quarta-feira, 9 de junho de 2010

Herança

Recebi uma herança.
Está nos traços do meu rosto.
Está no escuro do meu olho.
Está no meu modo de falar.
Traço genético imperfeito: é meu jeito de dizer e de pensar.
Não pude determinar qual meu tamanho.
Mas posso definir a dimensão do meu sonho.
Não pude escolher o sorriso que tenho.
Apenas determino onde e como vou sorrir.
Se de dentro pra fora ou de fora pra dentro.
Não optei pela cor que o sol queima
Nem pelas efélides que mancham meu nariz.
Mas escolho aonde ele aponta.
E faço as contas de como ser feliz mesmo assim.
Apenas aceitei a herança.
De não saber onde se pisa.
De ver de perto as pessoas
E me divertir com elas.
Escolhi a herança que pretendo deixar:
Um cheiro de chuva caindo na terra seca,
Uma saudade, uma suspeita
Um abraço forte e um aceno fraco
Uma gargalhada que se ouve longe
Um enigma pra alguém advinhar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário