sábado, 2 de outubro de 2010

Vilarejo

Sabe aquela música que diz de um vilarejo, "onde areja um vento bom"?
Ele existe. Já morei lá. E ainda moro de vez em quando.
E é verdade quando dizem que " da varanda, quem descansa, vê o horizonte"...
E também se confirma o fato de que " lá o vento espera, lá é primavera, portas e janelas ficam sempre abertas pra sorte entrar.."
Lembro-me de quando chegava o inverno e o vento frio nos incomodava um pouco.
Não conseguíamos mais deixar as fanelas fechadas.
Elas estavam abertas por tanto tempo que não permaneciam mais em outra posição.
Quando estou lá, parece que estou fora do mundo.
È minha redoma de vidro: permaneço intocável, inatingível.
Não tenho pressa pra acordar, tampouco prazo pra dormir.
Não tem frio nem calor que me perturbem.
Sou filha para sempre, numa família que faz o convívio ser sempre bom.
È bom passear a pé pela cidade, rever antigas amizades, conhecidos de longa data.
Tudo tem horário definido , como havia quando éramos crianças.
Um cheiro bom de almoço vindo da cozinha.
Um barulho de panelas e louças e torneira e vozes que convidam a participação.
Não há problema que me atinja, nem pesadelo que me assombre quando estou lá.
Às vezes, faço o caminho de volta porque é necessário buscar forças.
Como se as raízes que me sustentassem, estivessem ainda lá fincadas.
E para me manter inteira eu tivesse que reencontrar minha essência que por lá anda perdida.
Não tem saudade, nem trabalho, nem dívidas, nem prazos que me incomodem.
O sofá é grande e sempre cabe todo mundo.
Há espaço suficiente para abrigar quem quer que venha.
Posso ver a rua, o movimento sem sair de casa.
Posso cantar e ovir o eco reverberando minha voz como numa caverna.
Posso esperar o moço do picolé passar na rua em frente para abordá-lo com fazíamos antes.
"Lá o mundo tem razão". È " terra de heróis". "Paraíso se mudou para lá".
Não sei um dia conseguirei reproduzir o encantamento que existe.
Nem sei se ousaria tentar.
Tudo é tão próprio de lá, tão peculiar, que penso, ás vezes, ser inigualável.
As pessoas que compõem a cena, essas, sem dúvida alguma, são insubstituíveis.
Ficará apenas na memória, na lembrança, quando um dia não houver mais.

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