sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Vizinhança

Escolhe-se a casa, mas não a vizinhança.
Avalia-se o imóvel, a construção, o tempo de vida do prédio,
o acabamento, se há vazamentos, poeira, mofo, umidade, sol da tarde...
Mas, e os vizinhos?
Parte esquecida da investigação, porém não menos importante.
Eles farão parte de nossas vidas para o bem ou para o mal.
E não vale empregar o velho "os incomodados que se mudem",
porque ninguém - nem você nem eles- vão trocar de lugar.
Sobre a minha vizinhança, o que posso tecer, sem tornar comprometedor?
O fato de o cumprimento matinal ( e o vespertino, e o noturno... e por aí vai...),
ser totalmente dispensável.
È engraçado perceber que se é invisível na garagem, no elevador
ou então ouvir reverberando a própria voz na procura vã da resposta ao cumprimento
( o famoso "vácuo).
Tem gente que pensa que é celebridade; que a zeladora é empregada particular
e que o restante do prédio é colunista de revista de fofoca...
Há quem pense que é um clube: festa, som alto e conversa fiada até altas horas...
Tem quem passe e feche o portão na sua frente: são aqueles que deixam a educação em casa quando saem ...
Há os vizinhos que tornam públicas as brigas domésticas.
Não fazem questão alguma da privacidade, já que tudo é dito em bom som
para que todo o andar escute.
Tem ainda aquele que suja o chão com o chorume do lixo e deixa o rastro agradável que dura até o dia seguinte, quando a moça da limpeza passar...
Outro dia, o vizinho do corredor oposto tentou entrar em casa de madrugada,
maltratando a pobre da porta com chutes.
Se ele esqueceu a chave, o bom senso ele perdeu.
Pela chaminé seria mais fácil entrar que esmurrando a madeira...
Outro, passeia com o cão estranho ( não menos que o dono),
exalando odor peculiar pelo corredor e elevador...
Em dias de chuva então, fica muito difícil respirar naquele caixote cheirando a cachorro...
Ah, o elevador!
Objeto de extrema grandeza que nos faz lembrar que sempre estaremos acompanhados.
È a sala do silêncio e do mal-estar geral.
Segundos de descida e subida que mais parecem horas de escaladas...
È porque frente a frente, tudo fica mais aterrorizante.
Inclusive a vizinhança.

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