Sempre fui chorona.
Ir ás lágrimas nunca foi dificuldade para mim.
Ao contrário: o choro foi presença constante na maior parte da minha vida.
Tudo era motivo de pranto.
Brigava com um irmão, saía chorando;
levava bronca da minha mãe, mais choro;
Perdia um objeto querido, voltava o chororô;
Apanhava, chorava;
Caía, chorava mais ainda;
Fui crescendo e o choro continuava alí, do meu lado.
Me pai me proibia de sair, chorava;
não ia bem na prova, chorava de novo;
ficava triste, chorava;
filme triste, chororô;
fim de novela, mais lágrimas;
levava um fora, esvaia a água do mundo pelos olhos...
Enfim, a chorona da casa era eu, e sei que a fama foi condizente com os fatos.
Acho que, nesses anos, já enchi uma piscina olímpica de tanto chorar.
Mas, de repente, o pranto secou.
Como tem sido raro chorar!
As lágrimas fugiram e não sei onde se esconderam.
Ando preocupada...
Não sei se amadureci e sofro menos, e, por isso, choro menos ou sou alguém anestesiado que já não sente mais.
Cresci? Evoluí? Morri por dentro? Esturriquei?
Nem dor, nem raiva, nem tristeza, nem nada.
O choro sumiu, de mim se apartou.
As lágrimas secaram porque acabaram ou acabaram-se os motivos para chorar?
Nem notícia triste, nem ódio, nem decepção ou remorso, nem indignação ou alegria
são capazes de me fazer chorar.
Sequei. Esqueci como se faz.
De vez enquanto, á noite, na oração, ainda choramingo.
Reconhecendo minha insignificância, pedindo a misericórdia divina e só.
Um mistério o destino das minhas lágrimas...
Quem souber, favor informar.
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