segunda-feira, 23 de novembro de 2015

E só.

De verdade?
Nem imagino o motivo que faz-se acreditar num país melhor.
Literalmente envolvidos num mar de lama: do congresso á periferia.
Do desabrigado ao saqueador, do soterrado àquele que extorque do vizinho mais de 30 Reais de água...
Esperar melhora? Não mesmo.
Pelo sinal avançado, pela fila furada, pela carteira achada e não devolvida,
pela cola na prova, pela troco errado embolsado, enfim...
Pela propina, pelos "habeas corpus", pelos milhões desviados, pela falta de responsabilidade, pelo descaso com o próximo, principalmente se ele for pobre.
Na boa? Não tem jeito...
Pra quem se vende, sem leiloa, se corrompe, se entrega.
Pra quem se acha melhor por ser branco, preto, rico, hindu, cristão...
Pra quem pensa que religião salva...fim da linha.
Minha expectativa?  Um fim próximo, logo ali na esquina, bem depois de amanhã.
Porque acredito que isso aqui já deu!
Esperando o fim das injustiças.
E só.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Amortecendo

O aprendiz pergunta ao Mestre:
- Senhor, o que seria então a morte?
A passagem de uma dimensão á outra?
Um fim? Um recomeço?
Um adormecer eterno?

O Mestre então responde:
- Filho, pode ser um suspiro profundo, num momento único, de entrega total..
A morte pode ser um sonho abortado, um abraço negado, uma oportunidade perdida...
Pode representar planos mutilados ou perguntas que nunca serão respondidas...

E pergunta novamente o aprendiz:
- Por que tememos tanto a morte?

Responde o sábio:
- Porque temos medo do desconhecido. 
Embora passemos por pequenas mortes durante toda nossa existência, não a reconhecemos tal como ela é.
A cada desilusão se morre um pouco. 
Cada decepção abriga em si um morrer pequeno.
As tristezas cultivam um desejo de morte.
O não viver em sua plenitude já é, de certo modo, morrer.
Logo, vivemos enlutados e não nos enxergamos enredados na morte.
Sempre e sempre a cada dia.
Somente pensamos nela num corpo sem vida.

O Aprendiz insiste:
- Mestre, como posso percebê-la e me preparar adequadamente para reconhecê-la?

O Mestre fica em silêncio. Busca um espelho e o coloca na frente do seu aluno.
- Cada vez que se olhar neste espelho irá ver que um pouco de vida ficou impregnado na imagem do dia anterior.
O dia seguinte trará sempre um pouco da morte do tempo que se foi. 
A vida carrega em si seu próprio fim.

E então, me enluto pela alegria alheia sim, porque, para mim, representa uma grande tristeza. Pode ser este meu pequeno momento de morte. Pode ser o amortecimento de uma fase, para sempre.
Sem medo de ser julgada, na totalidade de minha humanidade mesquinha, no meu egoísmo gigantesco, que se inconforma com a injustiça dessa vida.
Mesmo sabendo que não é politicamente correto meu desejo, tampouco católico seja meu comportamento ou cristão meu pensamento, preferiria sim à morte que aquele "felizes para sempre".



domingo, 13 de setembro de 2015

Sem assunto

Tentei escrever muitas coisas. Tantas ideias..nada serviu, nada foi bom.
Quando a inspiração vinha, estava sem tempo, com preguiça de esboçar no papel a ideia e depois passar a limpo.
Então, esqueci o motivo e quando sentei, determinada, nada veio...
Ou o que veio, não serviu.. Nada está bom, nada serve. E agora?
Poderia falar do tempo ( tipo o inverno na primavera ou a falta de inverno), do tempo no sentido mais lúdico de significado ( tipo a forma maluca que ele voa, a falta de tempo para se fazer o que se precisa, etc e tal) ou até mesmo do tempo que não tenho mais (projetos engavetados, planos perdidos, desistências da vida). Mas falar de tempo é meio clichê. Quero não.
Poderia falar das notícias bizarras nos jornais, de pais que matam filhos e escondem no freezer, chacinas e refugiados de guerra, mas ando tão estarrecida com esses fatos que tenho preferido não aceitar essa realidade. Não por agora.
Poderia escrever sobre o teste do meteoro do Fantástico, mas acredito que há bem mais chances de outras coisas caírem na minha cabeça no momento, tipo a segunda-feira (que é amanhã) e seu golpe feroz que me aplica toda semana. A segunda é um soco na cara. Ah, é.
Poderia relatar experiências estranhas e gente surreal que vi passar por mim, do papo sem noção do porteiro, do que vi e preferi calar, do que cogitei mas não quis saber, do que imaginei mas não comprovei. Mas não tô na vibe. Hoje não.
Poderia dizer da falta de vontade de conhecer pessoas ou de conviver com algumas que já conheço. Cadê a borracha de gente? Cadê a amnésia seletiva? Vamos inventar,por favor!
Poderia contar das mentiras que ando me permitindo dizer ( quando falo que já tenho o cartão da loja pra vendedora, ou digo que não fui a um evento pois estava em outro por obrigação e conto a mesma história pro evento da obrigação, ficando em casa e indo a nenhum!) ou falar das pessoas indesejadas que finjo não ver para não ter que cumprimentar ( olhando o celular, procurando algo inusitado na bolsa, prendendo o cabelo ou ajeitando o sapato que tá ótimo no lugar). Falemos a verdade: Quem nunca? Mas não posso me denegrir. Não hoje.
Poderia dizer dos quilos que ganhei, da estranheza em (tentar) vestir roupas que não mais me cabem (não me recordava de situação igual vivida) e entender que as fases mudam e com elas a gente também.
Roupas que não cabem, pensamentos que  não servem não mais também. Papo chato!!
Poderia contar dos projetos fracassados, de vontades absurdas e ideias insanas. Tô dizendo que os pensamentos nem sempre servem mais? Pois é.
Poderia falar da preguiça ( que tenho de encarar este mundo torto!), da fase antissocial infinita( quase ostracismo), da crise econômica, da crise de valores (que pra mim é bem pior que a econômica!), da falta de amor em tudo (nas relações pessoais e profissionais), mas não quero aceitar essa realidade. Não por agora, num domingo á noite.
Poderia esperar minha intuição me chamar e apontar uma solução mágica para tudo: diagnósticos, contas, horários, tempo, sono. simpatia...
Poderia esperar a inspiração pousar por essas bandas... mas tenho pressa, que esta prosa não pode esperar.
Poderia contar que espero que a semana venha com mais notícias boas que más e que se possa dizer mais elogios que críticas, mais histórias felizes que desgraças. Poderia ter escrito uma oração com menos "quês".
Mas no momento não dá. Nada serve, nada fica bom.
Sigo apagando o que escrevo, escolhendo o assunto sem conseguir terminar.
Espera aí... qual era mesmo o tema da conversa?
Não sei, não tem, nunca vou saber.
Vou dar tchau pro domingo.


terça-feira, 4 de agosto de 2015

Da terça

E de repente,
cai sobre mim um cansaço,
um desânimo,
uma vontade enorme de desistir.
Limito-me a fechar a porta,
ligar a TV e tentar esquecer o mundo lá fora...
Esquecer as contas,
as notícias péssimas que insistem em aparecer...
Espantar da mente a inflação,
as decepções,
as situações incompreensíveis
e impossíveis até mesmo de contar.
Vontade de fingir de morto,
de não revidar.
Porque todos pedem ajuda.
E quem vai me auxiliar?
E o melhor seria
tomar um remedinho mágico
que limpasse a memória,
espantasse o tédio,
trouxesse alegria
e uma revigorante coragem.
Porque está difícil manter a classe.
A simpatia nunca foi meu forte.
Não vou deixar saudades pelos sorrisos.
Nem vou contar algo só para agradar alguém.
Mas nem todos primam pela verdade.
E não estou triste pela deslembrança.
Só incomoda o fracasso.
Não fui treinada para perder.

domingo, 28 de junho de 2015

Sobre espertezas, espertalhões e expertises

E o mal do esperto continua sendo achar que todo mundo é otário.
Mas fica a dica: na era do celular que fotografa e filma, 
dos registros em redes sociais 
e da maior e melhor rede de comunicação que sempre existiu- o boca-a-boca- 
torna-se impossível fazer algo em segredo.
O sigilo já morreu, falo logo.
Tem sempre alguém que conhece outro alguém, que viu, que sabe, que ouviu dizer.
Não é nem por fofoca. Mas por compartilhamento de mundo, socialização.
Logo, pensar que ninguém fica sabendo, 
que vai passar despercebido, que ninguém vai prestar atenção é ilusão.
Contar mentira e inventar história que não se sustenta por si só também não funciona.
As pessoas pensam, embora nem todas de forma realista, 
e podem concluir, por elas mesmas que os fatos não fazem sentido...
Não divulgar algo também não é confirmação de discrição.
Mas achar que o mundo é preenchido somente por gente beócia é muita pretensão. 
E ingenuidade.
Falta de caráter é epidemia, infelizmente.
Torcendo pra que haja gente imune.
Torcendo e muito para que muita gente que se acha esperta escorregue na própria mentira,
caia sozinho na armadilha que fez pra si.
Não por desejo de maldade, mas por anseio de justiça.
Para que sirva, ao menos, de experiência.


quinta-feira, 18 de junho de 2015

Coletivo

Poderia ser qualquer pessoa? 
Não sei explicar.
Poderia ter ficado em pé, 
sem sentar.
Ou ter sentado lá no fundo, 
encostada num cano de apoio qualquer.
Poderia ter esperado um outro ônibus, 
uma outra linha, 
feito um outro trajeto.
Poderia ter perdido a hora, 
se atrasado e ter perdido o coletivo.
Poderia ter acordado indisposta, 
não ter saído de casa.
Poderia ter encontrado um conhecido, um amigo, 
ter prolongado conversa e ter chegado em casa tarde, bem mais tarde.
Poderia não ter ido trabalhar.
Poderia ter deixado o assento preferencial vazio.
Poderia não ter caído, 
não ter desequilibrado.
Poderia a curva ter sido mais suave, 
a velocidade mais branda.
Poderia a porta estar travada, 
não ter aberto pelo impacto ou não estar com defeito.
Poderia ter sido jogada para longe pelo efeito centrífugo.
Poderia ter escapado da queda, 
do impacto,da porta e da morte.
E de uma forma torpe a vida se esvai:
atropelada por um ônibus, 
numa queda besta e improvável, 
impossível de se imaginar.
E então, os sonhos agora estão destruídos no chão, 
esmagados, sem fôlego,
tingindo de vermelho o asfalto,
falando alto para todo mundo ouvir:
poderia ser eu ou você.
Poderia ser qualquer um?
E a vida é assim, de repente nada importa mais.
E o pensamento coletivo vigora: o amanhã é hoje.


domingo, 7 de junho de 2015

Que canseira!

Ai, que canseira!
Sem disposição para discutir, nem explicar.
Impaciente pela burrice alheia.
Intolerante com a falta de bom senso do mundo.
Gente que reclama das mesmas coisas,
repetindo os mesmos atos,
fazendo as mesmas escolhas,
e mantendo as reclamações, por conseguinte.
Que canseira me dá!
Falta de coragem para novos planos, novos vôos.
Gente que só dá ordens, sem nem pensar.
Ai, pode dormir sem acordar?
Que me cansa essa segunda infinda,
a rotina sem graça da semana que passa,
dessa maternidade moderna que acha que os filhos não podem sofrer.
Como cansa!
A falta de perspectiva.
a falta de oportunidades.
a falta de viagens, de grana, de amores.
Como cansa tudo isso!
Como desanima, desestimula!
O domingo á noite é uma grande depressão.




domingo, 24 de maio de 2015

Autorretrato

Não escondo a idade.
Nunca alisei o cabelo, nem pintei.
A cor e a textura são originais.
O corte muda de vez em quando.
Faz parte da estratégia trocar de face.
Não tenho silicone, nunca fiz lipoaspiração,
nem qualquer cirurgia plástica.
A cor da pele é autêntica.
Assim como todas as irregularidades 
que ela contem: sardas, manchas, estrias e cicatrizes.
Sem bronzeamento artificial, 
sem recursos de camuflagem.
Não sou sarada,
meu abdome não é negativo.
Tenho preguiça de atividade física, 
embora saiba da importância para a saúde.
Como açúcar, chocolate e sal.
Gosto de salada, mas não me importo se tiver só macarrão.
Não curto refrigerante, mas posso me servir dele vez ou outra, sem dramas.
Não aumento a altura, nem diminuo o peso.
O tamanho é meu, com orgulho, há anos.
Tenho orientação sexual definida, 
sem crise existencial por ser hetero.
Não uso piercing.
Não tenho tatuagens.
Não uso alargadores.
Não curto mentiras, 
Devolvo troco errado,
Falo o que penso
E penso muito.
Respeito muito as diferenças.
E que bom que elas acontecem!
Só não ando me enquadrando assim nas superficialidades.
Porque creio que pra ser feliz é preciso se aceitar.
Dentro das limitações que se tem,
nos projetos que a vida criou.
Tô aqui, tão diferente da grande maioria, 
tão fora dos novos padrões...
Estou minoria, sendo eu.
Sem aceitação no mercado?
Eis então, meu autorretrato.
Só para (me) enxergar.
Tem sido difícil ser fiel ás próprias origens, 
quando elas se perdem no vento.





quarta-feira, 13 de maio de 2015

E eu nem sei o que pensar...

E eu nem sei o que pensar...
Fico atônita com a capacidade de julgamento e de acusação, 
espantada com a ideia de que o outro estará sempre disponível pra resolver problemas alheios...
Que tudo pode ser resolvido a custo zero e com o mínimo de esforço próprio.
Mas ás custas de muito trabalho de outra pessoa.
Não sei como ás vezes consigo odiar alguém que nem conheço!!!
Como posso detestar uma buzina e a pessoa que a acionou sem necessidade, 
ter pavor de gente que destila grosseria espontaneamente, sem sequer saber quem é, 
criar aversão ao indivíduo após um comentário, uma atitude ridícula ou uma ação equivocada.
Não consigo imaginar como há gente que pense que se torna obrigatório estar pronto, 
sempre e em qualquer situação.
Sem erros, sem falhas...
Não compreendo como o luto dura pra sempre, 
como as pessoas não se encontram, 
que as coisas não se encaixam, 
que as ideias não vingam, 
que os planos morram antes mesmo de nascer.
Nem entendo a mágoa desmedida, que vira nó na garganta, 
caroço nas costas, insônia e fome.
E eu nem sei o que pensar.
Então, desisti da tarefa.
Liguei a TV, assisti sem preconceitos programas tolos.
Esqueci as conversas e as cobranças, as pessoas que se escondem e se iludem, as que não se resolvem e as que fingem se resolver.
Decidi que espero a noite chegar e o sono me levar com ele.
Sem preconceitos e sem a vergonha de assumir que não sei ás vezes como pensar, nem como agir.

terça-feira, 21 de abril de 2015

Cinderela

Assisti à Cinderela.
Embora tenha visto a versão dublada, o filme ainda encanta.
É o conto que embalou e embala o sonho de toda garota, mesmo que a ala feminista negue.
Sim! Todo mundo já quis ser ou se viu sendo ou se sentiu sendo Cinderela...
Encanta toda esta história da honestidade e simplicidade de uma camponesa e a possibilidade da revanche, mesmo de forma indireta, livrando a mocinha da condição submissa e transportando para a riqueza e a realeza.
Todo mundo se enquadra no conto: aquela que deseja o vestido "bafo", o sapato chiquérrimo, o penteado maravilhoso; aquela que deseja a vingança da madrasta e das irmãs más; aquela que espera pelo príncipe encantado, montado no cavalo branco; aquela que acredita no amor á primeira vista; aquela que sonha com o mundo rico da monarquia, cheio de nobreza e luxo.
Ainda dá pra se encaixar na história por outros motivos: conversar com ratos e passarinhos, fazer uso extra da abóbora além do Halloween, curtir a vida rústica no campo ou acreditar nas fadas madrinhas.
Bom, me identifico com todos os quesitos, exceto os ratos.
Acredito sim que a honestidade e a gentileza levam a algum lugar especial, embora nem sempre sabemos onde. 
Que deve sim haver alguma vantagem em ser bom, mesmo que o mundo tente provar o contrário a todo instante.
Creio ainda que ma existência de fadas madrinhas.
Estão disfarçadas. E são pessoas tão boas, mas tão boas, que fazem mágica na vida da gente!
E a varinha de condão abre portas, dá dicas, conselhos, puxões de orelhas, oferece o ombro, chama até pra briga, se necessário.
Acredito também que a família é a instituição mais sagrada que há e só ela é capaz de formar pessoas de caráter, honestas, corajosas e gentis. Como príncipes e princesas!
E que há pessoas que não se importam com títulos e riquezas, amam pelo amor e podem habitar este nosso universo inóspito, embora seja raro de ver.
Só acho triste que o mundo moderno e hi-tech tenha perdido tanto o encanto do cortejo, da gentileza, da boa vontade e da educação.
Talvez por isso o príncipe hoje seja sem graça,  deixando sempre a desejar, a abóbora continue sendo abóbora, a madrasta e as irmãs malvadas ganhem viagem para outros reinos, se livrando de todos os castigos e levando vantagem no final.
A verdade é que continuamos princesa: mas já não há mais o badalar do relógio informando quando acaba a mágica e o dia seguinte nos atropela madrugada a dentro. Os pés estão cansados, apertados por uma rotina obrigatória e vamos escondendo sob a fronha toda a ilusão de infância... sem sapatos de cristal.
Sobra só o sonho pra recordar. Ou o filme.


domingo, 29 de março de 2015

Sobrevoando

Assisto a reportagem e me assusto.
Não só pelos comentários feitos a respeito da frieza do co-piloto- tido como responsável pela queda do avião nessa semana- mas por uma infinitude de pensamentos que chegam sobrevoando minha mente neste instante.
Depois da leitura dos diálogos registrados na caixa preta do avião presume-se a culpa e o propósito do acidente pela falta de respostas do piloto e pelo silêncio na cabine, como a escuta da respiração calma e controlada.
Agora, revirando a vida desse infeliz, vários detalhes "desimportantes" começam a fazer sentido.
E chega-se á conclusão que um homem desequilibrado, depressivo, de relacionamentos conturbados, de atestados médicos e de afastamentos solicitados deveria ter sido retirado de suas funções.
Então me pergunto: quantas pessoas assim não cruzam com a gente todos os dias e por detalhes não importantes, ninguém repara.
Ninguém sequer questiona se existe equilíbrio emocional e saúde mental, além da capacitação técnica exigida para determinada função.
Se o piloto tem as horas de vôo necessárias, creio que seja cobrança esperada, mas se o sono é perfeito, se está descansado, se tem dívidas ou problemas familiares que tiram o prumo da vida, ninguém quer saber...
E aí, vou além: pilotos, seguranças, professores, médicos, dentistas, motoristas, taxistas... quantas pessoas fora de si perambulam pela vida e mudam a rota de tantas pessoas num momento de surto...
Atualmente, mal se tem tempo para os próprios problemas... e se interessar pelo problema alheio então?
Na primeira oportunidade desfaz-se o laço, afasta-se o problema, esquece-se o problemático.
Que continua perdido pelo mundo derrubando aviões, despedaçando pessoas, destruindo sonhos.
Talvez enxergar além seja uma capacidade restrita a algumas pessoas.
Mas vale o propósito do treinamento.
Sobrevoar as angústias de alguém pode mudar o curso de muita gente.


sábado, 28 de março de 2015

Procura-se

Procura-se alma.
Não precisa ser gêmea, 
nem irmã siamesa, 
nem bivitelina ou coisa do tipo.
Pode ser prima, 
parente distante, que não se vê há anos...
Mas precisa ser forte, 
que nem família, 
que gera laços que não se desfazem.
Procura-se alma bela.
Não de rosto, nem de corpo. 
Beleza de espírito.
Que pensa no todo, 
sem miséria nem ganância, 
que age bonito, 
que fala lindamente 
e escuta maravilhosamente bem.
Procura-se alma rica.
Em alegria e generosidade.  
Que transfira os cifrões de companhia sem dó.
Que compartilhe felicidade.
Procura-se alma breve.
No silêncio, na inquietude e nas preocupações.
Procura-se alma leve.
Livre de preconceitos e armadilhas,
Sem o peso dos julgamentos e das cobranças.
Procura-se alma fina.
Aquela do bom dia, 
do boa tarde,  
de com licença e por favor.
Que não eleva a voz e peça desculpas se preciso for.
Procura-se alma sincera.
Sem meias verdades, 
sem falsidades.
Procura-se alma encantada.
De cores e músicas e de fé.
Procura-se alma escondida.
Recompensa alta e fabulosa
para quem a encontrar.



Março sem fim



Mês de março é assim: sem fim!
Comprido,
sem feriados,
quase um ano inteiro dentro de 30 dias.
E por mais que o tempo voe,
o mês não passa.
Neste março sem fim vou recordando
do que já deixei atrás de mim:
uma piscina furada,
30 dias de preguiça,
atividade física zero,
dor nas costas feroz,
saudade algoz,
medo e insegurança,
pressa e correria,
pensamento e cansaço,
cansaço e pensamento,
atrasos.
Muito creme, pouca água.
Algum desperdício.
Uns fios brancos,
textos e aulas,
gente que partiu,
conhecidos e desconhecidos,
para o desconhecido.
Trocas e vendas, anjos.
Amizades da vida toda,
toda a vida perto.
Decisões e escolhas,
recomeços.
Ligações e problemas.
Poucos convites,
diversão escassa.
Previsão falha,
falta de coragem,
Sonolência,
Preocupação e aflição.
Orações e remédios.
Entregando março nas mãos de quem sabe bem como resolver.
Faltam infinitos 3 dias.

sábado, 28 de fevereiro de 2015

Sobre tudo e sobre nada

O calor me desidrata. Peço chuva e nada.
Sempre gostei de chuva, embora dias ensolarados me encantem...
Mas a sedução da chuva e das tempestades é infinitamente maior.
Defino como arrebatamento, se posso assim dizer.
E como não vem mesmo (nem a chuva, nem o temporal), ando sendo consumida pelo calor e pelos dias corridos.
Até porque se tem ano rápido chama este aqui, 2015.
A segunda-feira chega anunciando a quarta que engole a sexta e pluft! 
Novo fim de semana rolando, indo embora mais rápido ainda que a semana inteira... Revoltante!
Mais revolta ainda tenho dos aumentos: os preços dos alimentos me infartam toda semana, conta de energia deixando os olhos no escuro, gasolina obrigando andar a pé ou de bike. Aumento também do ódio em relação aos políticos de merda que governam a nação e da massa manipulável que vive feliz na pobreza, preferindo ganhar o pouco que trabalhar para alcançar por esforço próprio algo maior.
E por falar em ódio, como é possível odiar alguém que não conheço?
Pois tenho tido lampejos de ódio fulminante! 
Odeio o moço que finge consertar o elevador, que começou o ano dando defeito e desde então nunca mais quis funcionar direito...
Odeio ter que fazer atividade física obrigada, subindo as escadas do prédio até em casa. 
Quero me exercitar quando der vontade e se ela vier. E tá bom assim.
Odeio também a fumaça fedorenta que aparece toda a noite catingando minha casa e os motoristas sem educação que passam correndo na ruela da minha casa, ultrapassam pela direita, não cedem a vez quando alguém dá a seta e não dão a preferência a quem está na rotatória. Não sei a cara de nenhum deles. Mas despertaram em mim um ódio insano.
E por falar em insanidade, optei por mudanças. 
Não, não vou mudar de casa, nem de cidade. 
Nem toda a mudança precisa ser geográfica.
Mudança de estilo de vida, escolhendo mais qualidade. Escolhi trabalhar menos e ser mais feliz. Mas com as contas subindo, a inflação aumentando, com menos grana pra pagar as contas e trabalhando menos, talvez a felicidade custe um pouco a chegar ou venha em pequenas prestações.
E para finalizar, confesso: sou eu que ando consumindo a água do planeta.
Fazendo natação 3 vezes na semana, com o cabelo do tamanho do da sereia, duro de cloro, ando morando no banheiro  com o chuveiro ligado para retirar o quilo de creme que uso pra transformar o arame farpado em cabelo de gente novo...
Pensando em novo corte ou novos cortes...


domingo, 1 de fevereiro de 2015

Coragem

Preciso de coragem.
Pode ser empaçocada num comprimido, diluída em uma bebida qualquer ou esfarelada na comida, como um temperinho.
Coragem dessas que fazem sair de casa, sem rumo, de mochila nas costas, sem destino nem direção.
Que seja capaz de fazer não só a troca de emprego, mas a troca de ideias, a permuta de planos.
Preciso de coragem em blocos, como tijolos, que edifiquem a parede do meu quarto, onde guardo meus sonhos.
Coragem de pegar a estrada desconhecida, de fazer novas amizades, ousar o caminho nunca antes visitado.
Preciso de coragem para amarrar o tédio dentro do armário e retirar de lá uma sacola de sentimentos velhos que já não servem e precisam ser descartados.
Coragem de dizer na cara o que se pensa em segredo, de apontar o dedo mesmo correndo o risco de ficar sem ele.
Coragem de dar tchau sem medo.
De dizer que deu tudo errado e que é assim mesmo algumas vezes... Paciência.
Preciso de coragem para trocar de cor, de forma, de linguagem.
Para me lançar nas águas profundas, sem me afogar.
Coragem de me desvendar para o mundo sem o receio da rejeição.
De cantar alto sem medo de desafinar, de apostar na nota alta sem deixar a voz falhar.
Quero a coragem dos novos sabores, do novo corpo, de outros pesos.
Coragem para dizer NÂO e SIM quando bem entender.
De chorar em público se quiser, de sair mais cedo se der vontade, de não sair.
Coragem para dizer que a preguiça me amarra e amordaça e sucumbir é minha última e derradeira escolha, muitas vezes.
Quero coragem do sorvete solitário, da praia na minha companhia, do passeio comigo mesma, da viagem com meu eu.
A coragem de não fazer contas, de fechar os olhos e pular no escuro, sem saber se existe rede, muro ou um braço para me segurar.
Preciso de coragem. Mas hoje já está tarde.
Quem sabe amanhã, se a chuva vier e lavar a poeira que o calor deixou?
Ou então, se no fim do dia, a maresia trouxer de volta o ânimo que me abandonou.
Quero a coragem do cão que ladra, mas não foge.
Que enfrenta os desafios sem reclamar. 
Coragem de ser tolo, de ser bobo, se assim precisar.
Preciso de coragem: unidades, dúzias ou pencas.
Se alguém souber quem venda, favor avisar.



domingo, 25 de janeiro de 2015

Decisões

Qual é o passo?
Qual é o espaço?
Se falo, calo, olho, peço, não sei.
Aguardo a resposta da vida, um aceno Divino.
Escolhi: cordial e racionalmente.
Mesmo assim, não sei se faço boa escolha.
Qual é a resposta?
Qual será o resultado?
Tentando driblar o calor,
a falta d'água no fim da tarde de hoje,
terminando projetos,
distraindo a mente com as mãos,
o pensamento com leitura,
a visão com raciocínio.
Ainda não sei o desfecho.
Faz contas, calcula gastos,
transfere e muda,
planeja e anota...
Quanta angústia enlatada!
Como é difícil decidir!


domingo, 11 de janeiro de 2015

Desistência

Eu desisti.
De tentar, 
de querer, 
de acreditar,
de esperar,
de achar bom,
de achar ruim, 
de achar mesmo,
ou de perder, 
de buscar,
de sentir, 
de reaver,
de anunciar,
de explicar,
de lutar,
de agir,
de brincar,
de zangar.
Agora, tanto faz, tanto fez.
Se der certo, beleza,
Se não der, paciência.
Não troco de time,
Não mudo de escolha,
Apenas sento e aguardo.
Cochilo no meio tempo,
olho o celular, me engano.
Sem choro nem vela,
Sem mágoa ou magia.
Não discuto, não reajo.
Não apoio, não esbravejo.
Não faço questão.
Respeito minha desistência.
Um tipo de resiliência? Talvez.
Desisti de entender 
esta orgia, a sangria, 
a mania insana
dos dias atuais.


domingo, 4 de janeiro de 2015

Pensamento de um domingo

Feliz é aquele que já encontrou a outra metade da laranja, a tampa da panela, o chinelo velho pro pé cansado!
Fortuitamente ou não, por obra do acaso ou do destino, por muito empenho e esforço ou por nada disso, após este encontro vai viver com a (falsa) certeza de ter achado sua alma gêmea.
Feliz é aquele que não precisa de mais nada: nem da procura, nem do encontro.
Já se encontra saciado da presença do outro, sendo ele a parte que lhe completa (ou não).
Digo isso, pois, com tanta gente espalhada pelo mundo, nascendo e morrendo, mudando de opção sexual, desistindo, separando e reatando, como saber mesmo se a metade da laranja não é um pedaço de kiwi?
Como saber se o amor de infância, cultivado toda a vida não foi apenas a falta de oportunidade de ter cruzado a rua, mudado de escola ou de bairro e ter conhecido gente nova e mais interessante?
E se a alma gêmea ainda não tiver nascido? Virá ao mundo ano que vem, século que vem?
E se a tampa da panela já foi para outro plano astral?
Já pensou se a metade da laranja está casado, com a prole completa, feliz da vida por acreditar que a metade da sua laranja (a que casou com ele) lhe transforma em fruta inteira?
Ou então, trocou de time, desistiu do amor, ou simplesmente nem acredita nessa história romântica de par perfeito?
Por isso digo: feliz é aquele que acha que encontrou e vive a certeza (incerta) de ter pra si o amor completo.
Ah, porque diante de amores que viram tragédias, de juras eternas que dissipam ao vento, de sorrisos que se transformam em lágrimas, de traições, de separações conflituosas, da falta de bom senso e de limites, do ciúmes desregrado, me questiono se há mesmo.
Feliz é aquele que acredita no amor perfeito, no par ideal, pois nem imagina a possibilidade dele não o ser.
Sem a capacidade de vislumbrar outra possibilidade na cidade ao lado, num país distante ou mesmo do outro lado da rua.
Pois não sei se há mesmo completude.
Há gente peça única, sem encaixe, nem padrão.
Ou tem várias possibilidades: uma alma gêmea  para este mês, a metade da laranja pro mês que vem. Há um mundo de opções e opiniões.
Como saber?
Feliz é aquele que se contenta com seu par ideal, mesmo não sendo o idealizado e ignora o fato de não cumprir os pré-requisitos, não ser o descanso pro pé cansado, não ser nem mesmo laranja.
A ignorância protege e livra de muitos males.
Feliz mesmo é o ignorante.