domingo, 25 de setembro de 2016

"Como foram minhas férias"

Aqui estou eu, no computador, escrevendo e vendo TV, sem qualquer preocupação com a segunda-feira, que é amanhã.
Será meu último dia de férias. Última segunda-feira de folga, antes de voltar a rotina.
Recordo então, como foi esquisita a sensação da primeira segunda-feira livre: parecia que havia esquecido algum compromisso importante, que estava faltando a alguma reunião, aula, consulta, enfim... Demorei a perceber que estava num ritmo tão automático, que a aceleração não tinha sido percebida no cotidiano.
Vi-me ansiosa, insone, pensamentos amontoados, imaginando milhares de possibilidades de acontecimentos que poderiam surgir na minha curta ausência e que me deixaria preocupada, com muitas listas de afazeres que deveriam ser totalizados até o fim da folga. Custei a entender que estava tudo errado, tudo mesmo!
Que férias não tem horário, que nem calendário deveria ter! Ansiedade não faz parte de mim e que jamais deveria estar presente no meu recesso... Justamente nele!
Num insight, recobrei os sentidos e no voo madrugada a dentro, coloquei as ideias em ordem: sem pressa de chegar, sem reclamações, sem queixas, sem preocupações...
Ainda no aeroporto, na conexão, a noticia triste da morte trágica do ator por afogamento e a comoção geral...
Putz! Acende a lamparina na cabeça da pessoa: realmente está tudo errado! Não posso ficar esperando as férias para desacelerar, pois ela pode nem chegar!
Posso não estar mais presente neste plano físico de um minuto para outro e esse ritmo acelerado de compromissos emendados, sem momento de pausa, diversão ou relaxamento vai me levar a um afogamento em vida!
Lembrei que não sou obrigada a fazer muitas das coisas que não curto em detrimento de outras que adoraria fazer... mais um erro!
Que preciso de mini férias mais vezes, mais tardes a toa, mais sonecas sem motivo, mais música na vida e menos desculpas pra inventar Não.
Existe um mundo de destinos que preciso conhecer e não posso me afogar de trabalho, pois posso não chegar a ir por isso...
Tem um tanto de receitas que gostaria de testar, de pratos que gostaria de experimentar e que não vou conseguir descobrir o sabor, se não me der um tempo livre. É difícil avançar contra si mesmo. Mas é necessário. Se é.
Tenho tentado me libertar de muitos medos que me aprisionam e me fazem covarde. Ainda vou fazer sozinha programas que deixo de fazer por falta de companhia, vou viajar só comigo, ter menos medo de (a)mar, de bicho, até de gente...
Fiquei aborrecida com um tanto de lixo espalhado em tantas praias lindas que passei... Depois, com a notícia do racionamento de água, assim que voltei pra casa, confirmei a ideia de que somos monstros mesmos, destruidores de todos os recursos, e que convém ainda, neste momento, ter sim medo de gente.
Passei a rezar pela chuva - que escuto agora o barulhinho bom pela janela- a rezar por misericórdia da gente, por um pouco mais de paciência e de bom senso entre os povos. ( Ratifico: Está tudo errado!)
Resolvi que neste retorno quero dançar mais, cantar mais, me alimentar melhor e voltar a atividade física regular. Quero que o dia de hoje seja bom, porque o de amanhã eu nem sei se vai haver.
Não quero ser hedonista, me divertir sem consequência, sem pensar no futuro. Mas quero pensar, que, se não houvesse futuro, por agora, estaria tudo bem e feliz.
Nesta minha redação de férias tem ilustração de pôr do sol no Rio Grande, praias lindas, figuras engraçadas, artesanato, sol, calor, livro, TV fora de hora, mãe, pai, irmãos e sobrinhos, camarão, caipirinha, roupa nova, torresmo no boteco, sorvete na casquinha, caminhada no parque e termina com chuva. Quer bênção maior?
Só gratidão, gente. Nada mais.



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