sexta-feira, 31 de maio de 2013

Faxina

Ai, menina!
Donde surge tanta tralha,
Donde vem tanta bagunça,
de presente pra arrumar?
E tira, limpa, esfrega,
lava, seca, passa o ferro,
E passa o pano, e passa o tempo,
E não me lembro onde guardei...
Papel e mais papel!
Quero fazer a fogueira!
Quem sabe alguém queira
aproveitar algo de bom?
E troca tudo de lugar,
muda o espaço, a estante, 
e espirra e coça nariz!
Ai, menino!
Que ajeitar não vai ter fim!
E aproveita a folga, 
que o tempo não perdoa.
Escurece lá fora 
e, daqui a pouco,
a hora voa!
Organiza para desarrumar,
Arruma para bagunçar.
E a vida? Como está?
Arruma e organiza,
que o tempo não lhe espera.
Limpa e desamarrota essa vida, menino!
Tira a poeira dos sonhos,
empilha os desejos,
joga fora as traças e as teias,
Retira da gaveta 
o que tem pra realizar.
Hoje é dia de faxina, menina!
Desentulha a alma,
põe cheirinho de limpeza,
que o coração deseja
apenas se organizar.
Joga fora o que não presta,
esquece o que se detesta,
costura o rasgo, faz bainha,
prega o botão da camisa, 
arrume-se para a festa,
que a vida não pode esperar.



quinta-feira, 30 de maio de 2013

Apenas hoje

Hoje?
Dia assim, 
Sem querer.
Sem pretensão de ser,
Sendo folga,
Sem ter hora.
Com preguiça, 
Sem malícia,
Dia assim, 
sem prever.
                                                                      
Ora sol,
muitas nuvens,
chuviscos...
Sem cobranças,
Sem atrasos,
Sem trânsito,
Sem carros,
Esperando hoje
nada além.

Hoje?
Dia de alta,
de falta, de flauta,
para a vida se levar.
Dia de missa,
de família,
sem hora,
sem demora,
de ir á forra,
com morfeu,
sem morfina,
que menina, 
o meu sono,
mesmo hoje, 
se perdeu.

Hoje?
Sem castigo,
sem leitura 
de assuntos
que a vida 
me obrigou.
Sem lágrimas.
Sem lamentos,
Só contentamento
por ser folga,
por ser nada, 
por ser hoje,
apenas hoje,
mais um dia 
que se me deu.


sábado, 25 de maio de 2013

Beleza pura



Eu vejo lindo o sábado nublado!
E acho esplendorosa  qualquer chuva.
Nem sempre o dia ensolarado que é bonito,
nem sempre o colorido é que gera vida,
e pode-se encontrar graça no cinzento,
no pálido, no franzino e esquálido.
Pode-se ver beleza no esquecido,
naquilo que a maioria preteriu.
O belo pode vir como um sorriso,
mesmo sem dentes, de alguém que vê o mundo com os olhos de novidade, 
como as crianças que eu assisto todos os dias.
Posso ver beleza na educação de uma gentileza, 
feita por alguém de roupa rota e rugas na face.
Vejo uma elegância incrível num bom dia dado, 
espontaneamente, pela moça da limpeza,
pelo segurança da catraca, 
que não sabem quem eu sou, mas mesmo assim, me desejam o bem.
Posso enxergar beleza em um "fica com Deus" ou um "bom trabalho",
dado por quem nunca mais vai me ver na vida.
E achar lindo aquele que, na pobreza acolhe mais um, 
adota um filho, além dos muitos que já tem, 
divide o pouco que possui, 
não faz conta do que tem para dividir.
Lindo mesmo é estender a mão, sem pedir nada em troca.
Não esperar devolução, não cobrar, nem julgar.
A beleza pura está nos olhos de quem vê, 
no olhar de quem visualiza o mundo sob o filtro da bondade.
Poque, geralmente o bom é belo.
E Deus habita no que é bom.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Silêncio

Não tenho alguém específico para contar como foi meu dia.
Também não sei se contaria para essa pessoa, se oportunidade tivesse.
Ando preferindo o silêncio, ultimamente.
Ele tem me compreendido mais.
Não me julga, nem me condena.
Escuta com calma o que eu digo, 
não me interrompe, 
não fica saturado das minhas queixas.
O silêncio tem sido revelador. 
Contou histórias inacreditáveis,
desfez mal entendidos,
abafou os casos, 
deu menos importância ao que parecia exclusivo.
O silêncio tem sido uma companhia agradável.
Não me incomoda com assuntos chatos,
não me obriga a compromissos desgastantes,
não me cobra, não me exige.
Acho até que me compreende.
Não pede retorno, não cobra presença.
Vem e vai quando bem quer.
Faz meus pensamentos mais tranquilos.
Se eu tivesse que recontar meus dias, seria para o silêncio.
As palavras se perderiam ao vento,
não haveria desentendimentos,
e a conversa terminaria assim, 
num breve ou longo silêncio.





Novelão

Chego em casa cansada.
Arrastando o corpo  em plena segunda ou terça-feira.
Para quem tem o domingo como dia útil, o meio da semana é sinônimo de fim.
E lá estava eu, pensando no fim de semana com a folga bendita que nunca chega e no próprio fim de mim mesma, depois da enxurrada de trabalho exaustivo dos últimos 3 dias.
Ligo a TV, já com o pensamento fora do plano terrestre, procurando a mais pura abstração, companhia mesmo para engolir o pedaço de bolo, que será a refeição da noite- que as forças permitiram deglutir-
e eis, que lá está uma mulher, na novela das sete, se oferecendo para um "doutor" no corredor do hospital.
O filho, coagido pela mãe, simula um abdome agudo- apendicite- e ela, convence o médico, a operar o falso doente, sem consulta e sem exames, com a recompensa de um jantarzinho depois, para lembrar os velhos tempos...
Entendi que o fundamento da cena era mesmo a comédia pastelão. 
Não me fiz de rogada, engoli o bolo, meio a seco, mas segui.
Esparramada na cama, lutando contra a preguiça, deixei a tv ligada.
Eis que surge, na novela das nove, a médica sendo coagida a falsificar prontuário, declaração de óbito, contar mentiras para o mundo, em prol de um marido viúvo triste.
O bolo quis voltar.
Não foi mera coincidência.
Sei que a obra é ficção e não tem qualquer compromisso com a realidade, existindo mesmo para entreter.
Entretanto, também sei que a grande massa, que não tem acesso a uma programação paga é catequizada pelo o que a tv aberta vende.
A classe médica é ridicularizada, vendida e prostituída todos os dias, nos jornais, revistas e novelas.
Como querer exigir respeito de alguém?
E a imagem produzida é a pior possível.
O médico que atende a emergência é ríspido, nunca dá informações á família- que só consegue algum consolo com a enfermagem...
A vilã finge estar grávida e entra num quartinho com o doutor recém-formado para conseguir o exame falso, o diagnóstico forjado...
O residente é inseguro, não sabe o que fazer, comete erros, que só os médicos mais velhos vão poder consertar.
Trocam bebês do berçário, dão atestados falsos, seduzem secretárias, enfermeiras, pacientes, acompanhantes, enfim, um mar de mau caratismo e péssima índole.
Pode até parecer corriqueiro, á primeira vista, mas a mensagem subliminar é lançada todos os dias e vai sendo absorvida, pouco a pouco, por osmose, sem gasto energético, sem esforço.
Por isso, falar mal de médico é tão comum, tão banal. 
Está na novela!
Achar que médico é preguiçoso, que demora a atender, fica de papo furado, tem a vida mais mansa que galã de novela também acaba se tornando uma verdade (mentirosa) para muitos.
Acredito que qualquer pessoa, independente da profissão que exerça, como humano que é, está sujeito a erros e falhas de caráter.
Mas generalizar por classe é injustiça, das grandes.
Dia desses, precisei de um táxi e liguei várias vezes para o ponto, sem ninguém atender as ligações.
Decidi ir a pé até lá, e para minha surpresa, encontrei vários carros parados com o motorista sentado, muito bem acomodado, no ar condicionado.
Aproveitei para perguntar o motivo de nenhum deles se dignar a sair do aconchego e atender as chamadas- várias- no posto telefônico ao lado.
O moço deu uma risadinha sarcástica e nem se deu ao trabalho de verbalizar resposta.
Entendi, depois desse dia, que se quisesse taxi teria que ir andando até o ponto.
Mas nem por isso andei espalhando aos quatro ventos que taxista é preguiçoso e não gosta de trabalhar.
E, diga-se de passagem , a imagem deles na mídia é muito melhor do que a dos médicos, embora não seja o fato cem porcento verdade.


segunda-feira, 20 de maio de 2013

Bola de Neve

Hoje foi segunda,
com cara de quinta,
cansada como sexta,
pesada como quarta,
bem metade do caminho,
tristonha como domingo de chuva,
mas o humor, ah, o humor foi mesmo de segunda.

Queixas e mais queixas,
que ouço e resolvo:
dores do corpo,
problemas da alma.
E minhas queixas?
Quem as ouve?
E meus problemas?
Quem pode resolver?

Quanta tragédia,
quantos remédios,
quantas vozes escuto...
Perguntas sem respostas,
perguntas desconexas,
falta de rumo, de prumo, de certezas.
Mas na mesa ponho as letras
que solucionam boa parte
dos transtornos alheios.

E meus meios?
Quem descobre?
Minhas contas,
meus anseios,
ninguém dá conta,
ninguém se importa.

Quero minha cama,
quero de volta minha folga,
essa bola de neve de queixas,
soterra qualquer pensamento.
Muito lamento,
pouco contento,
a alma não se ajeita
por nada deste mundo.

Hoje a segunda foi obrigada,
rejeitada e recusada,
como dia que não queria ser.
Foi dia mal ajambrado,
de paciência limite,
educação miserável
e fôlego no fim.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Deixa, deixa...

Deixa tudo como está.
Agora, os fatos  se mostram, 
as pessoas tomam formato, 
as conversam perdem o sentido.
Deixa, deixa... 
Que o tempo faz a memória se perder, 
os pensamentos vão para a sala de espera 
e as dúvidas se dissipam.
Não quero mudanças, 
quero tudo como está: apagado, esquecido, quase morto, em coma.
Escondido no limbo, entre o bem e o mal, 
entre o certo e o errado, duvidoso, esquisito.
Deixa tudo como está: mesa posta sem visitas, 
flores e cores para enfeitar não sei o quê, 
casa aberta para o vento.
Deixa que as novidades aparecem, 
e se não surgirem, o passado volta. 
Ele sempre volta...
Deixa que a vida segue assim, 
um curso tortuoso e estranho, 
sem trajeto definido, 
sem saber onde vai dar.
Deixa como está: nivelado, retratado, apagado, flagelado.
Deixa assim, sem história, sem desfecho, sem vontade de contar.
Não quero mudanças, 
quero tudo como está: sem fim, nem começo, sem meios que justifiquem.
Quero o agora como está hoje: sem propósito, sem motivo, 
sem desejo, sem legitimidade.
Deixa como está, que a vida se resolve...
Sozinha, toma um caminho incerto e segue, sem titubear.
Deixa, deixa... 
Não vale a pena se incomodar.



terça-feira, 14 de maio de 2013

Prece ao cansaço

Ah, cansaço!
Leve-me hoje em seus braços!
Carregue-me de forma sutil. 
Não quero sentir que rastejo...
Leve-me para longe de todas as queixas e, se puder, 
deixe-me cair em sono profundo,
que este mundo não é mesmo para mim.
Anestesia meus sentidos, esconde-me das suspeitas.
Ah, cansaço!
Não quero as forças de voltas!
Quero mesmo a derrota de quem sucumbe a você!
Espreita quem me afugenta,
Alimenta quem me oprime, 
Destrói quem me liberta
Prenda-me para sempre contigo.
Hoje quero apenas o abraço do cansaço que me consome.
Sem nome, nem sobrenome.
Sem estirpe ou categoria.
Quero apenas a alegria do corpo sobre a cama e o dever cumprido.
Ah, cansaço, me deixe!
Quero ser levado pelo sono, pelo dono dos pensamentos que povoam os territórios
que jamais foram pisados.
E se achares ousado o pedido que te faço, 
esqueça, cansaço, que me viste.
Segue o caminho fortuito, assim, triste
Carregando mais alguém, outro corpo, além de mim.


sábado, 4 de maio de 2013

Quem ama mesmo cura feridas

Quem ama mesmo cura feridas.
Beijos e abraços não servem de termômetro para avaliar sentimentos.
Quem ama mesmo protege do frio, alimenta a fome, preocupa se tem sono ou qualquer outra privação.
Esta história de "frio na barriga" e "borboletas no estômago" fica bem para o cinema.
No dia a dia, não cabe. É emoção de mais para o cotidiano.
Amor de todo o dia é um bom dia agradável, um sorriso sincero e um dose extra de paciência.
É uma respiração prolongada para não perder a razão, é dizer sim querendo dizer não, e dizer não por saber que o limite é necessário.
Quem ama mesmo deixa partir, quando assim é preciso.
Dá asas para o vôo, espaço para o crescimento, responde as dúvidas com cem porcento de verdade e ensina sempre que a mentira é um grande erro.
Quem ama mesmo, põe no colo, empresta o ouvido, o ombro, as costas, a sala de estar, o canto do coração.
Despende grana, tempo, horas e minutos sem pestanejar!
Quem ama mesmo cura as feridas: do corpo e da alma.
Acalenta o choro, levanta do tombo, põe compressa no galo, assopra o corte, estende a mão.
Quem ama mesmo carrega nos braços.
Amor de verdade perdura, não desgasta, escapa, vence.
Não precisa de iluminação de fundo ou  música tema.
Tem luz própria, canta sozinho.
Não precisa de juras eternas. 
O compromisso maior está no peito, nas mãos dispostas.
Quem ama mesmo acredita que ajudar o próximo é fazer muito por si mesmo.
A festa termina, a graça passa, o tempo voa, a mocidade se esvai, a juventude escoa, a beleza acaba.
O amor fica.
Quem ama  mesmo cura feridas.
Por que o filme chega ao fim e o personagem já não mais existe. 
O romantismo seca, as promessas são esquecidas, as feridas saram.
As cicatrizes ficam, sempre lembrando de quem alí despejou cuidado.




quarta-feira, 1 de maio de 2013

Sobre o trabalho


O dicionário diz que trabalho é uma atividade física ou intelectual que visa algum objetivo.
Ok, ele não define qual seja o objetivo.
Portanto, deixa margem a interpretações diversas, podendo esse objetivo ser lucro, diversão, lazer, afronta, perseguição, seja lá o que vier na cabeça...
Conta ainda, que pode ser entendido como labor, ocupação.
Logo, qualquer atividade que ocupe é trabalho. Será?
Muitos se ocupam na frente da tv assistindo ao jogo ou à novela.
Ocupação? Trabalho?
Tem quem se ocupe na mesa do bar, no salão de beleza, na sala do cinema...
A decisão fica a critério do público, imagino. (definição indefinida, Aurélio!)
Pode ser o produto da atividade, a obra.
Toda obra então é trabalho: mão-de-obra, obra-prima, obra de arte. Assim sendo, tudo trabalho!
Tem significado de esforço, empenho: tudo aquilo que a gente diz que " dá trabalho", que demanda disposição.
No sentido figurado, preocupação, aflição, cuidado.
Ai, esse significado não consegui alcançar!
Como empregar numa frase a palavra trabalho com o significado de aflito ou de cuidado?
Sinceramente, não sei.
Mas no geral, o entendimento de trabalho vem do emprego, do serviço, do ganha-pão de cada dia.
O gerador do salário, do sustento da casa e da família.
Nem todos tem.
Alguns tem  por obrigação, a maioria por necessidade, outros por luxo, entretenimento (parcela muito pequena da população, creio eu!)
Mas o que importa mesmo é que os milhões de trabalhadores, que laboram, labutam se ocupam e  são os verdadeiros responsáveis pelo crescimento de um pais.
Uma nação não se cria pelos seus governantes. Mas sim pela sua gente que trabalha e cresce juntamente com sua pátria.
Hoje, dia do trabalho, a gente folga.
Paradoxo, é verdade.
Alguns, mesmo na folga trabalham.
Mas imagino que a folga seja mesmo pra lembrar que o descanso para o trabalhador é merecido, digno e justo.
Até porque, conta a Bíblia, que depois da criação do mundo, Ele também descansou.
Boa folga merecida a quem pode dela hoje desfrutar.
Bom dia do trabalho e, por conseguinte, do trabalhador, a quem couber comemoração.
Desejos sinceros de condições dignas e remuneração justa pela obra desempenhada por cada um.