quinta-feira, 25 de julho de 2013

Tudo certo?

Fazer tudo certo não é uma virtude.
Acho que, além de ser defeito, vem a ser também castigo.
Passar a vida cumprindo regras, normas, horários, ordens e pedidos
transforma os cumpridores em escravos.
Escravos dos outros e de si mesmo.
Espera-se sempre uma postura exemplar, uma frase de efeito, 
uma atitude ponderada, uma fala certa, uma resposta agradável, 
um roteiro programado e calculado e, invariavelmente, 
tudo regado a bons modos e educação impecável.
Quem faz tudo certo, perde a chance de aprender com o erro, 
de mudar de lado, de provar o bom e o ruim e depois, 
decidir calmamente, após a experiência consumada, se faz ou não sentido a própria escolha.
Quem faz tudo certo vive algemado.
Preso a padrões e à conjecturas.
Preso a si mesmo: uma mão presa á outra, sempre, sem poder um aceno sequer dar.
Quem faz tudo certo, quando erra uma única vez, leva açoite.
Carrega a culpa do mundo, tem o nome maculado, a reputação pichada, 
o rosto ferido e a alma jogada na lama.
Quem faz tudo certo vive amedrontado com a sombra do erro.
Porque sabe que um simples deslize pode ser fatal!
Quem quer fazer tudo certo, faz mesmo, é tudo errado!
Vai viver acuado, se castigando perpetuamente por não conseguir fazer diferente,
como o resto do mundo faz, assim, sem culpa, sem ressentimento.
Vai viver dando desculpa, porque nunca vai se confrontar com o erro.
Vai, com a cabeça no travesseiro, choramingar a falha, reconstruir mentalmente todas a possibilidades de conserto e por fim, sem dormir direito, custar a esquecer.
Quem faz tudo certo tem uma mordaça na boca: tem o grito calado, a voz abafada, um remorso gigante, uma culpa perene, um esforço de fuga para o lado contrário, sem conseguir sair do lugar.
Quem faz tudo certo carrega o próprio chicote.
Se tiver um pouco de sorte, se autoflagela sem se machucar.






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