segunda-feira, 25 de março de 2013

Desembaraço. Osso.



Um ano: trezentos e sessenta e cinco dias e seis horas. A cada hora, sessenta minutos. Cada minuto com seus sessenta segundos. Cada segundo com seus mil milésimos, e neles, seus cem centésimos, décimos, segundos. Por que tudo não se divide por mil, por cem ou por dez pra facilitar as contas de cabeça? Um centésimo de hora não são dez minutos. São seis. Um décimo de dia não são dez horas, apesar de ser dez por cento de um dia. São dois, vírgula, quatro e infinitos zeros de hora. Hora, ora, passa rápido demais. Tem horas, que ora, hora não vem. Passatempo que não passa hora. Passam horas que passatempo não passa. Que saco. Velocidade média, média de velocidade. Tudo em mim se dificulta quando se relaciona ao tempo. Talvez não só a mim.
Eu não consigo internalizar o tempo. Nem nessa racionalidade matemática lógica e compulsoriamente virgulada e decimada. Por si só – e talvez propositada – já complicada. Me perco no calendário, no diário. Me desenquadro na agenda marcada, sublinhada e precisa. Não aguento mais uma segunda-feira, um segundo tempo, prorrogação. Não vejo com paciência o passado, nem com olhos de agrado o que há de vir. Quero mesmo, ou pelo menos queria, um agora mais presente nesse mesmo tempo corrente. Me convencer desse incomodo tic-tac ritmando, disfarçadamente devagar. Um meu dia-a-dia mais contente, alegria recorrente, sorriso na cara, tranquilidade sem essa ansiedade de ver o tempo passar. Queria mais pulso do que relógio de pulso. Impulso pra cima, no passo, no degrau, no próximo estágio, sem despencar. Queria menos essa chatice de me notar imprensado, intenso vazio.
Tempo de parar. Queria mesmo uma reflexão menos repetida, uma angústia diferente, quem sabe talvez, uma que esteve sempre ausente. Pare o tempo - meu pedido. O que penso é que você não devia acontecer enquanto paro pra pensar. Não devia correr enquanto não saio do lugar. Só devia existir quando eu me reencontrar. Ou mesmo nem assim. Nunca vou te compreender. E se isso acontecer, não vou te aceitar. Sou assim.
(O texto acima foi escrito por uma pessoa incrivelmente perspicaz com uma criatividade imensa. Senti-me no dever de publicar seu texto aqui, Bruno Pazini.)

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