sábado, 29 de outubro de 2016

Quase lá.



Quase 35.
O que muda? Muito pouco e  praticamente tudo.
Muda o manequim e tem um peso a mais no corpo e nas costas: responsabilidades grandes que nunca nos contaram na vida...
O metabolismo não é o mesmo: as calorias tem o poder de multiplicação logo ao encontrar a saliva... Certeza!
O sono também não sai incólume: difícil repor o perdido e impossível ser normal no dia seguinte depois de uma noite inteira acordada.
Os cabelos brancos vão surgindo: duros e ásperos, nos lugares mais explícitos.
A paciência fica mais presente, dá-se menos importância a alguns assuntos que antes nos causaria ira mortal.
Ao contrário, também existe uma intolerância a assuntos irrelevantes, pessoas desagradáveis, chatices burocráticas, que simplesmente fazem dar de costas. Sem culpa ou ressentimento.
Finalmente entende-se a diferença entre ser gentil por educação, de convidar por protocolo, por mesuras e melindres que até então, nem sempre se percebia... Fato.
Cada tempo ocupado com família e amigos tem mais valor. Muito mais valor!
E percebe-se que ele (o tempo) é mesmo implacável e passa muito mais rápido para quem já está lá, mais adiante... Dá angústia.
Ficar em casa é sempre um presente! Cada hora de descanso é restaurador!
Entende-se, calmamente,  que se consegue sim aprender coisas novas, encarar desafios que não achava que pudesse. Agora, com um pouco menos de medo e mais autocontrole. (Um pouco.)
Nadar, cantar, dançar, bordar, escrever podem sim fazer parte dos prazeres daqueles que nunca puderam experimentar a leveza que cada ação dessas proporciona. Vale a tentativa!
Descobre-se menos fragilidades, mais praticidades, mais seletividade, menos critérios.
O choro é fugaz e o riso é mais intenso.
Percebe-se que casamento não é fonte de felicidade, nem filhos são a segurança de realização.
Que há gente muito infeliz, mesmo tendo tudo isso, e sendo tristemente empurrado todos os dias ao enfrentamento dessas lutas.
Existe sim vocação, afeto, hábitos. Nem todo mundo está pronto para exercer qualquer função na vida se não estiver apto. E aptidão não é congênita: precisa ser lapidada, até mesmo restaurada.
Mais dos 35? Nem sempre é bom conhecer gente nova, há sim uma enorme preguiça de contar coisas da própria história e, sim, é repetitivo se ouvir contar de novo, tantas coisas que ninguém mais queria lembrar. ´Há um redirecionamento vital das energias...
As cobranças são constantes e frequentemente, muitos descabidas: casar, separar, comprar casa, carro, são partes de um contexto, vivido por cada um, desde que faça parte de cada desejo. As pessoas não tem os mesmo desejos na vida...
Há tantos lugares ainda pra se visitar, pra conhecer... e tantos prazos de trabalho consumindo a vida... Uma equação difícil de resolver.
Não sair de casa num fim de semana também é alívio, ir ao cinema sozinho é um luxo, não saber ao certo o próximo roteiro é transformador. Pode ser o roteiro do dia, da semana, das férias seguintes... tanto faz.
Existe espinhas na maturidade: no rosto, no dorso. Há espinhos na maturidade: um espaço de tempo relativamente curto pra decidir  o que a sociedade obriga a aceitar... ou não. Aceitar as consequências das certezas e das incertezas é cruel.
Os amigos ficam mais distantes, os casados e com filhos se restringem ás programações próprias e sobram sim, poucas opções de vida saudável e inteligente para os solteiros.
Pessoas avulsas sofrem com os 35: excessos cansam e o básico é monótono. Favor alguém criar novas possibilidades!
Pessoas rasas não são atrativas, profundas demais, afogam; relacionamento aberto é assustador e o muito próximo, quase sufocante. Achar o meio termo entre pessoas que já saturaram na procura não é fácil...
O lado bom: ainda caber em roupas que há mais de dez anos fazem parte da sua história, não parecer ter a idade que se tem e não se importar em aceitar a idade que se tem. Essa é a parte mais bacana: aceitação.
Os 35 trazem renovação, tranquilidade e respeito. Por tudo que vem sendo construídos em todos esses anos.
É pura mentira que a vida esteja pronta depois dos 30. Nada fica pronto totalmente. O projeto é  de construção contínua... ou de reconstrução. Vai saber?
Podem ser os novos 35 dias, outras 35 semanas... depende de onde se que chegar, como deve ser a ida e de que modo se deseja a chegada.
Talvez um corte de cabelo novo faça a recepção da nova fase. Mas se não der tempo, nem vou sofrer: vou receber com a mesma cara lavada de sempre e de pijamas, com cabelos desgrenhados, como deve ser a cara do conforto. 
Sigo fazendo a contagem. Quase lá.



quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Não é Não.

Desde que o mundo é mundo, um Não é um Não.
É uma das primeiras palavras que a gente aprende... Deve ser de tanto ouvir.
Antes de aprender o Sim, aprendemos o Não: Não pode! Não pega! Não morde!
E a gente aprende Sim, o que é proibido, negado, bloqueado.
Se o Sim é dúvida, já temos o Não de antemão. Nem sempre então ele é frustração... nesse caso, ele já é certeza.
Nem sempre é tristeza: Não ir pode ser livramento, Não conseguir pode ser resiliência, Não ter pode ser aprendizado...
Mas é certo: Não é Não.
Um Talvez pode ser uma possibilidade de Sim, ou uma chance de Não... Mas o Não... ah, ele é sempre Não.
Se ensinam o Não com a voz, mas um sorriso de canto de boca diz que Sim, pode ser que o Não seja perdido, o ensinamento esquecido e a memória furtada.
Quem diz Não precisa ter semblante sério, negativo.
Sorrir com um Não é desapego de sentido.
Mas Não é sempre Não.
Quem responde com uma negativa, nem cogita a possibilidade de um Sim.
Quem tem dúvida do Sim, recusa precocemente um Não: pode ser uma chance perdida.
Não é Não!
Não faz o tipo? Não curtiu a pessoa? Não gosta do sabor? Não bebe? Não fuma? Um Não é um Não!
Sem insistência, sem cansaço, sem embaraço: é Não.
Quer adquirir o cartão da loja? Não. Quer o cartão X do Banco Y? Não. Quer "estar comprando" o produto tal? Não.
Sem repetir a pergunta, sem negar a recusa, sem querer obrigar o outro a um Sim.
Respeitar a resposta, respeitar a pessoa, o desejo do outro: Sim!
Pode haver uma justificativa, uma explicação, uma motivação de renúncia para cada Não.
E de fato há.
Mas se agente escuta Não desde que nasce por que se importar tanto com ele?
Incita a revolta. Só pode.