quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Hoje é dia de saudade

Hoje acordei com saudade...
Sentido mais vago e completo possível que esta palavra pode ter...
Lembranças de momentos queridos,
de sensações que se perderam no tempo.
Saudade de acordar mais tarde numa manhã ensolarada de sábado
sentindo o cheiro de terra molhada pelo meu pai regando as plantas do quintal...
Saudade do bolinho de chuva nas tardes nubladas, que não me deixavam sair para brincar no quintal...
Saudade da viagem de ônibus para a escola e da volta animada temperada de fome e cansaço...
Saudade do banco do pátio do Elelfante Branco nos intervalos das aulas e das idas sem destino ao centro da cidade procurando por nada...
Saudade das companheiras de quarto que animavam a casa, mesmo quando o humor teimava em não ser bom.
Saudade das brincadeiras no quintal de casa e das tardes de violão no quarto, depois do almoço de domingo...
Saudade de não ter planos e sim, sonhos.
Saudade de não ter contas e sim, contos.
Saudade de gostar sem temores, sem cobranças.
Saudade de odiar sem culpa, sem remorso.
Saudade dos amigos de longe, que não vejo há tempos.
Saudade dos amigos de perto, que a compulsão por trabalho e prazos associado ao cansaço infinito faz com que vivam tão distantes...
Saudade do entusiasmo dos projetos, das expectativas das férias, dos desenhos de roupas, das trocas de modelos nas bonecas...
Da diversão nas compras no mercado, das conversas com os pregadores e lápis de cor... (sim, eu conversava com eles...)
Saudade do passeio de bicicleta, dos dias inteiros na praia, torrando sob o sol ( daí entende-se o motivo das sardas...)
Saudade da soneca da tarde com meu pai, das brincadeiras na sala com meu irmão,
dos desenhos animados pela manhã, dos desfiles na escola, das quadrilhas e danças de festejos,
do coral de crianças, dos shows de calouros, de pegar goiaba na árvore, de comer manga na varanda, de tomar banho de mangueira e fazer do tanque uma piscina.
Saudade do tempo que dinheiro não existia para mim e que tudo era simples e singelo.
Saudade de quando não sabia o que era pobreza, porque vivia igualmente com todos, sem sequer imaginar a diferença social enorme que existia.
Saudade de não saber o que fazer, de não ter o que fazer e decidir tomar sorvete!
Saudade dos desejos de retorno: no tempo, nos atos,nos pensamentos, nos momentos, na vida.
Saudade da minha fé de criança: pura e inquestionada.
Saudade da minha obstinação, que anda escondida em algum lugar por aí...
Enfim... Hoje é dia de saudade.
Porque as obrigações e chateações pulam sobre mim e me remetem a um tempo em que não se vivia esse desconforto.
Por isso, lembro Casimiro de Abreu que tão certamente compreendeu o sentido da palavra saudade em seus verso tão conhecidos:
"Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
(...)
Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minhã irmã!
(...)
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo.
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!"

2 comentários:

  1. Amiga, vc é demais!!! Saudades de vc!!

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  2. Tenho orgulho de saber que fiz parte das idas ao centro em busca de nada... Penso nisso até hoje com muitas saudades... Bjos

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