segunda-feira, 17 de junho de 2013

Fulaninho

Fulaninho está com febre.
Mas não deixa pôr termômetro
Fulaninho tem só um ano,
mas coitado, chora tanto,
que diante do seu pranto,
para quê a febre medir?

Fulaninho não quer comer
só aceita a mamadeira.
Mas tadinho do Fulaninho!
Vai ficar com fome, então?
Deixa o menino tomar o leite!
Que se deleite sem a comida, 
que Fulaninho não pode chorar!

Fulaninho não pode tomar banho frio.
Quanta maldade com uma criança, doutor!
Fulaninho não pode levar injeção.
Coitadinho, tão pequenininho, 
e ter que sofrer tanto assim!
Fulaninho não pode sentir fome, nem frio, 
dor ou contrariedade.
Pobrezinho do Fulaninho!

Fulaninho vai ao médico,
mas quando deita na maca, 
quanto sofrimento!
Chora tanto, tem até trauma!
Gente de branco nem pode mais ver!
"Mentira, filho! Mentira!
Mamãe não deixa mais ninguém lhe machucar."

Fulaninho mama de noite, dormindo,
durante a madrugada.
Resmunga lá do berço
e a mamadeira chega ligeiro.
"Coitado! Não aceitou a janta!
Não adianta! Não dorme se não mamar!"
E lá vai Fulaninho, o reizinho,
nem precisa abrir os olhos para se alimentar!

Fulaninho vai para escola
bate nos colegas e destrata a professora.
Coitadinho do Fulaninho!
È mal compreendido!
O mundo está errado, 
só Fulaninho está certinho.

Fulaninho falta a aula,
porque hoje não que ir.
Coitadinho, está cansado!
Hoje fica em casa,
aproveita pra dormir.
Come a hora que quer, 
quando quiser,
dorme se puder.

E Fulaninho cresce assim: coitadinho.
Sempre certo, sem regras, sem horário,
escolhendo a hora de tudo e de todos.
Pondo ordens na própria casa, 
definindo a vida alheia,
achando certo não respeitar o direito do outro,
sendo o centro do universo.
Passa a vida acostumado a nunca ser contrariado,
Acha no vício a ocupação que ninguém nunca deu.

Fulaninho tem certeza
de que a vida é a sobremesa
que desfruta antes da refeição.
Que foi poupado e coroado,
mesmo quando não era punido,
e sim, ensinado.
È o candidato perfeito
da vida que deu errado.

Fulaninho é o adulto que não cresceu,
que se comprometeu com ninguém.
Que se limitou aos seu desejos,
que não se importou com o sentimento alheio.
Que espanca a esposa e os filhos,
esquece os pais no asilo,
planeja a morte como num filme,
para se beneficiar friamente do fim alguém.



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