Era uma mala grande.
Praticamente um baú.
Ficava guardada no porão, mantida lacrada, fechada.
Lá dentro havia lembranças, recordações, antiguidades.
Fora esquecida lá durante muito tempo.
Não se lembrava mais o que de importante havia nela.
Até que um certo dia, numa limpeza local,
alguém removeu o lacre.
Arrastada, e aberta, a mala foi devastada.
O pó foi retirado, as teias de aranhas removidas, o cheiro de umidade secou.
De dentro saíram perfumes.
Odores de uma época que não voltariam mais.
Saiu também um grito acompanhando de um choro baixinho.
Saíram aromas de flores, imagens de gente querida,
pessoas deixadas pela vida, que o tempo largou pra trás,
que foram levadas pra longe, pra nunca mais.
Saíram ainda vaga lumes, pequenas borboletas coloridas,
barulhos de gargalhadas, de conversas animadas na cozinha.
Sons de crianças brincando, de segredos bem pertinho do ouvido,
um abraço apertado, um beijo demorado, um carinho na face, flashes de imagens,
uma música leve, suave, ao fundo, embalando a descoberta da mala esquecida.
Depois disso, a mala então ficou vazia.
Como vazio ficou o peito do dono da mala.
As lembranças se espalharam pelo porão,
fugiram pelas frestas da casa,
e delas, nunca mais se ouviu falar.
Guardo comigo ainda lembranças queridas.
Permaneço com elas ao lado, bem perto,
escondidas, porém á mostra.
Não quero perdê-las de vista.
Não quero guardá-las na mala.
Não quero se percam no porão, nem que se espalhem pelo vento
ou que vão embora para sempre.
Mesmo que pra isso eu chore, cada vez que visite minhas memórias,
cada vez que releia textos, cartas e mensagens.
Mesmo que pareça apego ao passado.
Mesmo que pareça tristeza a minha nostalgia
ou que embote um pouquinho meu dia,
nublando de leve minha alegria.
Quero uma caixinha cheia,
na cabeceira da cama.
Que eu possa respirar de vez em quando,
sem compromisso, mas com o peito cheio de boas recordações.
Mesmo que traga de volta sentimentos já esquecidos, embrulhados há tempos...
Como hoje.
Nenhum comentário:
Postar um comentário