terça-feira, 11 de maio de 2010

Era ela

Começo a entender agora como ela se fez presente.
Precisei de tempo para comprender os desígnios que os céus pretendem com seus diversos nomes e as mais variadas faces. Mas era ela. Hoje eu sei.

Foi a primeira imagem conhecida que me apareceu: ao abrir os olhos estava lá.
Alimentou-me, ensinou-me a andar, falar, cantar.
Fez-me perceber o valor de um abraço, de um elogio e do afeto.
Pôs-me em seu colo e mexeu em meus cabelos até que eu adormecesse.

Depois, me vestiu de anjo e me fez cantar as mais singelas canções de mãe.
A primeira imagem de santidade que me lembro é dela: de manto azul e véu branco, pisando sobre as serpentes e estendendo as mãos abertas derramando graças.
Graça: foi esse um dos nomes como se apresentou.
Ensinou-me a rezar, a conhecer e querer participar da vida de seu filho a tal ponto de não conseguir mais me afastar.
Catequizou-me. Fez-me cantar.
Chamava-se Maria escondida em Luciana. Mas era ela. Hoje eu sei.
Acolhia-me com um abraço terno de tia, de avó. Com bondade e generosidade fez-se presente de forma simples. Sempre. Chamava-se Maria.

Entregou-se pra mim através de um presente: pequenina e dourada.
Já não era mais criança, não cabia mais no colo. Por isso ela se colocou em meu pescoço para me acompanhar.
Não tive a capacidade, na época, de entender o fato. Hoje, sei que era ela.
Mais tarde me fez companhia, conversando comigo e me acalmando quando o desespero me arrebatava.
Enxugou minhas lágrimas e me protegeu.
Ouvia meus lamentos e pedidos e concedia a tranquilidade ao meu coração.
Atendia pelo nome de Aparecida e Fátima. Olhava pra mim com muito carinho e me atendia sempre. Como toda mãe faz.

Colocou-se de novo em meu caminho: tropecei e percebi que ela estava lá, prateada e perdida na calçada.
Recolhi a imagem e guardei comigo.
Era ela. A mesma figura santa da minha infância, a mesma imagem dourada da adolescência, o mesmo desenho de mãos espargindo bênçãos.
Era seu dia. Também não sabia. A comemoração era dela e se fez de novo em presente pra mim.
Acompanha-me em todos os lugares. Sempre a levo comigo.
Cobre-me com seu manto e me pôe em seu colo muitas vezes, me fazendo adormecer.
Hoje eu sei. Era ela. Sempre foi.

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