quarta-feira, 5 de junho de 2013

Fila

Estou na fila, aguardando minha vez.
Disseram, quando era pequena, que era preciso esperar a vez de cada um.
Não podia "furar" fila, tinha que esperar pacientemente.
Nunca fui mesmo de entrar na frente dos outros sem permissão, nem da impaciência fui amiga.
Esperei, esperei, esperei e espero.
Talvez minha vez ainda venha, apesar da demora.
A vez que eu não precise mais provar que a dívida não é minha, 
que a conta não me pertence, que o gasto não foi meu.
A vez de não me preocupar com minha idoneidade, 
tampouco me ocupar com a desonestidade alheia... 
Ah, se este dia chega!
Vai vir ainda a vez que o encontro dê certo, que haja combinação, cumplicidade, reciprocidade.
Talvez chegue. Por que não?
A vez de comemorar minha vitória, sem ser lesada ou ridicularizada.
Vai chegar o dia da obra ter fim, e enfim, colher os frutos do suor do trabalho, porque ele- o trabalho- está sempre na vez!
A vez de acreditar no que os olhos mostram - porque o coração é sempre desconfiado e confia em ninguém.
A vez de fechar os olhos e saltar sem rede, sem medo da queda, sem susto no tombo.
Ah, mas minha vez chega!
Chega ainda o dia em que o trabalho seja folga, que a folga seja dia-a-dia  e que o dia seja só mar e brisa.
Chega o momento em que a educação e o respeito sejam ar e água: indispensáveis à sobrevivência.
E minha vez vai chegar, porque estou na fila.
Não cheguei atrasada, não roubei o lugar de terceiros, não dormi no ponto, nem esqueci das regras.
A demora cansa, as costas doem e o cansaço ás vezes se faz imenso, que penso nem suportar.
Mas continuo na fila. 
Pois me disseram que quem espera sempre alcança.

Só não me contaram como, onde ou o quê.

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