descobrir, por engano, que tudo já passou, que não deu tempo de curtir como eu queria, que não consegui aproveitar como gostaria...
Não sei se ebola, avião, guerra ou tigre. Ninguém sabe onde a vida da gente muda de caminho.



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