domingo, 31 de março de 2013

O filme que assisto

Toda vez que retorno á minha casa após plantões em uma localidade mais afastada, que visito semanalmente, fico refletindo sobre a realidade dura de grande parte da população.
Acesso a atendimento de saúde eficiente é luxo; educação e boas condições de moradia é presente para poucas pessoas.
A maioria sobrevive sem, pelo menos, alguma dessas condições básicas.
O que se consegue ter, se torna regalia.
É muito triste enxergar no outro o resultado que a falta faz.
Tanta gente jovem que não consegue entender uma frase escrita ou compreender uma ordem ou uma orientação.
Tanta gente que lê e não compreende, que fala, mas não consegue se fazer entender pelo outro.
Falta higiene, esclarecimento, comunicação e entendimentos tão simples que poderiam modificar completamente a forma de viver de uma família...
Gente de sorrisos marcados pela falta de oportunidades, de rostos marcados pela tristeza da falta de escolhas.
E vejo a perpetuação de cada história sofrida estampada em cada criança que atendo.
Em silêncio, depois, rezo por cada uma delas, para que os caminhos delas sejam outros, bem melhores.
Que a mudança seja presente nos destinos, para que façam a própria vida diferente, que a herança recebida seja transformada.
Porque se acostumar com a pobreza e falta de perspectivas é determinar o próprio fim e, por conseguinte, o fim dos seus.
Acredito então que faço parte de uma pequena parcela- e por isso- exceção, extremamente sortuda e abençoada.
Educação sempre presente, buscada a todo instante, usada a todo momento- a grande modificadora de vidas.
Faço parte do sistema de saúde- sou a parte saudável dele- e posso sim fazer a diferença na vida daqueles que nada podem em relação á sua doença ou a si mesmos.
Minha casa é meu lar, sem toque de recolher, sem prisões, nem reféns.
Faço parte da minoria, infelizmente. E reconheço a grandeza de poder usufruir deste benefício.
Porque assisto com mágoa tanta gente não poder pagar o remédio de um filho, depender exclusivamente do sistema assistencialista do Governo, a falta de dinheiro para o transporte de volta para casa e a falta de esperanças de tudo isso melhorar.
E vão seguindo... pondo filhos no mundo sem condições de criá-los, repetindo a história dia a pós dia, sempre igual. E eu, assistindo a este filme que é  um drama diário...


Nenhum comentário:

Postar um comentário