Poderia ser qualquer pessoa?
Não sei explicar.
Poderia ter ficado em pé,
sem sentar.
Ou ter sentado lá no fundo,
encostada num cano de apoio qualquer.
Poderia ter esperado um outro ônibus,
uma outra linha,
feito um outro trajeto.
Poderia ter perdido a hora,
se atrasado e ter perdido o coletivo.
Poderia ter acordado indisposta,
não ter saído de casa.
Poderia ter encontrado um conhecido, um amigo,
ter prolongado conversa e ter chegado em casa tarde, bem mais tarde.
Poderia não ter ido trabalhar.
Poderia ter deixado o assento preferencial vazio.
Poderia não ter caído,
não ter desequilibrado.
Poderia a curva ter sido mais suave,
a velocidade mais branda.
Poderia a porta estar travada,
não ter aberto pelo impacto ou não estar com defeito.
Poderia ter sido jogada para longe pelo efeito centrífugo.
Poderia ter escapado da queda,
do impacto,da porta e da morte.
E de uma forma torpe a vida se esvai:
atropelada por um ônibus,
numa queda besta e improvável,
impossível de se imaginar.
E então, os sonhos agora estão destruídos no chão,
esmagados, sem fôlego,
tingindo de vermelho o asfalto,
falando alto para todo mundo ouvir:
poderia ser eu ou você.
Poderia ser qualquer um?
E a vida é assim, de repente nada importa mais.
E o pensamento coletivo vigora: o amanhã é hoje.
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