quarta-feira, 24 de abril de 2013

Cada um

Cada um ocupa na vida o espaço que se permite ocupar.
Há quem precise de pouco- ou queira mesmo o pouco do espaço- grão de areia, cisco no olho, cabeça de alfinete. Um constrói, outro incomoda e o outro ainda marca a costura. Cada qual com sua função e mínimo espaço.
Há quem precise de um pouco mais de espaço: grão de arroz, caroço de feijão, milho de pipoca. Pequenos, mas saciam, cada qual a seu modo.
Há o espaço do parafuso, do prego, da sustentação.
O espaço da bolinha de algodão, que se expande e se encolhe de acordo com a necessidade.
Espaço de um porta-retrato na estante, de um livro no armário.
Há quem precise do espaço de uma casa, inteira, para ocupar.
Há outros que bastam uma rede, uma cadeira de balanço para descansar.
Há quem precise do espaço do outro: um cantinho de sofá, um ladinho de berço, um pedacinho da cama.
Espaço de uma garfada, de uma "colher-de-chá": um retirando e outro oferecendo, assim, de talher.
Há quem tenha necessidade de espaço de mar: uma imensidão.
Outros, espaço de ar: nos pulmões, na janela, uma respiração que seja.
Espaço de um abraço, de uma saudade, de uma companhia.
Espaço de uma cantiga, de uma história boa, de uma viagem prometida.
Há quem precise do espaço de tempo: minutos, horas, dias, meses...
Há quem precise do espaço de anos: para esquecer, vencer, suportar.
Cada um ocupa o espaço que precisa ou que se deixa precisar. 
Na vida de um, de dois, de dez. Na vida de ninguém.
No mundo, no fundo da gaveta, numa lembrança boa, numa infância querida, esquecida, espacialmente e especialmente no tempo e no espaço.
Há quem viva no espaço e de lá saia de vez em quando, ou quase nunca, pois a dimensão de cá é tão apertada, que não vale a pena se deslocar...


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