quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

O filho do meio


O filho do meio é uma lacuna.
È o intervalo entre o primogênito e o caçula que nunca será completamente preenchido...
O filho do meio começa como uma gestação cujo mistério já foi desvendado; as surpresas já são conhecidas. E se elas, porventura existirem, não serão assim tão boas...
Ele aparece pela pressa de aumentar a prole ou pelo descuido em se evitá-la, na maioria das vezes, e, talvez isso, justifique a dificuldade que encontra em buscar seu espaço. Sempre muito limitado.
O filho do meio não carrega as expectativas do mais velho, tampouco a doçura da menor idade do mais novo.
Não é grande o suficiente nem pequeno o suficiente. Está sempre alí, no meio do caminho.
Segue na imitação do maior e na fuga do menor, sem conseguir com sucesso nenhuma das façanhas...
Tenta ser mais esperto que um, mais inteligente que o outro, mais belo que os outros dois, 
mais rebelde que a família inteira. De alguma forma ele precisa sobressair! 
Passar a vida inteira espremido entre as possibilidades que não se tem e a pessoa que não se é, é muito cruel...
Para ele são, muitas vezes, sobras: da atenção que não foi usada pelo mais velho e que sobrou do mais novo; a roupa que ficou pequena no irmão maior e ficou grande no irmão menor; o brinquedo que ninguém quis: infantil demais pro mais velho e desenvolto demais pro mais novo; A comida que ninguém gostou; O sapato que coube em ninguém; a festa que ninguém quis.
Ele perde do mais velho no jogo, nas brigas e não pode ganhar do mais novo, porque alguém vai achar ruim...
Sempre acaba dividindo o quarto com alguém: com o irmão maior ou menor. Não tem jeito!
Leva, inadvertidamente, a culpa de várias coisas que não cometeu: vítima da esperteza do mais velho, que escapole  magistralmente e refém  da incapacidade de deixar o irmão caçula respoder por algo que não cometeu ou fez sem querer querendo...
Ele ainda cuida do irmão mais novo, porque o mais velho não está nem um pouco a fim dessa função.
A escola é a que os outros irmãos estudam; sem chance de escolha.
Os amigos acabam sendo os amigos dos irmãos, na maioria das vezes. Cadê o espaço para ter os próprios? Não cabe.
Consegue-se um pouco mais de individualidade fora de casa, na escola, ou qualquer outro lugar onde possa assumir seus gostos e preferências, sem restrições, julgamentos e intervenções. Mas mesmo assim, não se consegue muito êxito nesta dupla jornada: dentro de casa de um jeito, fora de casa, de outro.
Precisa ser tão inteligente e esforçado quanto o mais velho e garantir que o mais novo não o desbancará nesta tarefa. Difícil... Mas o pior mesmo é suportar as comparações...
Precisa desenvolver habilidades de elo de ligação, ponto de equilíbrio, algo morno que acalme os ânimos, sem ocupar a cadeira de chato!
Acaba ainda assumindo afinidade ímpar com os irmãos e o resto da família, acredito que numa forma desvairada de ser aceito. Sumete-se aos desmandos de um, aos ataques do outro, aos pedidos chorosos de mais alguém e assim vai. Seguindo sempre a vivência da vida alheia, participando ativamente e  resolvendo  problemas  que não lhe pertencem. Vivendo a culpa de não ser o que queria ser, tampouco aquilo que gostariam que ele fosse...
Solução? Não sei se existe para o pobre filho do meio... Condenado a viver amassado.Terapia? Livros de auto-ajuda?Talvez se os pais tivessem apenas dois filhos, eximindo de vez o espaço virtual que realmente nunca existiu e que por isso, cabe ninguém.

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