quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Prosa




Sempre surgia alguém.
Sem hora marcada, na maioria das vezes,
sem um assunto específico,
sem um motivo nobre,
sem uma mobilização urgente.
Sempre aparecia alguém: um vizinho, um parente, um conhecido ou até um desconhecido mesmo.
Era um café, um lanche, uma goiaba no pé, um telefonema, um favor, uma xícara de açúcar, um tantinho de trigo.
Sempre aparecia alguém para a prosa.
Conversa desinteressada, mas não desinteressante.
Presença inesperada, mas nem por isso desconcertante.
Gente humilde, assuntos triviais, nada de mais.
Mas sempre surgia alguém para uma prosa,
assim, face a face, sentado ao lado, na varanda, na calçada.
Podia ser assunto de ontem, de anteontem ou de amanhã.
Conversinha, confissões, mas ditas, mal ou bem ditas, pessoalmente.
Sempre alguém com um conto, uma piada, um favor, um pedido.
Sempre um motivo de prosa sem motivo.
Hoje eu quis uma prosa assim: de perto.
Mas o mais próximo que havia era o celular ou o telefone fixo, o computador e a televisão.
Quis conversa á toa, mas a ocupação me calou, o trabalho falou por mim e eu sucumbi ao cansaço, á preguiça de ser eu.
Hoje eu quis verso e prosa ao vivo e á cores.
Sem aparatos, sem delongas, sem nada marcado.
Conversa boa, sem preocupar com o tempo ou espaço,
com o preço da ligação ou a carga da bateria.
Só um dedo de prosa, como antes.
Saudade incrível de um tempo que se foi...

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